Baptista-Bastos –
Diário de Notícias, opinião
O PS ganhou, o PSD
perdeu. Ambos estrondosamente. E nós? Pedro Passos Coelho, solene e severo,
advertiu logo que tudo vai ficar na mesma, porque o "rumo prossegue".
O líder "social-democrata" está no seu papel de duro e implacável,
embora os resultados das eleições possam, e devam, ter uma interpretação
nacional. Essa interpretação resulta numa evidência: o País está cansado deste
Governo. Ante a insistente indiferença das palavras de Passos e o paulatino
mutismo de Seguro, as horas têm decorrido na paz dos anjos.
O Executivo
arrasta-se numa irremediável degenerescência, e estas eleições confirmaram o
seu penoso estado cataléptico. A confirmar-se o que se pressente, o PS está à
beira do poder, o que causa festiva perplexidade nos seus áulicos e razoável
inquietação nos portugueses. Que fará António José Seguro nessa
previsibilidade?
Restaurará o que
resta ao PS de um vago "socialismo", cuja natureza e objectivos
fundadores estão cada vez mais longe? Ou continuará nesta ambiguidade e evasiva
ideológicas, em que até o punho esquerdo cerrado e erguido desapareceu da
liturgia? A vitória obtida agora não significa que o bulício interno contra
Seguro irá sossegar. E a estrepitosa vantagem em Lisboa de António Costa
aumenta a predisposição para o conflito. Diz-se que foi apesar de Seguro que o
PS saiu ganhador da contenda, também ela marcada pela decadência dos
"sociais-democratas", cujas escolhas nominais para as autárquicas se
pautaram por total disparate.
Seja como for, o PS
está numa encruzilhada dilemática, desprovido de doutrina e com um
secretário-geral débil, sem aplomb, sem garra e sem fibra. Por outro lado, a
subida vertiginosa da CDU é de molde a causar preocupações a um partido cuja
propensão histórica é a de se aliar à Direita. Uma CDU forte causa sempre
embaraço no PS, mais acentuado, agora, esse embaraço com a queda do Bloco de
Esquerda, eventualmente o apoio desejado por alguns sectores
"socialistas" e não enjeitado por dirigentes "bloquistas",
que viam nessa possibilidade uma vereda para o poder.
A ascensão do PS
não deixa de causar problemas à actual direcção. Porque a vitória não foi
escassa nem mitigada, a exigência de uma responsabilidade séria, que
corresponda aos desígnios expressos pelos votos, exige alterações substanciais
na orientação do partido. Com perdão da palavra, mas, francamente, não me
parece que António José Seguro seja capaz de inverter a marcha por ele próprio
seguida e que tem desfigurado a essência do que deverá ser um partido
socialista. O progresso da CDU deve-se, igualmente, à deformação política,
ideológica, moral e ética do PS. Não tenhamos dúvidas.
A instância de uma
"alternativa", em vez da habitual sordidez da
"alternância", é uma imposição da própria evolução dos tempos, cujas
incertezas intimam a respostas ajustadas e honestas.
Por decisão
pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
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