quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Portugal: Somos todos familiares ou amigos de alguém que está a empobrecer

 

Luís Lima* - Sol, opinião
 
Para que servem as estatísticas? Como devemos reagir quando as estatísticas oficiais da União Europeia dizem que um quarto da população portuguesa se encontra em risco de pobreza ou de exclusão social, percentagem ligeiramente superior a 25%, valor que subiu um ponto percentual face à última estimativa?
 
Em Portugal, 2.700.000 portugueses estão no patamar da pobreza ou enfrentam um risco elevado de pobreza e ou de exclusão social. Com estes números, a probabilidade de cada um ter alguém da família ou conhecido próximo nestas circunstâncias é muitíssimo elevada. Somos todos familiares ou amigos de alguém que está a ficar pobre.
 
Há quem esteja pior, dirão os mais optimistas. Quase metade da população da Bulgária, mais precisamente 49%, está em risco de entrar para o exército dos pobres, que em toda a União, ultrapassa já os 124 milhões de cidadãos europeus, ou seja quase um quarto da população total da União Europeia.
 
Na frieza das notícias estatísticas, revela-se que o Eurostat, o departamento que contabiliza estes números, contempla sempre pelo menos uma de três formas de exclusão para considerar o risco de pobreza - pessoas claramente pobres, pessoas em situação de privação material grave e pessoas que vivam em agregados familiares com muito fraca intensidade de trabalho.
 
A fronteira situa-se no rendimento anual líquido inferior a 60% do rendimento médio líquidos dos adultos no país de referência, o que significa que este valor de referência também está em permanente queda, fazendo com que os pobres sejam cada vez mais pobres. Como se explica isto num país onde a esmagadora maioria das famílias possui casa própria?
 
Muitos destes proprietários integram já aquele quarto da população portuguesa referenciado pelo Eurostat como estando em risco de pobreza, num levantamento estatístico tornado público, por coincidência, no dia da chegada a Lisboa de mais uma missão da troika para avaliação do programa de assistência financeira a Portugal.
 
Será para acentuar este empobrecimento colectivo que há quem continue a apostar na desvalorização artificial do património construído e adquirido com tanto sacrifício pelas famílias portuguesas? Neste quadro, e ao invés do que acontece, o imobiliário português devia assumir-se como via para a nossa recuperação económica.
 
Isto obriga a que a aposta em projectos viáveis e necessários, como os da Reabilitação Urbana, não seja apenas um tema politicamente correcto para desenvolver em colóquios e encontros temáticos sobre a crise, assumindo-se, pelo contrário, como uma via para a recuperação da nossa economia, pela captação de investimentos e pela reanimação do turismo nas cidades.
 
Não devemos aceitar uma condenação sumária à pobreza como castigo por quaisquer pecados económicos, pecados cuja responsabilidade real está por provar que tenha sido nossa. E devemos, isso sim, potenciar o que conseguimos acumular sem desbaratar uma das nossas principais riquezas, o património imobiliário que fomos construindo.
 
*Presidente da APEMIP, assina esta coluna semanalmente
 

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