segunda-feira, 25 de novembro de 2013

SOMOS CAIMANEROS!

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – A 15 de Novembro do corrente a Embaixada de Cuba em Angola assinalou o aniversário do reconhecimento diplomático da independência de Angola, confirmando uma vez mais os laços internacionalistas da revolução cubana com o movimento de libertação desde o início da década de sessenta.

Na síntese que a Embaixadora de Cuba em Angola, Gisela Garcia Rivera, aproveitou para fazer, foi realçado o esforço da participação cubana na educação, na saúde e em outras actividades em Angola, como o caso da construção, sublinhando que o que se está a fazer hoje é sequência dum passado comum de lutas e de resgates, desde o tempo omisso da escravatura conforme modelo que no passado de séculos os poderes europeus transportaram e “fizeram florescer” via Atlântico!

É justo que as datas comemorativas tragam motivações para, ao lembrar os percursos comuns desde as trevas coloniais, termos a noção dos resgates comuns que há ainda a realizar, pois só assim podemos compreender o que nos une no presente e garantir o tanto que há por fazer no futuro!

Em Outubro de 2004 por via do ACTUAL eu ressaltava a necessidade da continuidade da Operação Carlota, agora por via da educação, da saúde, da construção e de todas as actividades que dessem corpo ao tanto que une os povos de Cuba e de Angola.

Volvidos 9 anos, podemos dizer que a Operação Carlota continua e continuará enquanto houver resgates comuns para fazer!

2 – Há sequelas que se arrastam desde o passado longínquo que é urgente vencer: subdesenvolvimento, analfabetismo, doença, desequilíbrios sociais de toda a ordem, traumas que marcam a existência de tantos seres humanos…

Assumir um discurso “à esquerda” aqui e agora, com valor efectivamente socialista, mesmo que tal não seja anunciado, passa por todas essas questões que marcam as sociedades e os povos por uma simples razão: essas são questões sobre as quais a globalização neo liberal, após o colapso do socialismo real na Europa, tem vindo a lançar a confusão, para melhor poder manipular e fazer valer seus interesses e conveniências!

Não é por acaso que contra a comunidade internacional em peso, o império continua a impor um bloqueio manifesto a cada ano que passa na Assembleia Geral da ONU, na vã tentativa de fazer parar o que a revolução cubana, património da humanidade, com tantos sacrifícios alcançou em benefício dos mais deserdados da Terra!

A paz no entanto só é possível com sabedoria, equilíbrio e justiça social e o socialismo por isso faz parte da sua essência: não lhe sendo contraditório, é o maior dos seus garantes, com todas as insuficiências que tenham até agora havido, por que socialismo implica humanismo, solidariedade, respeito pelo homem e pela natureza e sobretudo a vontade de partilha que, de forma inteligente seja alternativa efectiva ao egoísmo, à devassidão, à arrogância dum poder cada vez mais repressivo que se filtra na riqueza acumulada apenas por aqueles que compõem 1% de todos os seres humanos em vida!

3 – Na base da ementa neo liberal está a lógica capitalista exacerbada, que usa e abusa das portas escancaradas que os poderosos pretendem em todo o mundo, para que esses 1% do cimo da pirâmide económica e financeira global melhor possam dominar e marcar antes de mais em seu benefício o compasso dos tempos.

O socialismo contudo responde a essa lógica hoje não mais pela via das armas, mas por via da paz, da educação, da saúde e da vontade dos povos em vencer todos os traumas e obstáculos que advêm do passado, respeitando-se uns aos outros e ao planeta, nossa casa comum!

Constituindo a revolução cubana um exemplo do que tem sido bem conseguido, com base nos seus fundamentos interessa questionar se haverá alguma vez paz com índices baixos de desenvolvimento humano em termos de educação, de saúde e de justiça social!?

Os percursos comuns consolidados pelo movimento de libertação, são a prova que um universo socialista, de paz e de respeito pela natureza e pelo planeta, não são utopia, dependendo muito da vontade dos povos e Angola e Cuba têm vontade em equacionar os laços comuns, sem deixar de aprofundar os ganhos da democracia!

4 – Angola e Cuba continuam a lançar sinais fortes na via comum e exemplar que têm traçado, mesmo quando em presença de outras opções e face a outros interesses e conveniências!

Uma das provas dessa vontade está na existência dos “caimaneros”, uma organização formada por muitos dos estudantes angolanos que aprenderam em Cuba, que a cada ano que passa tem a oportunidade de receber mais “reforços”!

As aspirações dos povos não estão esgotadas, por que não se revêem nos consumismos exacerbados que têm proliferado e têm atingido as sociedades mesmo nos mais longínquos locais do globo!

A aspiração à continuação dos resgates sobre os desafios que ocorrem com fonte no passado é um manancial inesgotável que nos obriga à criatividade, à paciência, à persistência, à resistência, ao trabalho e à consciência rebelde, por que o sentido de vida prevalece sob os pontos de vista ético e moral sobre a lógica capitalista!

5 – Os activistas que se manifestam em nome dos direitos humanos sem pôr em causa a lógica capitalista que semeia em África as desigualdades, as injustiças sociais, as tensões, os conflitos e as guerras, assemelham-se a vermes: alimentam-se da podridão, nunca pondo em causa o que provocou essa mesma podridão, a fim de melhor contribuir para gerar, usar e abusar, em pleno pântano, a ilusão de liberdade, de justiça e de democracia!

Alguns deles aspiram, ao brilhar entre os premiados por algumas organizações internacionais que respondem aos interesses de donos bem identificados pelo seu poder, elitismo e hegemonia, a muito mais do que o direito a ter voz nos mais dilectos média de referência como a Voice of America, pois alguns não escondem, por via de “revoluções coloridas” e de “primaveras árabes” característicos das últimas décadas, ao que vêm: de facto alcançar o poder e fazer o jogo do império que os sustem!

Esses “activistas-fantoches” por isso não compartilham as aspirações “terceiro-mundistas” de paz, de solidariedade, de socialismo e de democracia, por que de facto isso não faz parte de sua cultura, não foi para isso que eles foram criados, não é para isso que eles se deixam manipular, não é essa a sua vocação!

Esse envenenamento das opções sócio-políticas não cabem nos relacionamentos entre Cuba e Angola e por isso o caminho comum tem tornado possível manter viçosas as convicções, como as práticas que delas resultam!

Continuamos a Operação Carlota e por isso, velhos, de meia idade, jovens, SOMOS CAIMANEROS!

Foto: Os “caimaneros”, estudantes angolanos formados ano após ano em Cuba, que participam hoje na reconciliação e reconstrução nacional, bem como nas políticas de reinserção em curso em Angola!
 

1 comentário:

Anónimo disse...

"A alegria do Evangelho": publicada a Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre o anúncio do Evangelho no mundo actual

...

Falando dos desafios do mundo contemporâneo, o Papa denuncia o actual sistema económico, que "é injusto pela raiz" (59). "Esta economia mata" porque prevalece a "lei do mais forte". A actual cultura do "descartável" criou "algo de novo": “os excluídos não são ‘explorados’, mas ‘lixo’, 'sobras'" (53). Vivemos uma "nova tirania invisível, por vezes virtual" de um "mercado divinizado", onde reinam a "especulação financeira", "corrupção ramificada", "evasão fiscal egoísta" (56). Denuncia os "ataques à liberdade religiosa" e as "novas situações de perseguição dos cristãos ... Em muitos lugares trata-se pelo contrário de uma difusa indiferença relativista" (61). A família - continua o Papa - "atravessa uma crise cultural profunda.


O Papa reafirma "a íntima conexão entre evangelização e promoção humana" (178 ) e o direito dos Pastores a "emitir opiniões sobre tudo o que se relaciona com a vida das pessoas" (182). "Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião à secreta intimidade das pessoas, sem qualquer influência na vida social". "A política, tanto denunciada" - diz ele - "é uma das formas mais preciosas de caridade". "Rezo ao Senhor para que nos dê mais políticos que tenham verdadeiramente a peito ... a vida dos pobres!" Em seguida, um aviso: "qualquer comunidade dentro da Igreja" que se esquecer dos pobres corre "o risco de dissolução" (207) .

...

http://pt.radiovaticana.va/news/2013/11/26/a_alegria_do_evangelho:_publicada_a_exortação_apostólica_do_papa/por-750109


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