Fernando Santos –
Jornal de Notícias, opinião
Diga-se bem...São
raros, mas ainda há portugueses capazes de manifestar bom senso. Dispõem de um
problema: a sua capacidade de intervenção é limitada e acabam por não
influenciar tanto quanto seria desejável a vida coletiva do país.
Silva Peneda,
presidente do Conselho Económico e Social (CES), integra esse curto naipe de
cidadãos nacionais de pensamento estruturado. Por regra, as suas intervenções
são ponderadas, clarificadoras, não trocam a coerência por ziguezagues
taticistas. E um comportamento assim consegue pelo menos a obtenção de pontes
de diálogo entre partes desavindas, embora depois tudo fique encalhado.
Sob a liderança de
Silva Peneda, o CES tem sido, de facto, um fórum tipo válvula de escape de
tensões e de hipótese de diálogo entre parceiros sociais. Não fosse a sua
paciência associada a um vinco de tolerância e outro galo cantaria no país -
até pelas sucessivas afrontas feitas a associações patronais e confederações
sindicais por um Governo arrogante e incapaz de desalinhar da ementa de
austeridade fornecida pela troika.
Quando Silva Peneda
refere, por exemplo, e como o fez ontem, que "a competitividade não pode
ser feita à custa da redução salarial" está, com certeza, a exprimir algo
do senso comum. E daí? O que sobra de um dito assim? O ideal seria a ponderação
efetiva, mas não; quem tem o aparente poder de decisão nacional tem tudo
alinhadinho pelo cardápio da assistência prestada pelo BCE, Comissão Europeia e
FMI; limita-se a atirar para as calendas cenários cuja razoabilidade deveria
ser inquestionável - como o aumento do salário mínimo. Haja, então, uma
virtuosa paciência à Silva Peneda, até para a boa vontade encenada pelo
primeiro-ministro, Passos Coelho, de se sentar ontem à mesa da Concertação
Social em nome da obtenção de uma coesão nacional há muito perdida. Assim como
assim......
Passemos ao
contraponto, já que dizer mal é o prato do dia....
O relatório do FMI
sobre a 8.ª e 9.ª avaliações ao programa de assistência é paradigmático de como
o país está num beco sem saída. Para quem tivesse dúvidas, o chefe de missão,
um tal senhor Subir Lall (nasceu na Índia, uma nação de trabalho a troco de uma
côdea e zero de modelo social), foi claro sob os próximos passos exigidos a
Portugal: mais austeridade, isto é, mais miséria.
Entre muitas outras
alíneas destinadas a acentuar o nosso empobrecimento, o FMI, claro, aponta a
mais flexibilização dos salários e, hélas!, ao alinhamento de incentivos para
disputar despedimentos em tribunal! Uma via aterradora...e com uma quadratura
do círculo do entretenimento: consolidação vs. crescimento da economia, diz
Subir Lall.
O protetorado, como
gosta de enfatizar Paulo Portas, vai continuar a obedecer? Está ainda longe o
cenário do fim do resgate (o primeiro) e hipótese de repetição do 1640 de que
há dias Paulo Portas também se mostrou crente. Há que ponderar todas as vias. O
Miguel de Vasconcelos do século XVII acabou morto e atirado por uma janela.
Nota PG: Miguel de
Vasconcelos, traidor de Portugal ao serviço da coroa de Espanha durante a
ocupação espanhola no reinado filipino. Constante na Wikipédia (resumo): Miguel
de Vasconcelos e Brito (c. 1590 1
— 1
de Dezembro de 1640
2
), político
português,
desempenhou no Reino de Portugal os cargos de de escrivão da Fazenda3
e de secretário de Estado (primeiro-ministro)
da duquesa de Mântua, vice-Rainha de Portugal, em nome do Rei Filipe IV de Espanha (Filipe III de Portugal)
e valido do conde duque de Olivares4
. Era odiado pelo povo por, sendo português, colaborar com a representante da dominação
filipina. Tinha alcançado da corte castelhana de Madrid plenos
poderes para aplicar em Portugal pesados impostos, os quais deram origem à revolta
das Alterações de Évora (Manuelinho) e a motins
em outras terras do Alentejo. Foi a primeira vítima do golpe
de estado do 1º de Dezembro de 1640. Depois de morto, foi
arremessado da janela do Paço Real de Lisboa para o Terreiro do Paço, pelos conjurados.
Na imagem: O
traidor após ter sido morto e lançado pela janela do edificio do Terreiro do
Paço, em Lisboa. Posteriormente foi arrastado por cavalos e despedaçado nas
ruas da cidade. Os cães vadios comeram-lhe os restos do cadáver.
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