segunda-feira, 25 de novembro de 2013

RAPTO DE PORTUGUÊS CONFIRMA QUE PROBLEMA PERMANECE EM MOÇAMBIQUE

 


João Manuel Rocha (em Maputo) e Ana Dias Cordeiro - Público
 
Foi de manhã, à vista de todos, numa movimentada artéria da cidade. Polícia diz que, na participação, família declarou que se trata de um cidadão moçambicano.
 
O caso veio confirmar que, apesar de mais de uma semana de ausência de notícias sobre crimes do género, o problema dos raptos em Moçambique permanece. Um jovem português, de 22 anos, foi sequestrado, no sábado, na capital moçambicana, por homens armados que o imobilizaram e obrigaram a entrar num carro sem matrícula.
 
O rapto ocorreu de manhã, pelas 9h30, pouco depois de ter estacionado o automóvel em que seguia, em plena Avenida Samora Machel – uma movimentada artéria que desce do Largo da Independência, onde foi erguida a estátua do primeiro Presidente de Moçambique, em direcção à Baixa da cidade.
 
Testemunhas citadas pelo jornal moçambicano O País contaram que, mal estacionou, o jovem foi interceptado por cinco homens mascarados, todos armados. Dois deles usariam pistolas de assalto do tipo AK47, disse ao jornal uma das pessoas que assistiram ao rapto. Foi tudo muito rápido, não mais de cinco minutos.
 
A nacionalidade do jovem raptado prestou-se a alguma confusão e parece estar-se em presença de um caso de dupla nacionalidade. Depois de, num primeiro contacto em que disse não estar em condições de confirmar, nem desmentir, se se trata de um português, o porta-voz do comando-geral da Polícia da República de Moçambique, Pedro Cossa, afirmou ao PÚBLICO que “na participação feita os familiares dizem que é cidadão moçambicano”.
 
Num contacto telefónico, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, declarou tratar-se de um português nascido em 1991.Os pais desenvolvem actividade comercial em Moçambique e ele próprio trabalha. O irmão, acrescentou, ia casar-se no dia seguinte. Fonte da comunidade portuguesa, que pediu para não ser identificada, tinha já adiantado a nacionalidade. Não foi possível apurar se, como em casos anteriores, foi exigido resgate à família.
 
O rapto de sábado é o quarto caso que envolve portugueses, desde há cerca de um mês. Os outros três foram entretanto libertados. Mas muitas outras situações envolvendo moçambicanos têm criado insegurança na cidade. Maputo assiste desde 2011 a raptos cometidos por redes que, pelo menos nalguns casos, terão ramificações na polícia – os casos de condenação pela Justiça incluem agentes de segurança.
 
As vítimas têm sido, essencialmente, cidadãos com elevada capacidade financeira. Mas um caso revelado há dias pelo PÚBLICO pode indiciar uma replicação do fenómeno para grupos de mais baixos rendimentos: um funcionário público teve de pagar 50 mil meticais (cerca de 1250 euros) para lhe entregarem o filho.
 
O mais recente caso envolvendo portugueses aconteceu dois dias depois de o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo ter condenado quatro arguidos a penas entre 13 e 17 anos de cadeia, pelo sequestro de duas pessoas, em 2012. Três deles tinham já sido sentenciados a 15 anos de cadeia. Foi a terceira sentença contra raptores nas últimas semanas.
 
O quotidiano da cidade é de aparente normalidade, mas a sucessão de raptos obrigou a algumas mudanças nas rotinas e a mais cuidados com a segurança. No final de Outubro, depois do assassínio de um menor que havia sido raptado,na Beira, milhares de pessoas saíram à rua em Maputo e noutras cidades, em protesto contra falta de protecção por parte do Estado.
 

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