sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Cabo Verde: Idosos e pessoas doentes abandonadas para morrerem sozinhas

 


Descuido ou crueldade?
 
Alguém precisa de ser responsabilizado ou então assumir a própria desumanidade perante o abandono daqueles com quem um dia partilhou um lar e teve relações de afecto. É preciso, caso contrário, a pouca vergonha e a maldade ficam impunes.
 
A questão dos idosos e pessoas com problemas de saúde que vivem abandonados na ilha de São Vicente, está a preocupar as autoridades. É que essas pessoas vivem sozinhas, à mercê da sua sorte e quando morrem, os vizinhos só se apercebem quando o corpo já se encontra em avançado estado de decomposição e o mau cheiro invade o bairro. Crueldade? Distracção? Abandono? Certamente. Isto numa comunidade pequena que é tida como solidária. E os culpados do abandono são sem dúvidas as famílias: “a maior parte das mortes resulta de doenças prolongadas ou devido à idade avançada dessas pessoas. Mas o certo é que depois de abandonadas, vivem retraídas no seu meio. Isto é, saem poucas vezes à rua pelo que os vizinhos nem dão pela sua falta. E quando morrem, só são descobertas quando o mau cheiro do corpo se espalha pelo bairro” – esclarece a Delegacia de Saúde. Esta contestação dos técnicos está de acordo com o que se constata na no dia a dia: existem cada vez mais velhos e doentes abandonados à própria sorte. A realidade é dura e triste mas essas pessoas passaram a viver sozinhas sem o apoio da família. Isto numa comunidade pequena, onde praticamente todos se conhecem. O mais grave é que estes casos estão a aumentar.
 
Nos últimos meses, as autoridades criminais e sanitárias registaram várias mortes de idosos que viviam sozinhos e abandonados. E agora, no espaço de três dias, foram encontrados dois homens com cerca de 50 anos sem vida nas próprias casas, cujos corpos se encontravam em estado de decomposição. E com as averiguações descobriu-se que estavam doentes.
 
Preocupação
 
Nestas circunstâncias, quer a PJ, quer a PN e a Delegacia de Saúde mostram-se preocupadas com a situação que tem sido recorrente na ilha de São Vicente. Por isso, asseguram que é urgente que as famílias assumam as suas responsabilidades perante os familiares com idade avançada. Muitos são asilados em residências e, posteriormente, passam a viver sozinhos e abandonados. E, por saírem raramente à rua, acabam por cair no esquecimento das pessoas que vivem à sua volta.
 
O NN conversou com um inspector da PJ e uma médica que partilham da mesma opinião acerca deste problema que assola a ilha de São Vicente. Segundo os nossos entrevistados “a família é a principal culpada quando ocorrem casos desta natureza, uma vez que abandonam os seus parentes nalguma residência e não lhes prestam qualquer auxílio. A maioria padece de alguma doença e precisa de apoio regular”.
 
Por outro lado, defendem que “quando se encontra o corpo em avançado estado de decomposição, providenciamos esforços para fazer a autópsia, para saber a causa da morte. Mas há casos em que a putrefacção do cadáver impossibilita a realização do exame, ao mesmo tempo que traz riscos para a saúde dos moradores. Por isso, ordena-se a sua condução imediata ao cemitério. E há famílias que criticam o nosso procedimento quando, na verdade, elas poderiam ter evitado essa fatalidade”.
 
O certo é que o número crescente de pessoas doentes e idosas abandonadas e que acabam por morrer não permite continuar a fechar os olhos diante dessa barbaridade. Alguém precisa de ser responsabilizado ou então assumir a própria desumanidade perante aqueles com quem um dia partilhou um lar e teve relações de afecto. É preciso, caso contrário, a pouca vergonha e a maldade ficam impunes.
 
 

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