quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

NEGOCIATA? ESTALEIROS DE VIANA SÃO O CALCANHAR DE AQUILES DE AGUIAR-BRANCO?

 


Ana Gomes diz que Aguiar-Branco não contactou Comissão Europeia
 
A eurodeputada socialista Ana Gomes afirmou hoje que o ministro da Defesa nunca contactou a Comissão Europeia para discutir as alegadas ajudas públicas aos Estaleiros de Viana do Castelo, nem para comunicar a operação de subconcessão.
 
As posições da eurodeputada do PS foram assumidas em declarações à agência Lusa em Estrasburgo, depois de se ter reunido com o comissário europeu da Concorrência, Joaquin Almunía, para discutir a questão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).
 
Ana Gomes, que disse ter pedido a reunião na semana passada para esclarecer a "barragem de informação criada pelo Ministério da Defesa", referiu que Almunía "não conhece" Aguiar-Branco e ainda aguarda uma resposta do executivo português em relação às questões levantadas em abril sobre as transferências do Estado para aquela empresa do norte de Portugal.
 
"O Governo até hoje não deu resposta formal às questões colocadas pela Comissão Europeia na comunicação de abril, há contactos informais, ao nível dos serviços, mas o senhor ministro nunca se dignou sequer a agarrar no telefone e a falar com o comissário Almunía", afirmou Ana Gomes.
 
A socialista rejeitou a ideia de que "a Comissão Europeia impôs esta solução [para os ENVC] ao Governo português" e disse que a reunião com Joaquin Almunía confirmou a sua "perceção" de que a subconcessão à Martifer é "um negócio crapuloso".
 
"É inadmissível (...) o senhor ministro já podia ter falado com o comissário Almunía, já podia ter esclarecido isto, é inadmissível que nunca o tenha feito, só isto mostra o seu desinteresse ou então a sua má-fé para facilitar um negócio que é ruinoso para o Estado", reforçou.
 
Ana Gomes referiu que o comissário da Concorrência está desde abril "a aguardar que o Governo responda": "Nessa altura ainda estava em curso o processo de privatização que entretanto o Governo já encerrou e até já abriu e concluiu a subconcessão, do qual a Comissão não tem nota, nem explicação formal".
 
"O que apurei também é que a própria Comissão Europeia, nas comunicações de janeiro e abril, abre várias avenidas para o Governo justificar as alegadas ajudas de Estado e nenhuma dessas avenidas foi seguida pelo Governo, o Governo podia alegar que se trata de um empresa viável mas em dificuldades, e portanto procurar uma autorização mesmo 'a posteriori' das transferências que o Estado fez e, aliás, boa parte delas foram feitas já por este Governo", sustentou.
 
Segundo a eurodeputada do PS, "um argumento importantíssimo" era o de os ENVC produzirem navios para o próprio Estado, já que foi isso que "levou ao salvamento dos Estaleiros de Navantia, na Galiza, e é o argumento que está ser considerado em relação aos Hellenic Shipyards, na Grécia, para isolar a questão das ajudas de Estado".
 
Por outro lado, Gomes advertiu que os ENVC eram "os principais beneficiários das contrapartidas [da compra] dos submarinos" e "nunca viram nada" e que o Banco Espírito Santo, envolvido na componente financeira das contrapartidas militares, "é o principal responsável pela engenharia do processo de subconcessão" à Martifer.
 
Lusa
 
Ministro da Defesa diz que Ana Gomes "ultrapassou o limite"
 
O ministro da Defesa Nacional afirmou hoje que apresentou queixa judicial contra a eurodeputada Ana Gomes por considerar que atingiu a "honorabilidade" e o "bom nome" em declarações sobre os Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
 
"Pode-se dizer que a decisão é boa ou má. Pode-se e deve-se emitir opinião sobre um assunto tão relevante para o erário público. Mas o limite é o bom nome e a honorabilidade de cada um", afirmou Aguiar-Branco, numa "nota pessoal" em conferência de imprensa, no Ministério da Defesa Nacional.
 
Em declarações na TVI24, a eurodeputada Ana Gomes criticou o processo de subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e defendeu que "é preciso verificar" eventuais "negócios" entre o escritório de advogados do ministro e o grupo Martifer, que venceu o concurso público internacional para a subconcessão.
 
"O que é intolerável é que haja quem aproveite para situações desta natureza para ter agendas pessoais e fazer juízos de suspeição absolutamente infundados, genéricos e abstratos que fazem o jogo mediático, mas não é sério", afirmou José Pedro Aguiar-Branco, esclarecendo que o processo judicial foi instaurado "pessoalmente" contra a eurodeputada Ana Gomes.
 
Aguiar-Branco sublinhou que a subconcessão foi "transparente", adiantando que ainda hoje foi enviada para o Tribunal de Contas a documentação relativa ao processo.
 
"Houve oito candidatos a levantar caderno de encargos. Duas empresas apresentaram propostas, avaliadas por um júri presidido por um magistrado do Ministério Público", declarou.
 
"E foi o Conselho de Administração dos ENVC que, por unanimidade, deliberou a adjudicação da subconcessão", sublinhou, referindo que "não se tratou de um negócio direto".
 
Questionado sobre a possibilidade de ser criada uma comissão de inquérito para apurar responsabilidades políticas no processo, Aguiar-Branco reiterou que não tem "nenhum problema em que haja qualquer inquérito".
 
"Eu não tenho desconforto nenhum, nem o Governo tem desconforto nenhum na medida em que este processo é transparente, fiscalizado e escrutinado", disse, ressalvando que caberá ao parlamento decidir se "tem ou não motivos" para avançar para um inquérito parlamentar.
 
O grupo Martifer anunciou que vai assumir em janeiro a subconcessão dos terrenos, infraestruturas e equipamentos dos ENVC, pagando ao Estado uma renda anual de 415 mil euros, até 2031, conforme concurso público internacional que venceu.
 
A nova empresa West Sea deverá recrutar 400 dos atuais 609 trabalhadores, que estão a ser convidados a aderir a um plano de rescisões amigáveis que vai custar 30,1 milhões de euros, suportado com recursos públicos.
 
Esta foi a solução definida pelo Governo português para evitar a devolução de 181 milhões de euros de ajudas públicas não declaradas à Comissão Europeia, no âmbito de uma investigação lançada por Bruxelas.
 
Ao longo de 69 anos de atividade, os ENVC já construíram mais de 220 navios, mas apresentam hoje um passivo superior a 300 milhões de euros.
 
Lusa
 
*Título PG
 

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