Helder Semedo
Foi agora que mais
sentimos o vazio sentido pela falta do Presseurop, quando recorremos à
publicação online que habitualmente usámos para compilar este ou aquele artigo
traduzido para português… Mas, nada. O Presseurop chegou ao fim. Acabou. Está
lá mas sem as devidas atualizações, desde o passado dia 20 de dezembro. Os
cidadãos europeus que não dominam outros idiomas para além do seu, do país de
sua origem, foram atirados para o obscurantismo conveniente aos eurocratas e crápulas
neoliberais da UE que rumam ao socialfascismo mercantilista da modernidade. Foi do Presseurop
que retirámos isto:
“AOS NOSSOS
LEITORES
O Presseurop
deixará de ser atualizado a partir de 20 de dezembro, por causa do fim do
contrato que ligava o nosso sítio à Comissão Europeia. Agradecemos a vossa
fidelidade e o vosso apoio e estamos a estudar todas as hipóteses que nos
permitam relançar o Presseurop o mais brevemente possível.”
Acabou o contrato
e, alegadamente, não há verba na UE para patrocinar o trabalho meritório e
dantesco de um grupo de profissionais que levavam a todos os países da UE a
atualidade e a opinião diversa sobre a mais de duas dezenas de países da União.
Era assim que sabíamos, percebiamos e formávamos opinião sobre o bem e o mal
daquilo que na UE acontecia… Mas para isso não há verba. As verbas milionárias
destinam-se a outras altas cavalarias e outros altos “cavalheiros” que talvez
na sua maioria não vão a menos de tratantes que esbanjam a seu bel-prazer e em
benefício próprio, dos amigalhaços e das suas famílias políticas e partidárias.
Servem-se dizendo que estão servindo os cidadãos europeus.
Haverá quem
considere esta nossa opinião contundente. Pois será para os não tratantes
alojados na UE, mas não o é porque a eles não se destina o dito e escrito. Os
visados são mesmo os tratantes e esses sabem melhor que ninguém que o são e que
merecem ser abalrroados pelas verdades destas palavras. Para esses a
contundência das palavras é insignificante se soubermos avaliar as suas
atitudes e posturas de conspurcação de um ideal de Monet e de tantos outros
europeístas honestos e de excelsa reputação. Mais que palavras uns quantos
mereceriam a prisão depois de devidamente investigados e julgados. Mas isso é
só outra das vertentes da UE que há muito se afastou dos objetivos por que foi
formada para se transformar num clube de ricos e de pobres. Ricos que (cada vez
mais ricos) tomam por missão explorar e dessoberanizar os países pobres (do
sul). Muitas vezes era isso que se percebia nos artigos de Presseurop, além de
outras enormes incongruências e desumanidades. Defacto convinha calar o
Presseurop.
Do editorial do
Presseurop compilámos o seu último fôlego, diplomático e esperançoso.
Até breve
Todos os dias, a
redação escolhe, traduz em dez línguas e examina o que a imprensa europeia e
mundial escreve de mais recente e original sobre a Europa. Não nos interessa a
Europa institucional, já bem divulgada, mas a Europa como é vivida pelos homens
e mulheres. Esta foi a profissão
de fé que fizemos em 26 de maio de 2009, dia em que o Presseurop nasceu.
Quatro anos e meio depois, “este sonho de jornalistas e de cidadãos”
cumpriu-se, mas tem
de parar, por falta de financiamento.
Durante este
período, a Europa mudou de rosto. Em 2009, a questão estava em saber se José
Manuel Durão Barroso seria reconduzido
na chefia da Comissão Europeia e se os irlandeses iriam aprovar
o Tratado de Lisboa num segundo referendo. Poucos meses depois, rebentava a
crise grega e o cortejo de perigos inerentes para toda a zona euro. Da Irlanda
a Portugal, do Fundo Europeu de Estabilização Financeira à união bancária, do “Merkozy”
a milhões de jovens
desempregados em busca de um futuro, o Presseurop adaptou-se às novas
realidades da União Europeia, seguindo o quotidiano dos europeus e analisando
os cenários que se apresentavam.
Este trabalho foi
feito graças a uma equipa de jornalistas, correspondentes e tradutores – mais
de 100 pessoas, ao longo dos anos, a que cabe aqui agradecer efusivamente – que
conseguiu conjugar as diferenças de língua, de cultura e de visão do mundo.
Numa época em que a União Europeia se dividia entre Norte e Sul, zona euro e
exterior à zona euro, elites
europeias e cidadãos, o Presseurop revelou-se um laboratório vivo do que
pode ser o espaço público europeu.
Em mais nenhum
lugar era possível ler editoriais gregos, destaques da imprensa húngara e
reportagens retiradas de jornais bálticos, romenos ou alemães. Em mais nenhum
lugar era possível comparar as análises dos jornalistas mais influentes da
Europa. E sobretudo, em mais nenhum lugar era possível ler e escrever
comentários em todos os idiomas, traduzidos automaticamente.
Numa altura em que
muitos sites procuram desesperadamente aumentar os números das respetivas
audiências, quisemos cultivar laços com uma audiência mais limitada, no sentido
latino do termo: a daqueles que ouvem. Durante quatro anos e meio, o leitor
ouviu a voz singular do Presseurop e replicou-a através de milhares de
comentários e da assinatura da petição de apoio. Por isso,
não é um adeus que lhe enviamos hoje, mas um “até já”. Apenas pelo tempo
necessário para encontrar – por seu intermédio, quem sabe? – meios para
retomarmos, o mais depressa possível, o nosso diálogo europeu.
Desde já, para não
se cortar a ligação que nos liga a vocês e que vos junta a todos,
convidamos-vos a continuarem o debate no blogue Friends of Presseurop, que
criámos para este efeito. Venham todos!
*Imagem retirada de
Presseurop
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