Augusto Correia –
Jornal de Notícias
Dois voluntários
portugueses da Assistência Médica Internacional passaram dois dias em Tacloban,
cidade no norte da ilha de Leyte, nas Filipinas, que ficou praticamente
destruída pela passagem do tufão Haiyan. Com ventos de 320 quilómetros hora, a
tempestade deixou para trás "um cenário de destruição total".
Sofia Costa e Tiago
Swart não vêem uma cama há dois dias. Passaram as últimas 48 horas em Tacloban,
no epicentro da destruição causada pelo tufão Haiyan, nas Filipinas. Feito o
levantamento das necessidades mais prementes e garantida a parceira com uma
organização no terreno, as irmãs Madre Teresa, os dois voluntários da
Assistência Médica Internacional (AMI) regressam a Surigao para comprar mantimentos
que vão ser distribuídos no norte da ilha de Leyte, fortemente afetado pela
tempestade tropical do fim-de-semana, que causou perto de três mil mortos.
"Encontrámos
uma grande devastação. Está tudo destruído, num raio de 30 a 40 quilómetros. É
um cenário de destruição total, de catástrofe", contou Sofia Costa, ao
telefone de Surigao, esta quinta-feira de manhã. Em Tacloban, seis dias após o
tufão ainda há "muitos corpos nas bermas das estradas", no meio de
"um cenário caótico", descreve aquela voluntária da AMI.
"As maiores
dificuldades são a falta de comida e água potável. As pessoas estão a beber
água da chuva ou água não tratada e já há muitos casos de crianças com
diarreias", contou Sofia Costa. "Uma coisa leva a outra",
explicou, a falta de comida e água potável agudiza os problemas de saúde, com
casos de doença a acrescer aos mais de três mil feridos pela passagem do
furacão.
Os postes de
electricidade foram derrubados, ainda há muitas estradas intransitáveis e as
pessoas desalojadas estão a viver em centros de evacuação, nas ruas ou em
tendas improvisadas. "A comida está a ser distribuída pelos militares,
todos os dias as pessoas enfrentam uma fila interminável para receber um quilo
de arroz", contou Sofia Costa, já com 15 anos de voluntariado no
currículo.
"Já tínhamos
experiência de voluntariado internacional, por isso a falta de água, de luz ou
comida não foi um problema", observou Sofia Costa, ao detalhar o que
sentiu ao entrar em Tacloban. "Ver tudo destruído, os corpos ensacados, o
cheiro, as pessoas a andar de um lado para o outro, sem saber muito bem para
onde, porque praticamente não há transportes e é difícil sair da ilha, foi
muito difícil".
Entrar em Leyte
também não foi nada fácil, como atesta a jornada de Tiago e Sofia, que
demoraram quase 48 horas a chegar da ilha de Siargao,
onde estavam de férias quando o tufão atingiu as Filipinas, a Tacloban, no
norte da ilha de Leyte. Pelo meio uma escala de quase 14 horas no porto da ilha
de Surigao, a principal porta de saída para o epicentro da catástrofe.
À chegada a Saint
Bernard, na ilha de Leyte, após uma viagem de barco de pouco mais de duas
horas, Sofia e Tiago tiveram de esperar cerca de uma hora até que as viaturas
militares estivessem prontas para sair para Tacloban. "Não nos deixavam
seguir sem escolta, porque era muito perigoso por causa das pilhagens",
recordam.
"A viagem por
estrada, que demora normalmente entre duas a três horas, demorou sete",
das 10 da noite às cinco da amanhã, para percorrer os cerca de 150 quilómetros
entre o sul e o norte da ilha de Leyte. "Como o dia estava a nascer, assim
que chegamos começamos logo a trabalhar, a tentar identificar as necessidades
maiores e a encontrar um parceiro no terreno", conta Sofia Costa.
A "ansiedade"
de querer chegar ao local e começar a trabalhar, companheira de cerca de 48
horas de viagem, ficou esquecida à vista da destruição em Tacloban. Um ambiente
"pesado", para o qual os dois voluntários se prepararam mentalmente
durante as longas horas de espera. "O que vimos até nos deu mais força e
mais vontade de fazer alguma coisa, de ajudar", disse Sofia Costa.
É com essa força e
motivação que estão de regresso a Surigao. Nesta ilha, que não foi afetada pelo
furacão, Tiago e Sofia vão adquirir mantimentos para levar para Tacloban, de
acordo com as necessidades identificadas pelo parceiro no terreno, as irmãs
Madre Teresa, que acolhe várias famílias na zona da catástrofe.
"A ideia é
encher a carrinha das irmãs com o máximo que conseguirmos", disse Sofia Costa.
Arroz, água potável e enlatados são prioritários. A falta de condições de
segurança e as dificuldades em circular nas estradas da ilha de Leyte
conduziram à opção por uma carrinha de mercadorias, em vez do aluguer de um
camião TIR.
"Contamos
levar o essencial para três dias e vamos reavaliando", disse Sofia Costa,
ciente de que após quase uma semana ainda há muito a fazer no terreno. "Há
muitas vilas onde a ajuda ainda não chegou. Há muitas estradas sem acesso,
edifícios destruídos, postes de eletricidade caídos. Percebe-se porque demora a
chegar a ajuda", disse, considerando que "o trabalho está a ser feito
a bom ritmo", dadas as circunstâncias e as dificuldades de operar num
local afetado pela maior tempestade conhecida no Mundo.
Foto Edgar Su -
Reuters
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