Balneário Público
Ao mesmo tempo que
na passada quinta-feira (21) figuras proeminentes da democracia, da justiça e
da liberdade estavam reunidas na Aula Magna da Universidade de Lisboa, em
Defesa da Constituição e da Democracia Social, a polícia desfilava em protesto
pelas ruas da capital rumo à Assembleia da República, com o objetivo de
deixarem bem expresso aos que cegamente legislam e aprovam as propostas do
governo que nem a sua classe profissional nem os portugueses têm capacidade
para serem mais vitimados com mais cortes nos seus parcos direitos e ordenados
nem com a subida de impostos indiretos e custo de vida. Alguns milhares de
polícias desembocaram no largo frontal de Assembleia da República e a uma só
voz manifestaram o seu protesto. Porque todos sabemos que os protestos – apesar
de justos – não encontram no governo o interlocutor que devia ser de cariz
democrático, porque os protestos têm por leitura do governo e do Presidente da
República o tradicional “deixa-os falar”, os polícias consideraram por bem
fazer algo diferente. Invadiram as escadarias frontais à Assembleia da
República. Área de acesso proibido sempre que há por ali manifestações. Área
que é ambicionada por todos os manifestantes para ficarem mais próximos do
edifício e assim se fazerem ouvir melhor no parlamento onde os deputados em
maioria (PSD-CDS) servem com requintes de malvadez a miséria e a perda de
direitos e liberdades aos portugueses em aprovação doentia das propostas do
governo liberal-fascista de Cavaco-Passos-Portas. Escadarias acima os polícias
deixaram a sua mensagem (a que chamaram “gesto simbólico): Para a próxima pode
vir a ser pior e não nos ficaremos pela máxima proximidade do exterior do
edifício. Para a próxima invadiremos a Assembleia da República. A mensagem foi
clara. Aliás, os militares, através da sua associação, já deixaram bem
expresso que reconhecem legitimidade e apoiam os protestos da polícia, dos
polícias. Até declararam que estão a equacionar a possibilidade de também eles
fazerem o mesmo e virem para a rua. Hoje, por coincidência, ou “por
coincidência”, estão a fazer um protesto simbólico dentro dos quartéis. Num
sentido mais alargado e correspondente à realidade, a maioria dos portugueses
está em constante protesto simbólico dentro de suas casas, constatando que não têm
como pagar as contas básicas da eletricidade, do gás, da água e da alimentação.
Nem têm verbas que bastem para os transportes, para as escolas dos filhos, para
vestuário, para manter a saúde, etc., etc. E se a polícia, os militares, os
portugueses acordarem um dia dispostos a abandonarem os gestos simbólicos,
mandarem os simbolismos à malvas e mostrarem aos que fazem vista grossa e
orelhas moucas (Presidente da República, governo e deputados da maioria PSD-CDS)
que estão fartos deste rumo para a miséria a que têm obstinadamente conduzido
Portugal? Então sim. Então, isso acontecendo, a sabedoria e alarmes que vêm
sendo feitos por inúmeros sábios vai demonstrar a verdade das suas palavras,
dos seus avisos. Caso de Mário Soares: “É preciso ter a consciência que a
violência está à porta”. Disse repetidamente. Requereu a demissão de Cavaco
Silva e do governo. Implorou: “Não desgrace mais Portugal, senhor Presidente da
República”. Acusou Cavaco de não cumprir nem fazer cumprir a Constituição. De
tudo isso resulta por parte de Cavaco e do governo vista grossa e orelhas
moucas. Até ao dia em que tudo e todos decidam caminhar escadaria acima. Que o
bom-senso dos liberais-fascistas permita que tal não aconteça. Que se demitam,
por uma boa causa: Portugal e os portugueses.
Otávio Arneiro
Nota: Paulo Portas,
vice-primeiro-ministro, afirmou que Soares está a legitimar a violência com as
suas palavras. Nada disso. Desde há dois anos quem tem vindo a legitimar a
violência (que é desejável não ocorrer) é o governo e o PR (ao servir de
protetor fanático das atuais políticas). Também Paulo Portas tem a sua grande
quota-parte nessa legitimação da violência. As razões são sobejamente
conhecidas e residem nas políticas erradas impostas por este governo e que têm
desgraçado ainda mais Portugal.
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