Luís Lima* - Sol,
opinião
Para que servem as
estatísticas? Como devemos reagir quando as estatísticas oficiais da União
Europeia dizem que um quarto da população portuguesa se encontra em risco de
pobreza ou de exclusão social, percentagem ligeiramente superior a 25%, valor
que subiu um ponto percentual face à última estimativa?
Em Portugal,
2.700.000 portugueses estão no patamar da pobreza ou enfrentam um risco elevado
de pobreza e ou de exclusão social. Com estes números, a probabilidade de cada
um ter alguém da família ou conhecido próximo nestas circunstâncias é
muitíssimo elevada. Somos todos familiares ou amigos de alguém que está a ficar
pobre.
Há quem esteja
pior, dirão os mais optimistas. Quase metade da população da Bulgária, mais
precisamente 49%, está em risco de entrar para o exército dos pobres, que em
toda a União, ultrapassa já os 124 milhões de cidadãos europeus, ou seja quase
um quarto da população total da União Europeia.
Na frieza das
notícias estatísticas, revela-se que o Eurostat, o departamento que contabiliza
estes números, contempla sempre pelo menos uma de três formas de exclusão para
considerar o risco de pobreza - pessoas claramente pobres, pessoas em situação
de privação material grave e pessoas que vivam em agregados familiares com
muito fraca intensidade de trabalho.
A fronteira
situa-se no rendimento anual líquido inferior a 60% do rendimento médio
líquidos dos adultos no país de referência, o que significa que este valor de
referência também está em permanente queda, fazendo com que os pobres sejam
cada vez mais pobres. Como se explica isto num país onde a esmagadora maioria
das famílias possui casa própria?
Muitos destes
proprietários integram já aquele quarto da população portuguesa referenciado
pelo Eurostat como estando em risco de pobreza, num levantamento estatístico
tornado público, por coincidência, no dia da chegada a Lisboa de mais uma
missão da troika para avaliação do programa de assistência financeira a
Portugal.
Será para acentuar
este empobrecimento colectivo que há quem continue a apostar na desvalorização
artificial do património construído e adquirido com tanto sacrifício pelas
famílias portuguesas? Neste quadro, e ao invés do que acontece, o imobiliário
português devia assumir-se como via para a nossa recuperação económica.
Isto obriga a que a
aposta em projectos viáveis e necessários, como os da Reabilitação Urbana, não
seja apenas um tema politicamente correcto para desenvolver em colóquios e
encontros temáticos sobre a crise, assumindo-se, pelo contrário, como uma via
para a recuperação da nossa economia, pela captação de investimentos e pela
reanimação do turismo nas cidades.
Não devemos aceitar
uma condenação sumária à pobreza como castigo por quaisquer pecados económicos,
pecados cuja responsabilidade real está por provar que tenha sido nossa. E
devemos, isso sim, potenciar o que conseguimos acumular sem desbaratar uma das nossas
principais riquezas, o património imobiliário que fomos construindo.
*Presidente da
APEMIP, assina esta coluna semanalmente
Sem comentários:
Enviar um comentário