Leandro Vasconcelos, Maputo
A tolerância dos
governos de Moçambique ao longo de anos foi a causa da atual situação de
instabilidade ameaçadora da paz. Onde se viu em acordos de paz que um país pode
ter dois exércitos? Creio que nunca se viu tal anormalidade.
Onde se viu um
partido com assento no Parlamento possuir o seu exército privado em constante
chantagem com o exército constitucional do país? Só em Moçambique tal tem vindo
a ser possível. Só a tolerância dos governos moçambicanos e das próprias forças
armadas possibilitaram que assim venha acontecendo.
O chefe desse exército
privado, da Renamo – o partido com assento no Parlamento – Dhlakama tem sistemáticamente
ameaçado a paz e a estabilidade ao sentir-se frustrado por não vencer eleições
a que o seu partido concorre sem conseguir obter a confiança das populações
eleitoras. As diferenças em números de votos são abismais relativamente ao
partido vencedor, a Frelimo. Por isso Dhlakama tem mantido o seu exército
marginal privado e com ameaças à paz tem conseguido algumas cedências por parte
dos governos. Também em governos de Guebuza, o atual Presidente da República. A
tolerância tem sido demais para com o senhor de uma guerra há muito perdida,
Dhlakama, chefe de um partido político que o deve expulsar em prol da paz e do
desenvolvimento do país e da democracia moçambicana.
Foi agora, ontem,
que o governo da República de Moçambique se lembrou finalmente que um país não
pode ter dois exércitos e que nem sequer a Constituição tal permite. Tarde e a
más horas assim o disse o PR Armando Guebuza na sua intervenção em Sofala –
província que está a visitar. Mais vale tarde que nunca.
O exército
moçambicano finalmente recebeu ordens para desativar o exército privado de
Dhlakama, da Renamo. A base de Santungira, Gorongosa, foi ocupada. O resultado
foi positivo e não se registaram mortes nem feridos. Dhlakama pôs-se em fuga em
direção à serra de Gorongosa. O porta-voz da Renamo afirma que o seu chefe está
de “boa saúde”. Também não se pensa que a intenção do exército moçambicano
fosse assassinar Dhlakama. Se alguma vez o quisesse fazer já aquele “senhor da
guerra” não estaria no mundo dos vivos, nem Moçambique andaria a ser vítima das
suas chantagens durante tantos anos.
Ontem foi posto o
ponto final na tolerância do governo moçambicano acerca da existência de dois
exércitos no país. A decisão, tardia, foi a melhor no interesse do país e das
populações. Importa agora consolidar a paz de uma vez por todas, apesar do
caminho até essa consolidação de facto poder vir a ser penoso. Ações de
banditismo ocorrerão. Ontem e hoje já ocorreram, nos meses transatos também –
principalmente no centro do país. Mas se essa é fatura que os moçambicanos têm
de pagar para atingir definitivamente a paz valerá o sacrificio.
BANDIDOS ARMADOS
ASSALTAM
Numa fugaz entrevista
a Dhlakama, ontem, uma rádio local conseguiu ouvir suas declarações de que o
seu “exército” estava fora do seu controle e desbaratado em grupos que agiam
por iniciativa própria. Quis com isto dizer, Dhlakama, que nada tinha que ver
de sua responsabilidade com as ações do seu “exército”. Nem que houvesse quem
acredite nestas palavras de Dhlakama. É evidente que um “exército” desbaratado,
sem organização, sem disciplina, sem recursos básicos só tem duas saídas possíveis:
largar as armas ou cometer crimes.
As pilhagens já estão
a acontecer na província de Sofala. Nas imediações de Inhaminga um pequeno
aglomerado de habitações foi pilhado. A população viu serem-lhe roubadas roupas
e produtos alimentares básicos que estavam armazenados em suas casas e que constituíam
os recursos alimentares de sobrevivência. Foi-lhes exigido dinheiro (que pouco
tinham). A ação foi acompanhada de ameaças e exibição de armas. São os bandidos
armados do “exército” de Dhlakama em completo desespero que já começaram a
atacar populações indefesas numa “guerra” perdida contra as populações, a paz e
a legalidade constitucional.
Também em Maringué,
Sofala, um posto de polícia foi atacado por um grupo de bandidos armados do “exército”
de Dhlakama. O ataque manteve-se por quase uma hora, com troca de tiros. Não se
registaram vítimas. Nem mortes, nem feridos.
Mas a instabilidade
vai alastrando. Esse é o objetivo de Dhlakama. Bem averiguando sempre foi essa
sua intenção, revelando uma frustração crescente por não conseguir pelo voto,
democráticamente, obter a governação. Por constatar que, após tantos anos e várias
eleições, não consegue inspirar confiança aos moçambicanos eleitores.
NÃO VAI HAVER
GUERRA MAS SIM BANDITISMO
Existem os que nas
cidades mais populosas se declaram temerosos quanto a um suposto regresso à
guerra em Moçambique. Em Maputo o sentimento é de reprovação às atitudes e
belicismo chantagista de Dhlakama. Mas temem a possível guerra que de todos
estes recentes acontecimentos possa vir a ocorrer, esquecendo que Dhlakama está
completamente isolado, nacional e regionalmente. Também internacionalmente. O “exército”
de Dhlakama há muito que não é um exército com capacidades como anteriormente.
Os países fronteiriços com Moçambique não o apoiarão. A conjuntura assim o dita.
O abastecimento por mar está fora de questão pela distância que vai das praias
e dos portos ao interior onde o “exército” ou seus grupos de bandidos se
movimentam. Mas internacionalmente também não haverá países apoiantes e dispostos a financiar uma guerra perdida. Dhlakama só pode declarar e ordenar ao seu “exército” ações de
banditismo contra as populações. E mesmo assim pouco tempo e mal sobreviverá. Chegará o dia
em que nem munições e armamento terão. Convençamo-nos que por esta ótica,
bastante pertinente e realista, não há nada que temer por uma guerra que já está
perdida. Não vai haver guerra mas sim ações de repugnante banditismo e criminalidade que terá de ser contida pelas autoridades moçambicanas (polícia e exército).
Depois virá a paz nas povoações que por agora estão em risco de serem
surpreendidas pelos ataques dos bandidos armados.
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