Verdade (mz) -
editorial
Eles vão voltar.
Aliás, já voltaram e com as mesmas promessas de sempre para a tua desgraça.
Dizem que vão reabilitar isto e mais aquilo, que terás água, transporte e muito
dinheiro e também emprego é que farão tudo para baixar o custo de vida. Que a vida
será um mar de rosas é que jamais voltarás à rua para reclamar do custo de
vida. O que é, convenhamos, uma mentira monumental.
Contudo, saiba que
ninguém te chamará vândalo ou apóstolo da desgraça nesta altura. Você já não é
agitador social. A estrada da tua rua recebeu um verniz no final deste ano e
você acredita que se lembraram dos desfavorecidos. Mentira. Para os distraídos até
parece asfalto, mas trata-se de uma pirataria feita para durar até pouco depois
do dia 20. Quando for impossível para o cidadão corrigir o mal.
O importante, meu
caro, é que te lembres que não há transporte, não há emprego e que não podes
vender nos passeios porque eles não deixam. Tens de lembrar do muro da vergonha
e dos roubos em Chihaquelane. A tua pobreza é feia demais para que eles vejam
quando circulam de carros topo de gama com os vidros fechados. Tu és lixo irmão
e eles olham para ti desse modo na maior parte do mandato. Só és realmente
importante hoje que tentam impingir um progresso que nunca existiu é que tu
sabes impossível.
Quando choraste no
corredor do Hospital Central porque os médicos estavam em greve eles nem te
ouviram. Quando perdeste o emprego porque o chapa nunca veio eles riram da tua
desgraça e despediram-te por justa causa. Quando raptaram os teus familiares
eles reafirmaram confiança numa polícia inoperante. Eles aplaudiram quando a
FIR espancou antigos combatentes. Faltam medicamentos e eles compram material
bélico para reprimir porque sabem que, tarde ou cedo, sairás à rua para
reivindicar os teus tortos direitos. São armas adquiridas para usar contra ti,
pagas com o dinheiro que resulta dos teus impostos.
Grande parte dos
deputados que nunca viste no teu bairro, mas que juram de pés juntos que
representam o povo do qual fazes parte, pertencem à eles. Eles é que mandam e
mamam desalmadamente nas tetas do Estado. Dizem que libertaram o país, mas isso
é apenas um entorpecente para que continues amorfo e resignado nessa letargia
onde depositaram o teu corpo. Eles nunca te dirão que o país é teu fora deste
período. Vão dizer com a cara deslavada que governam para realizar os teus
anseios, mas essa é a mentira mais cobarde. Lembras-te dos edis que tiveram de
resignar porque uma vontade superior e partidária falou mais alto? Foste
consultado? Ou só vieram ter contigo quando era para votares e assassinares,
desse modo, o presente e o futuro dos teus?
Se te faltar roupa
leve as camisetas, mas saiba que a nudez é mais honrosa do que a camisola da
mentira e da farsa que eles te oferecem. É preciso ter coragem e não permitir
que abutres inundem os vossos muros com propaganda enganosa para anestesiar a
mudança que pretendes ou a libertação que deve ser certa. Quando eles vierem
mostra-lhes as vias de acesso que nunca pisaram, mostre-lhes os teus ossos e as
campas daqueles que pereceram por causa de uma doença curável como malária e as
estradas que prometeram asfaltar e continuam a gerar crateras.
Peça-lhes para
passaram um dia na tua casa e terem, tal como os teus, apenas uma refeição por
dia. Mostre-lhes que a Electricidade de Moçambique vive de sabotar o teu
esforço de conservar cinco quilogramas de peixe até ao final de cada mês.
Mostre-lhes que quando passam com sirenes é o teu filho que morre no passeio
porque dormiu sem comer. Eles precisam saber disso. Receba esses sacanas com
sorrisos, mas engane-lhes como eles têm feito contigo nesta quase quatro
décadas nas quais tiram partido da tua cobardia.
Acorda...
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