terça-feira, 12 de novembro de 2013

Moçambique: BAILE DE MÁSCARAS

 

Verdade (mz) - editorial
 
Eles vão voltar. Aliás, já voltaram e com as mesmas promessas de sempre para a tua desgraça. Dizem que vão reabilitar isto e mais aquilo, que terás água, transporte e muito dinheiro e também emprego é que farão tudo para baixar o custo de vida. Que a vida será um mar de rosas é que jamais voltarás à rua para reclamar do custo de vida. O que é, convenhamos, uma mentira monumental.
 
Contudo, saiba que ninguém te chamará vândalo ou apóstolo da desgraça nesta altura. Você já não é agitador social. A estrada da tua rua recebeu um verniz no final deste ano e você acredita que se lembraram dos desfavorecidos. Mentira. Para os distraídos até parece asfalto, mas trata-se de uma pirataria feita para durar até pouco depois do dia 20. Quando for impossível para o cidadão corrigir o mal.
 
O importante, meu caro, é que te lembres que não há transporte, não há emprego e que não podes vender nos passeios porque eles não deixam. Tens de lembrar do muro da vergonha e dos roubos em Chihaquelane. A tua pobreza é feia demais para que eles vejam quando circulam de carros topo de gama com os vidros fechados. Tu és lixo irmão e eles olham para ti desse modo na maior parte do mandato. Só és realmente importante hoje que tentam impingir um progresso que nunca existiu é que tu sabes impossível.
 
Quando choraste no corredor do Hospital Central porque os médicos estavam em greve eles nem te ouviram. Quando perdeste o emprego porque o chapa nunca veio eles riram da tua desgraça e despediram-te por justa causa. Quando raptaram os teus familiares eles reafirmaram confiança numa polícia inoperante. Eles aplaudiram quando a FIR espancou antigos combatentes. Faltam medicamentos e eles compram material bélico para reprimir porque sabem que, tarde ou cedo, sairás à rua para reivindicar os teus tortos direitos. São armas adquiridas para usar contra ti, pagas com o dinheiro que resulta dos teus impostos.
 
Grande parte dos deputados que nunca viste no teu bairro, mas que juram de pés juntos que representam o povo do qual fazes parte, pertencem à eles. Eles é que mandam e mamam desalmadamente nas tetas do Estado. Dizem que libertaram o país, mas isso é apenas um entorpecente para que continues amorfo e resignado nessa letargia onde depositaram o teu corpo. Eles nunca te dirão que o país é teu fora deste período. Vão dizer com a cara deslavada que governam para realizar os teus anseios, mas essa é a mentira mais cobarde. Lembras-te dos edis que tiveram de resignar porque uma vontade superior e partidária falou mais alto? Foste consultado? Ou só vieram ter contigo quando era para votares e assassinares, desse modo, o presente e o futuro dos teus?
 
Se te faltar roupa leve as camisetas, mas saiba que a nudez é mais honrosa do que a camisola da mentira e da farsa que eles te oferecem. É preciso ter coragem e não permitir que abutres inundem os vossos muros com propaganda enganosa para anestesiar a mudança que pretendes ou a libertação que deve ser certa. Quando eles vierem mostra-lhes as vias de acesso que nunca pisaram, mostre-lhes os teus ossos e as campas daqueles que pereceram por causa de uma doença curável como malária e as estradas que prometeram asfaltar e continuam a gerar crateras.
 
Peça-lhes para passaram um dia na tua casa e terem, tal como os teus, apenas uma refeição por dia. Mostre-lhes que a Electricidade de Moçambique vive de sabotar o teu esforço de conservar cinco quilogramas de peixe até ao final de cada mês. Mostre-lhes que quando passam com sirenes é o teu filho que morre no passeio porque dormiu sem comer. Eles precisam saber disso. Receba esses sacanas com sorrisos, mas engane-lhes como eles têm feito contigo nesta quase quatro décadas nas quais tiram partido da tua cobardia.
 
Acorda...
 
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