O Presidente
angolano José Eduardo dos Santos reconheceu, em entrevista à estação brasileira
de televisão TVBand, divulgada hoje pela agência Angop, que está há
"demasiado" tempo no poder.
Na entrevista,
realizada em finais de outubro, a uma questão sobre se não acha que está há
muito tempo no poder, José Eduardo dos Santos reconheceu que sim e, num registo
invulgar, foi mais longe que a pergunta e disse que há "demasiado"
tempo.
"Acho que é
muito tempo. Até demasiado. Mas também temos que ver as razões conjunturais que
nos levaram a essa situação", afirmou.
José Eduardo dos
Santos, 71 anos, substituiu o primeiro chefe de Estado angolano, António
Agostinho Neto, em 1979 e a guerra civil foi a razão que aduziu para justificar
a sua longevidade no exercício do poder.
"Se tivéssemos
retomado o processo regular de realização de eleições em 1992, certamente hoje
já não estaria aqui. Mas a conjuntura não permitiu", avançou, assegurando
que "daqui para a frente as coisas vão mudar".
Na entrevista, José
Eduardo dos Santos abordou ainda a luta de libertação nacional e as razões da
guerra civil, as relações com o Brasil e o último processo eleitoral, de agosto
de 2012.
Nestas eleições, o
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que lidera, renovou a maioria
absoluta alcançada em 2008, mas teve menos 10% de votos.
Ainda à volta do
tema da sua sucessão, José Eduardo dos Santos respondeu que a questão está a
ser debatida no seio do MPLA, para o que estão a ser "ensaiados vários
modelos".
"Estamos a
ensaiar vários modelos de como a transição poderá ser feita. Se é feita a nível
do Estado, se é feita a nível do partido, se se faz de uma vez. Enfim, estamos
a estudar, tendo sempre em conta que é preciso manter a estabilidade",
frisou.
Quanto à quebra
eleitoral de dez pontos percentuais nas últimas eleições, em que obteve 72%,
José Eduardo dos Santos explicou a descida como traduzindo uma "crise de
crescimento" do partido no poder.
"Temos que
admitir que haja crescimento também do lado da oposição", adiantou.
A entrevista, feita
pelo jornalista Franklin Martins, que foi ministro da Comunicação Social do
ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, integra uma série
intitulada "Presidentes Africanos", da produtora Cine Group, com
presidentes de cinco países africanos: Angola, África do Sul, Moçambique,
Nigéria e Congo.
Diário de Notícias
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