domingo, 10 de novembro de 2013

INADMISSÍVEL

 


Jornal de Angola, opinião - 8 de Novembro, 2013
 
As elites portuguesas ignorantes e corruptas continuam no registo que sempre usaram contra os Angolanos. Para eles, Angola é um país de corruptos, analfabetos e ladrões. O verbo utilizado vai do suave ao grosseiro. Das falinhas mansas aos gritos de ódio. Das palmadinhas nas costas à punhalada brutal e assumida.
 
A comunicação social portuguesa é transformada em Tribunal do Santo Ofício por magistrados do Ministério Público, ciosos da sua independência mas estranhamente irmãos siameses dos que mais se distinguem nas calúnias e ataques à honra de cidadãos angolanos que nenhum Tribunal julgou ou condenou. A justiça popular, os processos de intenções, os preconceitos substituem o Estado de Direito. Se as vítimas reagem, dizem que em Portugal as coisas são mesmo assim, ninguém respeita ninguém e que a democracia é isto.

As autoridades portuguesas são incapazes de obrigar o Poder Judicial a guardar o segredo de justiça. Os patrões dos órgãos de comunicação social esfregam as mãos de contentes quando os seus empregados disparam sobre os angolanos. Pode ser que isso lhes dê vantagens nos negócios.

Os jornalistas usam a carteira profissional como licença para assassinar o carácter das suas vítimas angolanas na praça pública. Altas figuras do Estado Angolano são os seus alvos. Se houver reclamação, dizem que altas figuras do Estado Português são também vítimas dos mesmos crimes. Como se isso transforme crimes em virtudes. Ou o Estado de Direito aguente semelhantes atentados, protagonizados por magistrados e jornalistas que em rigor deviam ser os seus principais defensores.

O Ministério Público Português faz manchetes na comunicação social quando abre um inquérito a uma alta figura do Estado Angolano. Devidamente acusado, julgado e condenado na praça pública, os criminosos partem para outra. Quando os inquéritos são arquivados, é segredo. Até para as vítimas. Um ano depois de ver o seu nome e a sua honra violados, o Procurador-Geral da República de Angola soube que afinal apenas estavam em causa umas informações bancárias que são sigilosas e por isso, não podem ser bases de notícias.

Para manter a chama acesa, o Ministério Público deu de manhã a um jornal uma “informação” preciosa: o inquérito ao Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, foi arquivado. Na noite do mesmo dia, num comunicado oficial, a Procuradoria-Geral da República Portuguesa vem esclarecer que a “notícia” não tem fundamento porque a vítima das violações do segredo de justiça afinal “não consta como arguido, nem foi suspeito, no inquérito em apreciação”. Se não é ele, são os seus enteados! Mas nada de especial: o problema é com uma empresa e se for cumprido o que os arguidos aceitaram perante a Justiça, fica tudo resolvido. É claro que o juiz de instrução tem que dar despacho.

O comunicado da Procuradoria-Geral da República Portuguesa tem como título “Vice-Presidente de Angola - Manuel Vicente”. Que não é arguido nem suspeito. Devia lá estar o nome da empresa em causa mas não está. E o documento oficial refere apenas “os seus enteados”. Cumprimentamos os magistrados do Ministério Público por resguardarem os nomes de cidadãos que até ver, são inocentes. Assim é que deve ser sempre. Mas não tiveram o mesmo cuidado com altas figuras do Estado Angolano. Pelo contrário, julgaram-nas e condenaram-nas na praça pública de uma forma infame. É contra isso que os angolanos decentes estão. É isso que consideramos inaceitável.

Se o Ministério Público em Portugal abrisse um inquérito ao Vice-Presidente de um país da União Europeia ou dos EUA temos a certeza de que os seus nomes não iam fazer manchete nos noticiários dos barões da droga em que se transformou a comunicação social portuguesa. As elites portuguesas ignorantes e corruptas estacionaram no colonialismo mais retrógrado. Continuam a achar que os negros são seres inferiores e se têm uma camisa lavada é porque a roubaram.

Quem tem amigos assim, o melhor é virar-lhes as costas e negociar até com o diabo ou dialogar com os inimigos. É muito difícil dialogar com um país em que parece que ninguém se entende e estão todos virados para o tornar ingovernável. Dizem que o investimento é bem-vindo, mas atacam os investidores angolanos. O mesmo fizeram com Ângela Merkel e a Alemanha que meteram rios de dinheiro para salvar Portugal da bancarrota.

Se não soubessem o que fazem, eram perdoados. O que fazem é tentar intimidar os angolanos para estes deixarem de gerir com toda a soberania e independência o seu país. Mas compreendemos muito bem porque fazem antos ataques a Angola, quando nos chamam seus irmãos. Ainda que lhes custe têm de compreender que jamais nos deixaremos intimidar. Antes a morte que tal sorte! Assim falava Camões.

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