Verdade (mz)
A votação do dia 20
de Novembro, e o apuramento dos votos nos 53 municípios foi manchada por
tentativas de fraudes, e até de fraude consumada, a favor dos candidatos do
partido Frelimo. Ainda na véspera da votação foram encontrados jovens menores
de 18 anos na posse de cartões de eleitores. Eles foram aliciados com a
promessa de passagem de classe caso votassem no candidato do partido Frelimo no
município de Angoche. Dezenas destes jovem exerceram ilegalmente o direito de
votar.
Em Mocuba agentes
da Polícia foram vistos a transportar urnas aparentemente já cheias de votos,
enquanto na cidade da Beira um presidente de uma mesa foi surpreendido a
introduzir votos na urna, beneficiando o candidato do partido Frelimo. No
município de Quelimane eleitores votaram e, sem grande esforço, limparam os
dedos, podendo votar novamente caso o desejassem.
Em várias mesas,
nos cadernos os nomes do eleitores, após votarem, foram assinalados a lápis e
não a esferográfica. A contagem, que decorria ainda à hora do fecho desta
edição, mais de 24 horas após o encerramento das urnas, aconteceu em vários
locais sem a presença de membros do MDM, que foram detidos em vários
municípios, nem de observadores independentes. Veja os vários casos de fraude
de que tivemos registo:
Eleitores das 53
autarquias do território moçambicano estão a votar nesta quarta-feira (20) para
a escolha dos seus presidentes e membros das assembleias municipais. Em grande
parte dos postos a votação não começou às 7 horas como estava previsto devido a
problemas organizacionais e de logística. A manhã deste dia de votação está a
ser marcada por vários registos de fraudes, em benefício do partido Frelimo,
com maior incidência no município de Angoche. Registámos ainda uma
irregularidade grave no boletim de voto dos candidatos a edis de Nampula onde
não consta a candidata do Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), Filomena
Mutoropa.
O início da
votação, apesar de tardio, foi marcado por uma significativa afluência de
eleitores às assembleias de votos, que entretanto reduziu com o aproximar do
meio-dia.
Fraudes em Angoche
Enquanto isso, nas
cinco assembleias de voto instaladas na Escola Primária Completa de Farlahi, em
Angoche, existem eleitores que votam mais de uma vez em momentos diferentes.
Para além de existirem crianças com idade inferior a 18 anos que foram coagidos
a votar nas mesmas assembleias de voto, segundo o nosso jornalista presente na
Escola Primária Completa de Farlahi, a Polícia destacada para velar pela
segurança no local está a mandar os eleitores que se encontravam já nas
assembleias de votos, particularmente 03005705 e 03005704, a abandonarem as
mesas por supostamente contestarem o facto de haver pessoas que exercem o seu
dever cívico mais de uma vez, sem, acima de tudo, observar a fila.
O nosso jornalista
reporta ainda que a Polícia reforçou o efectivo com vista a reprimir a agitação
instalada no sítio. Aliás, apurámos que estes problemas acontecem igualmente
nas assembleias de voto instaladas noutros estabelecimentos de ensino em
Angoche, onde temos jornalistas a acompanhar o processo desde as primeiras
horas desta quarta-feira.
Enquanto isso,
informações não confirmadas, mas avançadas por algumas pessoas que fazem parte
do processo de votação, dão conta de que alguns líderes comunitários das
regiões fora da autarquia de Angoche foram exercer o seu dever cívico nas
assembleias de voto da Escola Primária Completa de Farlahi e noutras em que não
deviam, apesar de não terem nenhum direito especial para o efeito. Os nomes dos
eleitores que supostamente teriam enveredado por essa via ilícita constam de um
caderno específico designado “Livro 30”, cujo significado não apurámos.
Outro incidente que
marca negativamente o processo de votação na Escola Primária Completa de
Farlahi diz respeito ao facto de os delegados de candidatura presentes nas
assembleias de votos serem apenas da Frelimo, os quais tentam, a todo o custo,
impedir a presença dos delegados de outros partidos políticos e obstar o seu
trabalho e dos jornalistas.
Quelimane
No município de
Quelimane, onde se regista grande afluência de eleitores às urnas, desde as
primeiras horas do dia, há relatos confirmados segundo os quais a tinta que
está a ser usada para assinalar quem já votou não é indelével. Pelo menos cinco
eleitores que lavaram as mãos após exercerem o seu dever cívico conseguiram
remover a tinta do dedo sem nenhum esforço, o que, em condições normais, não
seria possível. Ainda em Quelimane, as assembleias de voto instaladas na Escola
Primária Completa de Coalane abriram tarde, já como uma moldura humana à espera
de exercer o seu dever cívico.
Beira
No município da
Beira, onde funciona um posto de votação, na piscina do Goto, existem mesas sem
cadernos eleitorais. Entretanto, logo nas primeiras horas, houve uma afluência
massiva de eleitores, os quais não arredaram pé apesar dos chuviscos que
caíram. “Fazem de tudo para não votarmos, mas hoje não saímos daqui antes de
votar”, afirmaram vários jovens nas assembleias de voto do município da Beira.
Entretanto, o receio
que se gerou nos dias que antecederam ao escrutínio, e propagou-se pelas redes
sociais e através de mensagens de telemóveis, parece confirmar-se havendo
vários relatos de agentes do STAE nas mesas a afirmarem que “ninguém podia usar
caneta particular para votar”. O rumor referia-se à existência de canetas cuja
tinta, após o eleitor marcar o seu voto, poderia ser apagada, o que poderia
tornar o boletim em condições de ser usado numa outra escolha.
Tete
No município de
Tete, onde o processo também arrancou às 7 horas, de relevo temos a registar o
facto de que o posto de votação instalado na Escola Primária 3 de Janeiro, no
bairro Azul, no município de Tete, estava repleto de panfletos da Frelimo, o
que neste dia da votação não devia estar a acontecer porque, para além de
figurar como um acto de campanha eleitoral fora do período estabelecido para o
efeito – o que é, por conseguinte, um ilícito eleitoral – pode confundir os
eleitores.
Matola
Apesar de as
assembleias de voto terem aberto à hora marcada para o início da votação em
diferentes lugares, o presidente de assembleia de voto da Escola Secundária de
Nkobe está a trabalhar embriagado e o processo decorre lentamente. Registámos
ainda que o presidente da mesa nº 10006501, na Escola Secundária de Kongolote,
no município da Matola, fechou a porta onde estava instalada a mesa e não
permitiu que os observadores eleitorais fiscalizassem a abertura das urnas.
Gaza
No município do
Chókwè, os chefes dos bairros recolheram os cartões dos eleitores e registaram
os nomes destes em cadernos particulares com o intuito de cada chefe do bairro
levar, obrigatoriamente, todos os cidadãos eleitores da sua área de residência
para os locais de votação.
Nampula
Dos vários
incidentes que temos a registar, destaca-se o facto de a votação ter sido
interrompida, por volta das 09h:00, numa assembleia de voto da Escola Primária
Completa do Inguri, no município de Angoche, após o delegado do partido
ASSEMONA ter surpreendido o presidente da mesa a entregar mais de quatro
boletins de votos, por serem preenchidos, a um cidadão conhecido como membro do
partido Frelimo. Este problema gerou uma onda de contestação no local, onde a
Polícia deteve três cidadãos encontrados na posse de dois cartões de eleitores,
cada em seu nome, e que se preparavam para votar naquela escola.
Boletins de voto
“inválidos”
Outro problema
grave registado até ao momento tem a ver com boletins de votos com informação
incorrecta, que colocam em causa a eleição no município de Nampula. Nos
boletins de votação a edil do município de Nampula não constava o nome da
candidata do Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), Filomena Mutoropa. O
boletim de voto para a eleição dos membros da Assembleia Municipal também
contém um erro: o PDD, Partido Para a Paz, Democracia e Desenvolvimento está
identificado por extenso como Partido Movimento Democrático de Moçambique.
Daniel Ramos,
presidente da Comissão Provincial de Eleições em Nampula, disse que o problema
foi descoberto às 7 horas, depois da abertura das assembleias de voto, e a
resolução deste caso ultrapassa as competências dos órgãos eleitorais locais. A
Comissão Nacional de Eleições e o Secretariado Técnico da Administração
Eleitoral ainda não se pronunciaram sobre nenhum destes constrangimentos que
estão a manchar a votação nas 53 autarquias de Moçambique.
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