O
primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, considera, em entrevista ao Jornal de
Negócios hoje nas bancas, que o programa da 'troika' "estava bem desenhado
mas mal calibrado", partindo de défices irrealistas, razão para medidas
mais violentas do Governo.
"As medidas
tiveram de corresponder aos objetivos traçados e durante algum tempo acusou-se
o Governo de querer ser mais 'troikista' que a 'troika'", explica o
primeiro-ministro, dando conta de que a base de partida definida pelo Governo
de Sócrates no PEC IV tinha "perspetivas de défice, quer para 2010 como
para 2011, irrealistas".
A ideia de vários
economistas de que o Estado deveria apoiar a economia investindo é contrariada
por Passos Coelho, defendendo que "o Estado deve ajudar a economia
contendo a despesa".
"Enquanto os
investidores externos não acreditarem que nós reduziremos o peso da dívida, não
é possível criar investimento direto externo e investimento na própria dívida
pública", afirma Passos Coelho na entrevista ao Jornal de Negócios.
Quando questionado
se o Governo não terá privilegiado os cortes em salários e em pensões em vez de
cortar nas rendas da energia ou nos contratos de parcerias público-privadas,
Passos Coelho responde que essa análise invoca "uma grande demagogia no
juízo populista".
"Qualquer
ideia que se pretenda vender ao país de que o Governo está a impor um
sacrifício exagerado aos portugueses e, em particular, aos funcionários
públicos, que era completamente dispensável se tivéssemos a coragem de ir
buscar o dinheiro aos ricos, pressupõe uma mentalidade que julgava já afastada
do pensamento mediano em Portugal", defende o chefe do Governo.
Sobre a polémica
questão dos cortes nos salários, nomeadamente a insistência do FMI de que
Portugal ainda tem de baixar mais nas remunerações no setor privado, Passos
Coelho diz discordar desse objetivo, considerando que o privado já corrigiu
"em termos nominais cerca de 11% do valor dos salários".
O primeiro-ministro
sublinha que o Governo não pretende "um modelo de desenvolvimento assente
em baixos salários", mas afirma que "não é possível diminuir de forma
sustentada a despesa do Estado sem mexer em pensões e salários".
O ex-presidente da
câmara do Porto, Rui Rio, que tem sido considerado como um possível candidato à
liderança do PSD, não é visto por Passos Coelho como um adversário.
Diz olhar para Rui
Rio "como uma personalidade do PSD com créditos firmados, um dos nomes de
referência do partido", e sobre uma possível contestação à sua liderança
no partido considera natural que "houvesse uma avaliação dentro do PSD do
que têm sido estes dois anos e que também pudessem aparecer vozes
críticas".
JPF // HB - Lusa
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