Ana Sá Lopes – jornal i, opinião
Vai ser difícil o
PS explicar o que é que vai fazer diferente do PSD... e do SPD
António José Seguro
tem vários problemas internos. Ganhou a batalha do famoso consenso - quando
Costa desistiu de se candidatar à liderança em troca de uma coisa qualquer que
ninguém percebeu bem o que foi - mas não ganhou a guerra. Com maior fervor ou
na tranquilidade dos bastidores, a guerra contra a sua liderança continua
acesa: a parte do PS que não acredita em Seguro não passou a acreditar mais um
milímetro depois do "consenso". Em troca, Seguro continuou fechado na
sua concha particular, mantendo-se na terrível posição de líder do partido que
assinou o Memorando (um passado tenebroso que muitos dos anti-Seguro também se
esforçam por esquecer) e de líder de um partido em que muitos militantes
desejariam romper com o Memorando. Convenhamos que não é o melhor papel para um
humano desempenhar no momento presente.
Mas os problemas
internos de Seguro não valem um avo se comparados com o que se pode chamar os
"problemas externos" de Seguro. Um dos novos problemas do secretário-
-geral do PSD foi ontem anunciado com pompa e circunstância em Berlim: o
governo da "Grande Coligação" em que o partido irmão do PS de Seguro
(o SPD alemão) se associou aos terríveis Merkel e Schäuble viu, finalmente, a
luz do dia.
Sigmar Gabriel, o
líder do partido, fica com a pasta da Economia - crucial - mas a pasta das
Finanças fica exactamente nas mesmas mãos, a do nosso amigo Schäuble, que há um
bocadinho mais de um ano dizia estas pérolas. "Estamos no bom caminho, as
falhas na arquitectura da união económica monetária estão a ser corrigidas de
forma decidida, avançámos muito na supervisão orçamental, o pacto de
Estabilidade e Crescimento tem os dentes mais afiados, e já não pode ser tão
facilmente violado como nos tempos dos governos de Chirac e Schroeder".
Feliz por ter visto assinado tanto pelos partidos de direita como pelos
sociais-democratas o famoso tratado orçamental, o ex-futuro ministro das
Finanças de Berlim (e por arrasto, nosso) afirmava que há algum tempo atrás
quem sonhasse com tal compromisso "teria recebido como resposta, na melhor
das hipóteses, um sorriso cansado". Satisfeitíssimo, o ministro assinalava
a "mudança de atitude na Europa", que mostrava "que se aprendeu
com os erros do passado". Vai ser muito difícil explicar aos portugueses
como é que o PS irá fazer diferente do PSD. Passos também tinha prometido que
não aumentava os impostos. Este é o verdadeiro cerco a Seguro.
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