Dagens
Arena, Estocolmo – Presseurop – imagem Tom
Janssen
A Europa deve abrir
de imediato as suas fronteiras aos refugiados que fogem do inferno sírio. É
ilusório pensar que a UE pode impedir que os candidatos a asilo tentem, por
todos os meios, entrar no seu território.
A Síria é um
inferno para os jornalistas, afirma a organização Repórteres
sem Fronteiras, a propósito do desaparecimento
de dois jornalistas suecos. Mas não é só um inferno para os jornalistas. Nos
dois últimos anos, mais de 2,2 milhões de pessoas fugiram da Síria em guerra.
As imagens e os
testemunhos são assustadores. Um inferno. Feridos, mortos. Pessoas envenenadas
por gases, outras que viram membros da sua família serem assassinados ou
espancados.
Entre as vítimas
recenseadas desde o início dos confrontos, em março de 2011, incluem-se mais de
11 mil crianças. Segundo um relatório britânico, a maior parte das vítimas foi
morta por bombas e tiros de morteiro, 389 crianças foram abatidas por
atiradores furtivos, 764 foram executadas e mais de uma centena foram
torturadas. Algumas mulheres foram agredidas, violadas e serviram
de escudos humanos.
Aqueles que
conseguem fugir do país têm frequentemente à sua espera novas provações. Campos
de refugiados superlotados, onde faltam água e alimentos, nos países vizinhos:
Turquia, Líbano, Iraque e Jordânia. Outros tentam chegar à Europa, em muitos
casos à Suécia, atravessando o Mediterrâneo. Viagens que envolvem perigos para
as suas vidas, em embarcações sem condições e em mau estado, como se verificou
no outono passado. Os testemunhos são aterradores. Barcos a rebentar pelas
costuras. Famílias separadas. Passadores que praticam a extorsão e espancam os
passageiros.
40 mil refugiados
Até agora, os
Estados-membros da UE acolheram apenas pouco mais de 40 mil refugiados sírios.
Acontece que são cada vez mais os que decidem tentar a sorte na Europa. No
decorrer de uma visita à Bulgária, o diretor do Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados (ACNUR) recordou que era fundamental que os países
europeus não fechassem as fronteiras e prestassem a ajuda necessária aos
refugiados.
Mas não é isso que
está a acontecer.
Bem pelo contrário. A Grécia, a Bulgária e a Itália rejeitaram ilegalmente
cidadãos sírios. Quando tentaram obter a ajuda das equipas de socorro marítimo
italianas, os passageiros de uma embarcação que começara a afundar-se, depois
de ter sido metralhada pelo exército líbio, obtiveram a resposta de que deviam
antes recorrer a Malta. E o socorro demorou mais algumas horas do que as
necessárias a chegar. Poderiam ter sido salvas 268 vidas.
Quando os
dirigentes da UE se reuniram, em
outubro, a política de migração estava na ordem do dia, na sequência do
terrível naufrágio ocorrido pouco antes, ao largo de Lampedusa. Mas só
conseguiram chegar a acordo quanto a uma coisa: o tema devia ser debatido nos
seus próximos encontros, em dezembro e em junho. A questão urgente dos meios a
acionar para salvar vidas e melhorar as condições dos campos de acolhimento,
por exemplo em Lampedusa, foi remetida para data posterior. Acontece que a
situação em Lampedusa continua a ser insustentável. Em novembro, o ACNUR
revelou que o campo, que tem capacidade para 250 pessoas, alojava 700. As
coisas arrastam-se. Entretanto, os refugiados não podem trabalhar e as crianças
não vão à escola.
Poucas vias legais
Como a Suécia é o
único Estado-membro da UE que lhes concede autorizações de residência de longa
duração, muitos sírios tentam a sorte naquele país. Vários deles são menores
não acompanhados. Hoje, os refugiados dispõem de poucas vias legais para
viajarem até à Suécia e, em muitos casos, não têm alternativa senão recorrer a
passadores.
Esta semana, o
diário sueco Svenska Dagbladet publicou uma reportagem sobre uma família
que conseguiu chegar à Suécia com um visto de turismo e que não foi autorizada
a permanecer ali. Como se tratava de um visto austríaco – e em conformidade com
o Regulamento de Dublin –, essa família deverá ser expulsa para a Áustria, país
onde o seu pedido de asilo deverá ser analisado. Os membros da família tinham
querido fazer bem as coisas. Mas correu tudo mal.
Se não for dada de
imediato aos cidadãos sírios a possibilidade de entrarem na Suécia pelas vias
legais, a (relativa) generosidade da Suécia poderá vir a deixar-lhes na boca um
gosto no mínimo amargo. Por esta altura, os dirigentes europeus já deviam saber
que é ilusório querer vigiar eficazmente as fronteiras. É por isso que convém
abri-las sem demora, para acolher os refugiados que fogem do inferno sírio.
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