João Manuel Rocha (em Maputo) e Ana Dias Cordeiro - Público
Foi de manhã, à
vista de todos, numa movimentada artéria da cidade. Polícia diz que, na
participação, família declarou que se trata de um cidadão moçambicano.
O caso veio
confirmar que, apesar de mais de uma semana de ausência de notícias sobre
crimes do género, o problema dos raptos em Moçambique permanece. Um jovem
português, de 22 anos, foi sequestrado, no sábado, na capital moçambicana, por
homens armados que o imobilizaram e obrigaram a entrar num carro sem matrícula.
O rapto ocorreu de
manhã, pelas 9h30, pouco depois de ter estacionado o automóvel em que seguia,
em plena Avenida Samora Machel – uma movimentada artéria que desce do Largo da
Independência, onde foi erguida a estátua do primeiro Presidente de Moçambique,
em direcção à Baixa da cidade.
Testemunhas citadas
pelo jornal moçambicano O País contaram que, mal estacionou, o jovem foi
interceptado por cinco homens mascarados, todos armados. Dois deles usariam
pistolas de assalto do tipo AK47, disse ao jornal uma das pessoas que
assistiram ao rapto. Foi tudo muito rápido, não mais de cinco minutos.
A nacionalidade do
jovem raptado prestou-se a alguma confusão e parece estar-se em presença de um
caso de dupla nacionalidade. Depois de, num primeiro contacto em que disse não
estar em condições de confirmar, nem desmentir, se se trata de um português, o
porta-voz do comando-geral da Polícia da República de Moçambique, Pedro Cossa,
afirmou ao PÚBLICO que “na participação feita os familiares dizem que é cidadão
moçambicano”.
Num contacto
telefónico, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, declarou
tratar-se de um português nascido em 1991.Os pais desenvolvem actividade
comercial em Moçambique e ele próprio trabalha. O irmão, acrescentou, ia
casar-se no dia seguinte. Fonte da comunidade portuguesa, que pediu para não
ser identificada, tinha já adiantado a nacionalidade. Não foi possível apurar
se, como em casos anteriores, foi exigido resgate à família.
O rapto de sábado é
o quarto caso que envolve portugueses, desde há cerca de um mês. Os outros três
foram entretanto libertados. Mas muitas outras situações envolvendo
moçambicanos têm criado insegurança na cidade. Maputo assiste desde 2011 a
raptos cometidos por redes que, pelo menos nalguns casos, terão ramificações na
polícia – os casos de condenação pela Justiça incluem agentes de segurança.
As vítimas têm
sido, essencialmente, cidadãos com elevada capacidade financeira. Mas um caso
revelado há dias pelo PÚBLICO pode indiciar uma replicação do fenómeno para
grupos de mais baixos rendimentos: um funcionário público teve de pagar 50 mil
meticais (cerca de 1250 euros) para lhe entregarem o filho.
O mais recente caso
envolvendo portugueses aconteceu dois dias depois de o Tribunal Judicial da
Cidade de Maputo ter condenado quatro arguidos a penas entre 13 e 17 anos de
cadeia, pelo sequestro de duas pessoas, em 2012. Três deles tinham já sido
sentenciados a 15 anos de cadeia. Foi a terceira sentença contra raptores nas
últimas semanas.
O quotidiano da
cidade é de aparente normalidade, mas a sucessão de raptos obrigou a algumas
mudanças nas rotinas e a mais cuidados com a segurança. No final de Outubro,
depois do assassínio de um menor que havia sido raptado,na Beira, milhares de
pessoas saíram à rua em Maputo e noutras cidades, em protesto contra falta de
protecção por parte do Estado.
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