Em Moçambique
editores de dois jornais foram ouvidos esta sexta-feira (13.12.) pela PGR no
âmbito da publicação de uma carta aberta do investigador Carlos Nuno
Castel-Branco. A missiva crítica o Presidente da República.
O Canal de
Moçambique e o MédiaFax, editados em Maputo, publicaram a opinião do economista
e investigador moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco.
Ambos os editores
foram chamados a depor esta sexta-feira (13.12.) na Procuradoria-Geral da
República na fase de instrução do processo.
Mas para Fernando
Banze, editor do Mediafax, a carta nada mais expressa do que temas da
atualidade de Moçambique: "A interpretação que dei a carta é que ela
aborda assuntos atuais, de governação, assuntos permentes que não só são
abordados naquela carta, mas são abordados por milhares e milhares de
moçambicanos todos os dias, usando várias vias, claro, como Facebook, jornais,
rádio e conversas de cáfe. Os assuntos são abordados todos os dias por milhares
e milhares de moçambicanos."
Na carta, Carlos Nuno Castel-Branco, diretor de investigação do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), uma organização indepentende sedeada em Maputo, questiona se o Presidente Armando Guebuza quer instalar o fascismo no país.
Na carta, Carlos Nuno Castel-Branco, diretor de investigação do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), uma organização indepentende sedeada em Maputo, questiona se o Presidente Armando Guebuza quer instalar o fascismo no país.
O investigador
acusa o líder pela atual crise politico-militar em Moçambique e compara-o com
ditadores como Hitler, Mussolini, Salazar e Franco.
Qual a origem do
processo-crime?
De acordo com o editor
do jornal Mediafax, a carta não pode ser vista como uma ofensa a Armando
Guebuza: "Eu pessoalmente e os colegas com quem abordei o assunto antes de
publicar a carta achamos que de ofensivo não tem nada."
E Fernando Banze
argumenta: "Uma coisa é discutir o assunto levantado por Castel-Branco e
outra é discutir a linguagem. O essencial que se discute na carta não ofende o
chefe de Estado.
Opinião partilhada por Fernando Veloso, o outro editor, neste caso do jornal Canal de Moçambique, ouvido pela PGR: "Ninguém atacou a figura do Presidente da República, o que se está a dizer é que o cidadão Armando Guebuza não serve para aquele cargo pela maneira como está a governar o país, não sei até que ponto isso é uma ofensa."
Opinião partilhada por Fernando Veloso, o outro editor, neste caso do jornal Canal de Moçambique, ouvido pela PGR: "Ninguém atacou a figura do Presidente da República, o que se está a dizer é que o cidadão Armando Guebuza não serve para aquele cargo pela maneira como está a governar o país, não sei até que ponto isso é uma ofensa."
O editor do Canal
de Moçambique justifica: "Ninguém se meteu na vida privada do senhor
Armando Guebuza, ninguém ofendeu em termos sociais a sua dignidade. Se ele não
estivesse naquele cargo certamente a carta de Castel-Branco não visaria ele,
visaria quem lá estivesse."
A carta foi inicialmente publicada nas redes sociais e terá partido da página de Facebook do investigador Castel-Branco.
A carta foi inicialmente publicada nas redes sociais e terá partido da página de Facebook do investigador Castel-Branco.
Entretanto, foi
reproduzida pelos referidos meios de comunicação social. Ao que tudo indica, o
processo-crime instaurado partiu do Procurador-geral Augusto Paulino, não se
sabe se por ordens superiores ou se por vontade própria.
Carlos Nuno
Castel-Branco está ausente de Moçambique, pelo que não foi ouvido pela PGR na
manhã desta sexta-feira (13.12).
Intimidação?
Quanto à carta,
Fernando Banze do Mediafax justifica porque motivos decidiu juntamente com o
conselho editorial do jornal publicar o documento: "O primeiro critério
tem a ver com a atualidade do assunto e o segundo é de interesse
nacional."
Para Fernando
Veloso, do Canal de Moçambique, só existe uma razão para este alarido: "É
um caso muito sério pela simples imagem que se quer passar ao cidadão comum,
embora eu também seja um cidadão comum, obviamente. Mas o que se está a querer
é intimidar o cidadão anónimo."
Para este editor,
ao notificarem o jornalista, que normalmente é o mensageiro, pretende-se passar
uma imagem aos 20 milhões de moçambicanos: "Como quem diz: tenham cuidado
com o que dizem porque a partir de agora este senhor está acima da lei e da
Constituição."
Tanto Fernando Veloso como Fernando Banze descartam que haja perseguição aos meios de comunição social em Moçambique. O assunto da carta continuará na Justiça do país. Espera-se agora o pronunciamento da Procuradoria-geral da República.
Tanto Fernando Veloso como Fernando Banze descartam que haja perseguição aos meios de comunição social em Moçambique. O assunto da carta continuará na Justiça do país. Espera-se agora o pronunciamento da Procuradoria-geral da República.
Na foto: Nuno
Castel-Branco, economista moçambicano
Deutsche Welle - Autoria:
Nuno de Noronha – Edição: Nádia Issufo / António Rocha
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