terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Angola: EX-MILITARES DENUNCIAM CORRUPÇÃO NAS FORÇAS ARMADAS

 

Folha 8 – 07 dezembro 2013
 
As Forças Armadas exigem dinheiro para agilizar os processos de revalidação de patentes. A venda de patentes a civis também preocupa o Fórum Independente dos Desmobilizados de Guerra. Há generais que nunca pegaram numa arma. Ter dinheiro é suficiente. O Fórum Independente dos Desmobilizados de Guerra (FIDEGA) está desapontado, revela a Voz da Alemanha, com o processo de revalidação dos cerca de 32 mil ex-militares das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), antigo braço armado do MPLA, bem como das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), da UNITA, ao nível da província da Huíla, por lhes estarem a ser cobrados 50 mil kwanzas, o equivalente a 500 dólares, para agilizarem o caso.
 
O presidente do FIDEGA, Coronel na reserva Nunes Manuel (Tubia), afirma que esta situação preocupa os antigos combatentes pelo facto de ser um direito que lhes cabe por lei e estes valores serem pedidos por elementos identificados das Forças Armadas Angolanas (FAA), no Distrito de Recrutamento Militar, onde são chamados várias vezes pelos seus filiados, a fim de procurarem contornar a situação.
 
“A corrupção não parou. Mesmo que as pessoas tenham esse direito, às vezes para encontrar este benefício têm de responder a uma solicitação de dar 500 dólares para se agilizar o processo”, explica o presidente do FIDEGA. “E têm esse direito, não precisam disto, porque os órgãos do Exército têm de realizar o trabalho que lhes compete”, continua, explicando que o Fórum fica “muitas vezes sem saber o que fazer” perante estas situações.
 
Devido a esta e outras situações, o processo de revalidação dos ex-militares - 12 mil homens da UNITA e 22 mil do MPLA -, segundo fontes que acompanham o processo, ainda nem atingiu os 2%, ao nível da província da Huíla. De acordo com Nunes Manuel, “todo este processo tem vícios, benefícios de direitos de outrem” que têm manchado o processo por parte de altas patentes do exército. E, por isso, deixa o alerta: “os desmobilizados encontram-se numa situação de perigo”.
 
Para resolver a situação, o presidente do FIDEGA propõe “uma comissão de auscultação no seio das Forças Armadas”. “Mesmo assim, desde Abril que fazemos estas reivindicações e até hoje não houve resposta”, conta. “Os Antigos Combatentes em Angola estão abandonados, humilhados, desprezados”, afirma Nunes Manuel, explicando que “a frustração” está a tomar conta destes oficiais. “Ninguém diz nada. Endereçámos uma carta ao gabinete do vice-Presidente da República, ao ministro da Defesa, ao Estado Maior das Forças Armadas que, até hoje, disseram absolutamente nada. Não há vontade por parte do Governo”.
 
A secretária provincial da UNITA na Huíla, Amélia Judith Ernesto, diz, por sua vez, que há mais de cinco mil pessoas por revalidar. O seu partido, afirma, tem estado a pressionar as estruturas do Governo para que resolvam a situação.
 
“É um processo que está a ser negligenciado”, considera, exemplificando com “a venda de patentes”. “Se estamos num Estado onde existem órgãos, porque é que alguém não põe um ponto final nesta situação?”, questiona ainda, frisando que “aqueles que deviam ser desmobilizados andam a deambular por todo o país e aqueles que nem se quer foram militares, hoje, porque têm disponibilidades financeiras, podem comprar as patentes”.
 
Várias franjas da sociedade têm vindo a exigir ao Governo que se pronuncie sobre o assunto, uma vez que empresários de renome e alguns políticos que nunca pegaram em armas são generais na Caixa Social, de acordo com o blogue Makangola. Entre estas figuras estão o empresário Luís da Fonseca Nunes e João Marcelino Tchipingui, primeiro secretário provincial do MPLA desde 1992 e governador da província da Huíla.
 

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