segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

EUROCRATAS PROMOVEM O OBSCURANTISMO EXTINGUINDO O PRESSEUROP

 

Helder Semedo
 
Foi agora que mais sentimos o vazio sentido pela falta do Presseurop, quando recorremos à publicação online que habitualmente usámos para compilar este ou aquele artigo traduzido para português… Mas, nada. O Presseurop chegou ao fim. Acabou. Está lá mas sem as devidas atualizações, desde o passado dia 20 de dezembro. Os cidadãos europeus que não dominam outros idiomas para além do seu, do país de sua origem, foram atirados para o obscurantismo conveniente aos eurocratas e crápulas neoliberais da UE que rumam ao socialfascismo mercantilista da modernidade. Foi do Presseurop que retirámos isto:
 
“AOS NOSSOS LEITORES
 
O Presseurop deixará de ser atualizado a partir de 20 de dezembro, por causa do fim do contrato que ligava o nosso sítio à Comissão Europeia. Agradecemos a vossa fidelidade e o vosso apoio e estamos a estudar todas as hipóteses que nos permitam relançar o Presseurop o mais brevemente possível.”
 
Acabou o contrato e, alegadamente, não há verba na UE para patrocinar o trabalho meritório e dantesco de um grupo de profissionais que levavam a todos os países da UE a atualidade e a opinião diversa sobre a mais de duas dezenas de países da União. Era assim que sabíamos, percebiamos e formávamos opinião sobre o bem e o mal daquilo que na UE acontecia… Mas para isso não há verba. As verbas milionárias destinam-se a outras altas cavalarias e outros altos “cavalheiros” que talvez na sua maioria não vão a menos de tratantes que esbanjam a seu bel-prazer e em benefício próprio, dos amigalhaços e das suas famílias políticas e partidárias. Servem-se dizendo que estão servindo os cidadãos europeus.
 
Haverá quem considere esta nossa opinião contundente. Pois será para os não tratantes alojados na UE, mas não o é porque a eles não se destina o dito e escrito. Os visados são mesmo os tratantes e esses sabem melhor que ninguém que o são e que merecem ser abalrroados pelas verdades destas palavras. Para esses a contundência das palavras é insignificante se soubermos avaliar as suas atitudes e posturas de conspurcação de um ideal de Monet e de tantos outros europeístas honestos e de excelsa reputação. Mais que palavras uns quantos mereceriam a prisão depois de devidamente investigados e julgados. Mas isso é só outra das vertentes da UE que há muito se afastou dos objetivos por que foi formada para se transformar num clube de ricos e de pobres. Ricos que (cada vez mais ricos) tomam por missão explorar e dessoberanizar os países pobres (do sul). Muitas vezes era isso que se percebia nos artigos de Presseurop, além de outras enormes incongruências e desumanidades. Defacto convinha calar o Presseurop.
 
Do editorial do Presseurop compilámos o seu último fôlego, diplomático e esperançoso.
 
Até breve
 
Todos os dias, a redação escolhe, traduz em dez línguas e examina o que a imprensa europeia e mundial escreve de mais recente e original sobre a Europa. Não nos interessa a Europa institucional, já bem divulgada, mas a Europa como é vivida pelos homens e mulheres. Esta foi a profissão de fé que fizemos em 26 de maio de 2009, dia em que o Presseurop nasceu. Quatro anos e meio depois, “este sonho de jornalistas e de cidadãos” cumpriu-se, mas tem de parar, por falta de financiamento.
 
Durante este período, a Europa mudou de rosto. Em 2009, a questão estava em saber se José Manuel Durão Barroso seria reconduzido na chefia da Comissão Europeia e se os irlandeses iriam aprovar o Tratado de Lisboa num segundo referendo. Poucos meses depois, rebentava a crise grega e o cortejo de perigos inerentes para toda a zona euro. Da Irlanda a Portugal, do Fundo Europeu de Estabilização Financeira à união bancária, do “Merkozy” a milhões de jovens desempregados em busca de um futuro, o Presseurop adaptou-se às novas realidades da União Europeia, seguindo o quotidiano dos europeus e analisando os cenários que se apresentavam.
 
Este trabalho foi feito graças a uma equipa de jornalistas, correspondentes e tradutores – mais de 100 pessoas, ao longo dos anos, a que cabe aqui agradecer efusivamente – que conseguiu conjugar as diferenças de língua, de cultura e de visão do mundo. Numa época em que a União Europeia se dividia entre Norte e Sul, zona euro e exterior à zona euro, elites europeias e cidadãos, o Presseurop revelou-se um laboratório vivo do que pode ser o espaço público europeu.
 
Em mais nenhum lugar era possível ler editoriais gregos, destaques da imprensa húngara e reportagens retiradas de jornais bálticos, romenos ou alemães. Em mais nenhum lugar era possível comparar as análises dos jornalistas mais influentes da Europa. E sobretudo, em mais nenhum lugar era possível ler e escrever comentários em todos os idiomas, traduzidos automaticamente.
 
Numa altura em que muitos sites procuram desesperadamente aumentar os números das respetivas audiências, quisemos cultivar laços com uma audiência mais limitada, no sentido latino do termo: a daqueles que ouvem. Durante quatro anos e meio, o leitor ouviu a voz singular do Presseurop e replicou-a através de milhares de comentários e da assinatura da petição de apoio. Por isso, não é um adeus que lhe enviamos hoje, mas um “até já”. Apenas pelo tempo necessário para encontrar – por seu intermédio, quem sabe? – meios para retomarmos, o mais depressa possível, o nosso diálogo europeu.
 
Desde já, para não se cortar a ligação que nos liga a vocês e que vos junta a todos, convidamos-vos a continuarem o debate no blogue Friends of Presseurop, que criámos para este efeito. Venham todos!
 
*Imagem retirada de Presseurop
 

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