domingo, 24 de novembro de 2013

Portugal: ESCADARIA ACIMA

 

Balneário Público
 
Ao mesmo tempo que na passada quinta-feira (21) figuras proeminentes da democracia, da justiça e da liberdade estavam reunidas na Aula Magna da Universidade de Lisboa, em Defesa da Constituição e da Democracia Social, a polícia desfilava em protesto pelas ruas da capital rumo à Assembleia da República, com o objetivo de deixarem bem expresso aos que cegamente legislam e aprovam as propostas do governo que nem a sua classe profissional nem os portugueses têm capacidade para serem mais vitimados com mais cortes nos seus parcos direitos e ordenados nem com a subida de impostos indiretos e custo de vida. Alguns milhares de polícias desembocaram no largo frontal de Assembleia da República e a uma só voz manifestaram o seu protesto. Porque todos sabemos que os protestos – apesar de justos – não encontram no governo o interlocutor que devia ser de cariz democrático, porque os protestos têm por leitura do governo e do Presidente da República o tradicional “deixa-os falar”, os polícias consideraram por bem fazer algo diferente. Invadiram as escadarias frontais à Assembleia da República. Área de acesso proibido sempre que há por ali manifestações. Área que é ambicionada por todos os manifestantes para ficarem mais próximos do edifício e assim se fazerem ouvir melhor no parlamento onde os deputados em maioria (PSD-CDS) servem com requintes de malvadez a miséria e a perda de direitos e liberdades aos portugueses em aprovação doentia das propostas do governo liberal-fascista de Cavaco-Passos-Portas. Escadarias acima os polícias deixaram a sua mensagem (a que chamaram “gesto simbólico): Para a próxima pode vir a ser pior e não nos ficaremos pela máxima proximidade do exterior do edifício. Para a próxima invadiremos a Assembleia da República. A mensagem foi clara. Aliás, os militares, através da sua associação, já deixaram bem expresso que reconhecem legitimidade e apoiam os protestos da polícia, dos polícias. Até declararam que estão a equacionar a possibilidade de também eles fazerem o mesmo e virem para a rua. Hoje, por coincidência, ou “por coincidência”, estão a fazer um protesto simbólico dentro dos quartéis. Num sentido mais alargado e correspondente à realidade, a maioria dos portugueses está em constante protesto simbólico dentro de suas casas, constatando que não têm como pagar as contas básicas da eletricidade, do gás, da água e da alimentação. Nem têm verbas que bastem para os transportes, para as escolas dos filhos, para vestuário, para manter a saúde, etc., etc. E se a polícia, os militares, os portugueses acordarem um dia dispostos a abandonarem os gestos simbólicos, mandarem os simbolismos à malvas e mostrarem aos que fazem vista grossa e orelhas moucas (Presidente da República, governo e deputados da maioria PSD-CDS) que estão fartos deste rumo para a miséria a que têm obstinadamente conduzido Portugal? Então sim. Então, isso acontecendo, a sabedoria e alarmes que vêm sendo feitos por inúmeros sábios vai demonstrar a verdade das suas palavras, dos seus avisos. Caso de Mário Soares: “É preciso ter a consciência que a violência está à porta”. Disse repetidamente. Requereu a demissão de Cavaco Silva e do governo. Implorou: “Não desgrace mais Portugal, senhor Presidente da República”. Acusou Cavaco de não cumprir nem fazer cumprir a Constituição. De tudo isso resulta por parte de Cavaco e do governo vista grossa e orelhas moucas. Até ao dia em que tudo e todos decidam caminhar escadaria acima. Que o bom-senso dos liberais-fascistas permita que tal não aconteça. Que se demitam, por uma boa causa: Portugal e os portugueses.
 
Otávio Arneiro
 
Nota: Paulo Portas, vice-primeiro-ministro, afirmou que Soares está a legitimar a violência com as suas palavras. Nada disso. Desde há dois anos quem tem vindo a legitimar a violência (que é desejável não ocorrer) é o governo e o PR (ao servir de protetor fanático das atuais políticas). Também Paulo Portas tem a sua grande quota-parte nessa legitimação da violência. As razões são sobejamente conhecidas e residem nas políticas erradas impostas por este governo e que têm desgraçado ainda mais Portugal.
 
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