Folha 8, 17 janeiro
2014
Angola continua a
sua aposta na produção de petróleo. A receita tem dado bons frutos, sobretudo
para os donos de um país em que 76% da população vive em 27% do território, em
que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; em que
mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está
concentrada em menos de 0,5% da população, em que o acesso à boa educação, aos
condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes
negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo
muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
E quando a
economia, mesmo que limitada a um restrito e blindado núcleo-duro de
familiares do Presidente, tem um desempenho positivamente assustador, ninguém
olha para o país real. Quando os homens do Presidente chegam aos principais
areópagos políticos internacionais e, solenemente, apresentam um cartão de
visitas onde se constata que o país registou, em 2013, a 20ª taxa mais alta de crescimento
do mundo, todos se ajoelham.
E embora apareçam
vozes a dizer que Angola tem de diversificar, para além dos habituais,
históricos e empedernidos titulares da economia a das finanças, a sua
estratégia económica, a verdade é Angola tem uma visível alergia ao alargamento
regional, à cooperação inter-regional, ao surgimento de uma zona de comércio
livre e à criação de uma união aduaneira.
Embora sejamos cada
vez mais um potência regional, falta saber se do ponto de vista estratégico
Angola não teme dar esse passo, tão imbuída está no reforço das defesas do
umbigo que, afinal, é o mesmo desde 1975 e que, com uma eventual abertura
tanto interna como externamente, poderia pôr em risco a manutenção doa actual
status quo do regime.
Mau grado a sua pujança
económica, os efeitos das sucessivas crises mundiais mostraram que, afinal, não
há bem que sempre dure nem azar que nunca acabe. Mesmo assim um crescimento na
ordem dos 7% é exequível. E se assim for, não é crível que o país pondere
alterar a sua estratégia económica. Corre, contudo, o risco de ser a
locomotiva regional.
Petróleo-dependente
(quase 100% das exportações e 80% das receitas), embora com elevado potencial
noutros sectores, Angola continua refém de uma estratégia política e, por isso,
económica anquilosada que, como resultado do seu auto-isolamento, teme apostar
na capacidade dos seus agentes económicos e nas suas outras autóctones fontes
de crescimento.
O regime aposta
assim em dois únicos pilares: o petróleo como fonte de receita e, em
simultâneo, no crescimento das forças de segurança, tanto na perspectiva
interna como na externa. Será esse o melhor caminho? No imediato e na
perspectiva da manutenção do poder em Angola parece ser. Se, por um lado, o
dinheiro fornecido pelo ouro negro é mais do que suficiente para que as forças
de segurança estejam, ou aparentem estar, do lado de quem manda, por outro
esse dinheiro faz imensa falta no sector social que, embora não tenham força,
têm razão para protestar e reivindicar alterações ao estado das coisas.
No plano externo
regional, é evidente que o petróleo é essencial para manter e alargar o poderia
militar angolano, de quem é exemplo recente a compra de um porta-aviões. Desta
forma o regime garante, ou compra, lealdades como a da República Democrática do
Congo e, eventualmente, da própria República Centro Africana.
Angola, aliás,
preside à Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, onde se
inserem estes dois países cujos conflitos estão sempre activos ou latentes.
Por alguma os
homens do regime, como Belarmino Van-Dúnem, dizem que “alguns países buscam assessoria
e consultoria na figura do Presidente José Eduardo dos Santos”.
Entretanto, o
Enviado Especial Norte-Americano para a Região dos Grandes Lagos e a
República Democrática do Congo, o Senador Russell D. Feingold, esteve em
Luanda onde participou na Quinta Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da
Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), que teve lugar
a 15 em Luanda.
De acordo com a
embaixada norte-americana no nosso país, “os EUA estão prontos a apoiar
Angola, que assume a liderança do CIRGL para os próximos dois anos, nos seus
esforços que visam a consolidação da paz e a estabilidade na região”, razão
pela qual Feingold abordou “com as autoridades angolanas e outros parceiros
multilaterais a implementação do Acordo Quadro para a Paz, Segurança e
Cooperação para a região dos Grandes Lagos”.
O Senador Russell
D. Feingold foi nomeado como Enviado Especial dos EUA para a Região dos
Grandes Lagos e a RDC em Julho de 2013, tendo servido e liderado a
Sub-Comissão para a África do Senado Americano durante 18 anos, trabalhando
hoje estreitamente com o Secretário de Estado John Kerry, a Secretária
Assistente para os Assuntos Africanos e outros líderes internacionais “no
sentido de encontrar um caminho que leve à paz duradoura e a prosperidade económica
na Região dos Grandes Lagos”.
SONANGOL ANUNCIA
LEILÃO
A petrolífera Sonangol
anunciou em comunicado a abertura de um concurso público para leilão de 10
concessões no “onshore” de Angola. Sete dos blocos a leiloar situam-se na
bacia do rio Kwanza e os restantes três na do rio Congo.
Para reforçar a
divulgação do potencial dos 10 blocos, a Sonangol acrescenta no comunicado
que procederá a um “road-show” que integra apresentações em Londres (3 de
Fevereiro) e Houston, Estados Unidos da América (10 de Fevereiro).
As companhias
petrolíferas e demais investidores interessados em participar nas duas
apresentações deverão efectuar um registo prévio.
Angola é
actualmente o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana, atrás
da Nigéria, com cerca de 1,7 milhões de barris/dia e o objectivo confesso é
atingir a cifra de 2 milhões em 2017, depois de anteriormente ter sido equacionado
o ano de 2015.
O crude representa
97% das exportações e 80% da receita fiscal, mas a indústria petrolífera emprega
apenas 1% da população, que já soma mais de 21 milhões, segundo o Banco
Mundial, dos quais a maioria vive com menos de 2 dólares por dia, de acordo
com os dados das Nações Unidas.
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