Isabel Tavares e
Joana Azevedo Viana – jornal i
Em Estrasburgo, o
primeiro-ministro timorense falou com o i sobre o fundo que não chegou a ser
criado, sobre o caso sunrise e sobre a sua saída do cargo até 2015
O primeiro-ministro
timorense, Xanana Gusmão, sentiu-se na obrigação moral de ajudar Portugal a
encontrar uma saída para a crise e foi ao Brasil negociar com a presidente
Dilma Rousseff um empréstimo. O plano incluía a participação de Angola, que
caberia ao presidente Ramos Horta convencer.
Xanana Gusmão
contou ao i os bastidores da história, à margem do prémio Sakharov, entregue à
jovem paquistanesa Malala Yousafzai, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo.
"Acompanho a
situação em Portugal desde 2008. A ideia era que os três pudessem ajudar, não a
salvar Portugal, mas dar algum apoio e mostrar às organizações financeiras
internacionais que há um país em crise. Nós temos essa experiência, sabemos
dizer exactamente de que forma poderia ser ajudado, já sabemos o que resulta e
o que não resulta."
O primeiro-ministro
timorense chegou a ir ao Brasil encontrar-se com Dilma e ficou definido que,
depois, o presidente Ramos Horta iria a Angola pedir uma contribuição. "O
tempo foi passando e, quando Dilma foi a Portugal e tomou consciência do valor
da dívida saiu um bocadinho a correr assustada com os números. E eu creio que
também me assustei. Senti uma obrigação moral de ajudar, mas quando foi
anunciado o valor da dívida percebemos que estava fora do nosso alcance, o
plano era maior do que as nossas capacidades, não dava", confessou Xanana
Gusmão.
Agora, é tarde de
mais. Ainda assim, e "como observador", Xanana Gusmão atreve-se a
dizer que "o políticos portugueses falam de mais e é tempo de se deixarem
disso. Cada um quer liderar qualquer coisa que não existe e quem está a sofrer
é o povo, quem está a sofrer é a nação", lembrou. "Em Portugal falhou
o controlo, mas agora não vale a pena estarem a apontar os dedos uns aos
outros, assim não se anda para a frente. O que é preciso é encontrar uma
solução".
Caso Sunrise
Gusmão
foi parco em palavras quanto ao caso Greater Sunrise, meses depois de Timor ter
acusado a Austrália de espionagem de informação confidencial sobre a exploração
de gás e petróleo no Mar de Timor. Em causa está o Tratado sobre Determinados
Ajustes Marítimos no Mar de Timor, assinado pelos países em 2007 para facilitar
a exploração dos recursos na zona marítima fora da Área Conjunta de
Desenvolvimento do Petróleo.
No final de Abril,
Xanana escreveu a Camberra e declarou o tratado inválido porque a Austrália
"fez espionagem" durante as negociações do Plano de Desenvolvimento
do campo de exploração de gás Greater Sunrise, que criou um impasse entre a
petrolífera australiana Woodside e as autoridades timorenses.
"A 5 de
Dezembro o trio de arbitragem vai encontrar-se com as partes para discutir as
formalidades processuais", acrescentou sem mais pormenores.
Xanana Gusmão
anunciou que pretende abandonar o cargo de primeiro-ministro até 2015.
"Abandonar não, eu não vou abandonar. Eu vou deixar o cargo para permitir
à nova geração uma maior capacidade de responsabilização. Nós, a geração mais
velha, às vezes ficamos [na política] como uma sombra e isso não ajuda as
pessoas a produzir e a demonstrarem participação, então é nesse espírito de
deixar os mais jovens enfrentar as dificuldades que decidi sair", explicou
ao i.
Sem comentários:
Enviar um comentário