O líder da Renamo,
principal partido da oposição moçambicana, Afonso Dhlakama, deu a primeira
entrevista desde que fugiu para local desconhecido em outubro, mostrando
confiança na restauração da estabilidade política e militar no país até
fevereiro.
Afonso Dhlakama não
era visto em público desde o dia 17, três dias antes de o exército moçambicano
atacar e ocupar o acampamento em que vivia há mais de um ano, no centro do
país.
Desde o ataque de
Sadjundjira, a Renamo diz que desconhece o paradeiro do seu líder, tendo
surgido várias versões sobre a localização de Afonso Dhlakama, incluindo a de
que podia estar fora do país, algures no Quénia, país que teve contactos com o
movimento, quando ainda decorria a guerra civil moçambicana.
Em entrevista ao
semanário Canal de Moçambique, que diz ter a entrevista gravada, mas não indica
o local em que a mesma ocorreu, Afonso Dhlakama diz que vive perto de
Sadjundjira e mostra-se confiante que Moçambique voltará a ter estabilidade
política e militar até fevereiro.
"Este ano pode
não ser, mas em janeiro ou fevereiro vamos ter paz. Eu estou convencido. A
guerra dos 16 anos durou muito, porque não havia investimento
estrangeiro", disse Afonso Dhlakama, aludindo à guerra civil moçambicana,
que terminou com o Acordo Geral de Paz, em 1992.
"Os americanos
estão a fazer a prospecção de gás e petróleo na Bacia do Rovuma. Mesmo os
brasileiros, da Vale, e os australianos, da Rio Tinto, estão a gastar muito a
investir. Várias prospecções estão a ser feitas por franceses, britânicos e
portugueses", disse o líder da Renamo, referindo-se aos países que, na sua
opinião, farão de tudo para que Moçambique não entre numa espiral de violência.
Moçambique passa
pela sua pior crise política e militar desde a assinatura do Acordo Geral de
Paz em 1992, com confrontos entre o exército e homens armados do principal
partido da oposição, no centro do país, bem como ataques a alvos civis na
região, que o governo atribui ao movimento.
Na entrevista ao
Canal de Moçambique, Afonso Dhlakama nega que Moçambique esteja em guerra
civil, considerando "negócio sujo" as escoltas militares à circulação
no centro do país e declarando-se disposto a aceitar um
"cessar-fogo".
"Eu gostaria
que declarássemos cessar-fogo entre Muxúnguè, Chibabava, minha terra, até ao
Rio Save, porque aquilo não significa nada; é só um negócio sujo, não serve
para nada. Os camiões são obrigados a pagar aos militares para correrem e
deixarem os carros sozinhos", afirmou o líder da Renamo.
O líder da Renamo
diz que o ataque ao seu acampamento visava a sua morte, alertando para o risco
de o país mergulhar numa nova guerra civil, caso seja abatido.
"O Dhlakama já
tem 60 anos, mas tem rapazes que são generais com 35 anos, treinados pelo
Dhlakama, que não haveriam de tolerar que me matassem", enfatizou o líder
da Renamo.
A crise política,
que deslizou depois para a instabilidade militar no centro do país, foi
desencadeada por divergências em torno da legislação eleitoral, que a Renamo
considera favorável à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no
poder.
O diferendo sobre a
lei eleitoral levou a Renamo a boicotar as eleições municipais de 20 de
novembro, o que ditou o desaparecimento do partido do mapa autárquico nacional
e a emergência do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior
partido, como segunda força política no plano autárquico.
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