Deutsche Welle
As autoridades do
Brasil deixam agora nas mãos de Angola a responsabilidade de deter o general
angolano Bento Kangamba. Ele é acusado de liderar uma quadrilha de tráfico de
mulheres para prostituição em Angola.
O ponto final para
o caso envolvendo o esquema internacional de tráfico de mulheres brasileiras
ainda depende da prisão de dois angolanos: entre eles, do homem apontado como
chefe da quadrilha: o general Bento dos Santos Kangamba, sobrinho por afinidade
do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
Até o momento, a Polícia Federal do Brasil confirma que já colocou o nome do
general Kangamba e do braço direito dele, Fernando Vasco Inácio Republicano, na
lista de procurados da Interpol. Porém, a organização internacional de polícia
criminal não tem como garantir a cooperação da polícia de Angola, porque se
trata, nesta situação, de uma decisão soberana do país africano.
Certo é que, com a inserção dos mandatos de prisão nos sistemas da Interpol, os envolvidos podem ser presos a qualquer momento e em qualquer país membro da polícia internacional.
O delegado da
Polícia Federal que responde pela Interpol, no Brasil, Humberto Prisco Neto
esclarece: "O pacto Interpol é assinado por 199 países e em consequência a
saída dessa pessoa do território angolano em direção a qualquer um desses
países pode dar lugar à sua prisão."
Justiça agora
depende de Angola
Bento Kangamba é
acusado de comandar a quadrilha que traficava mulheres do Brasil para Angola,
África do Sul, Portugal e Áustria. O grupo era composto por sete envolvidos.
Cinco deles já foram presos no Brasil recentemente quando o esquema
internacional foi descoberto pela Polícia Federal, em São Paulo.
Quando questionado se a partir de agora a investigação criminal está nas mãos
das autoridades angolanas e se os próximos passos dependem de Angola entregar o
general Kangamba, o delegado da Polícia Federal respondeu: "Exatamente.
Claro, fica a cargo das autoridades angolanas, seguindo a legislação do seu
país, proceder a prossecução criminal dessa pessoa lá."
Assim como o delegado da Interpol, o diretor do departamento de estrangeiros do ministério brasileiro da Justiça, João Guilherme Granja, acredita que Angola terá que dar sequência às investigações.
João Guilherme
Granja aponta ainda as possibilidades: "Se o país responde que não vai
tratar do nacional do seu país, ele abre ao poder judiciário que está a
investigar essa pessoa, a possibilidade de a investigar criminalmente."
Extradição ou
processo
Mas o delegado
lembra que isso não é uma janela para a impunidade: "O país diz não, essa
pessoa é um nacional e não vai ser extraditada, ela abre para o primeiro país o
poder de exigir que ele investigue e processe criminalmente e puna. Com a
extradição existe uma dupla obrigação: ou se extradita, ou se processa."
O representante do ministério brasileiro da Justiça explica as dificuldades diante de um acordo específico entre o Brasil e Angola, ainda sem conclusão: "Existe um acordo bilateral cuja internacionalização não foi concluída, não está em vigor."
Mas o representante
lembra que existe um acordo que abrange os dois países: "É uma convenção
da CPLP, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, que abrange Angola e
Brasil, sobre a extradição que está em vigor. Foi finalizado pelo Brasil em
fevereiro deste ano."
Entretanto, a
Constituição brasileira, por exemplo, proíbe a extraditação de um brasileiro.
João Guilherme Granja explica em que contexto a extradição pode ser feita:
"E os acordos de extradição também prevêm que não se extradite um nacional
do país. Nesses casos tem de haver provocação para o processo criminal."
Rejeição da
acusação
Bento Kangamba,
atráves de um porta-voz, já desmentiu as acusações, considerando que o objetivo
de tudo é atingir e caluniar outras personalidades.
Bento dos Santos Kangamba, de 48 anos de idade, é casado com uma sobrinha de José Eduardo Santos, o Presidente de Angola. O general é também presidente do Kabuscorp que milita na primeira divisão do Girabola, a principal liga de futebol de Angola. O general é ainda patrocinador do Vitória de Guimarães em Portugal. Há suspeitas que através das suas atividades o general esteja envolvido na lavagem de dinheiro.
Mas a polícia
angolana, de acordo com o Angonotícias, diz que não recebeu nenhuma notificação
da polícia brasileira sobre o caso. Isso até o passado dia 4 de novembro.
Autoria: Camila
Campos (Belo Horizonte) – Edição: Nádia Issufo / António Rocha
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