Diário de Notícias
- Lusa
Os "capitães
de Abril" Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho reiteraram esta
segunda-feira alertas para o perigo de violência na atual situação
político-económica em Portugal, após uma conferência de quase quatro horas
sobre o 25 de Novembro, em Lisboa.
No auditório da
Sociedade Portuguesa de Autores, os dois coronéis foram trocando, entre si e
com a plateia, repleta de outros militares, factos, relatos e interpretações
dos acontecimentos vividos desde a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de
1974, ao golpe militar liderado pelo depois Presidente da República Ramalho
Eanes, que instituiu o Processo Constitucional no lugar do Processo
Revolucionário em Curso (PREC).
"Eu sou um dos
que sou acusado disso. Não estou a incitar à violência. Estou a alertar para
que a violência vem aí. Venho a fazer este alerta há cerca de três anos. A
figura que criei na altura foi 'vem aí nova revolta de escravos', se não se
alterarem as políticas que estão a ser feitas. Quem está a provocar a violência
é quem está a fazer as políticas", afirmou Vasco Lourenço, referindo-se a
declarações anteriores, num encontro organizado por outro ex-Presidente da
República, Mário Soares, há dias na Aula Magna.
O coronel,
assumidamente "moderado" rejeitou ter feito quaisquer "apelos à
violência", mas insistiu que, "se não alterarem as políticas, a
violência vai ser inevitável", adiantando que, tal como as suas palavras,
também Soares não quis incentivar qualquer ação violenta.
"É
indisciplina! A burguesia, a classe dominante, a minha classe, fica
extremamente em aflição quando há um prenúncio de violência. É a única
linguagem. Como o Estado burguês tem o monopólio da violência e lhe foge ao
controlo, da polícia, da GNR, a classe dominante fica aflita", comentou
Otelo, por seu turno, sobre a recente invasão das escadarias da Assembleia da
República por parte de profissionais das forças de segurança.
Para o dirigente
operacional do golpe militar que depôs o Estado Novo, "vão continuar a
existir coisas dessas".
"Mário Soares
fez aquela charla na Aula Magna e avisou que vem aí a violência. Eu também
julgo que sim. Apesar de o nosso povo ser de brando costumes - o povo é sereno,
dizia o almirante Pinheiro de Azevedo -, mas, a certa altura, quando a coisa
extravasa, a criminalidade está a aumentar, pode-se passar para atos de
violência que vão chocar enormemente a classe burguesa que, depois, é capaz de
não ter polícia e todas as forças de repressão para atuarem. E aí, é um
problema", disse.
Relativamente à
homenagem fez esta segunda-feira ao antigo Chefe de Estado Ramalho Eanes, Vasco
Lourenço, reconheceu que a figura é merecedora, mas discordou da data em causa,
por poder "abrir feridas".
"Acho que a
homenagem é justa pelo passado dele, agora podia ser feita, por exemplo, no 1.º
de Dezembro ou no dia de anos do general Ramalho Eanes. Eu não estou na
homenagem só por isso. Ao fazerem no 25 de Novembro, estão a realçar a divisão
que houve. Já muito se conseguiu, muitas feridas conseguiram ser saradas e agora
estão a reabri-las", justificou.
Sobre Eanes, Otelo
classificou-o como "um prussiano", já que se "agarrou à
Constituição como se fosse um regulamento de disciplina militar e tudo o que
fugisse dali, 'corta'".
Saraiva de Carvalho
considerou que "o 25 de Novembro representa uma paragem, uma travagem
brusca no PREC, que estava a ter um curso acidentado, um bocado atormentado,
indisciplinado, nos quartéis (...). Que levou ao poder a fação mais moderada,
mais aceite pelo Mundo ocidental".
Analisando a
atualidade, Vasco Lourenço defendeu que Portugal está a assistir à
"destruição de tudo o que cheira a Abril", tornando-se um
"protetorado de forças estrangeiras, em que o poder está a vender o país a
pataco", caminhando "para situações que de democráticas têm muito
pouco".
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