Lisboa, 09 jan
(Lusa) - O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP) manifestou-se hoje "otimista" quanto à realização de eleições
gerais na Guiné-Bissau em 16 de março, mas alertou para a necessidade de evitar
novos golpes de Estado.
Murade Murargy
disse hoje à agência Lusa que organizações internacionais a atuar no terreno
garantem que as eleições para escolher um governo na Guiné-Bissau, que vive
desde abril de 2012 um período de transição após o golpe de Estado, se
realizarão, como previsto, a 16 de março, apesar de as autoridades guineenses terem
adiado o prazo para o recenseamento eleitoral.
"Eu sou sempre
uma pessoa otimista. Temos uma data, que é 16 de março, e eu acho que vamos
cumpri-la. Ontem [quarta-feira] conversei com o representante especial das
Nações Unidas, que está em Timor, e também com o representante da União
Africana, e todos me garantiram que, apesar de todos os problemas que vão
encontrar pelo caminho, as eleições vão ter lugar naquela data que está
prevista", declarou, à margem da cerimónia de assinatura de um protocolo
entre a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) e a AICEP
(Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), em Lisboa.
Sobre o resultado
das eleições, Murade Murargy afirmou que a expectativa é que seja eleito
"um governo legítimo, que seja reconhecido por todos".
"É evidente
que temos de tomar todas as precauções necessárias para que depois das eleições
não haja de novo um outro golpe de Estado. Não digo que esta seja a última
chance, mas é efetivamente uma grande oportunidade que o povo guineense tem
para mais uma vez ter o controlo do seu país nas suas próprias mãos",
defendeu.
O secretário
executivo da CPLP lembrou que a organização acaba de designar "um
representante especial para a Guiné-Bissau", que vai garantir informação
"sobre o desenvolvimento do processo".
Questionado sobre
se a nomeação do brasileiro Carlos Alves Moura para esta tarefa pode ser um
sinal de algum reconhecimento pela CPLP do regime em vigor na Guiné-Bissau --
que não foi reconhecido pela União Europeia nem por Portugal -, Murade Murargy
negou.
"Não se trata
de reconhecimento ou não, trata-se de uma obrigação que a CPLP tem para com um
Estado-membro. Essa é a nossa missão: não podemos deixar um Estado-membro
abandonado. A presença do representante especial lá é precisamente para
contribuir para que a normalidade na Guiné-Bissau volte de novo", referiu.
Sobre o que poderá
ser feito para evitar outro golpe de Estado, o secretário executivo da CPLP
disse que nada está ainda definido, mas que as organizações internacionais vão
articular-se nesse sentido.
"Estamos a
trabalhar com as outras organizações internacionais para ver que medidas podem
ser mais viáveis para que o processo eleitoral se desenvolva num clima de paz e
tranquilidade. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, que é presidente
da CPLP, vai trabalhar com o seu homólogo da CEDEAO [Comunidade Económica dos
Estados da África Ocidental] e das Nações Unidas e União Africana, com vista a
encontrar o mecanismo para garantir que o processo eleitoral decorrerá da
melhor forma possível", afirmou.
Questionado sobre
se também está otimista quanto ao regresso das ligações aéreas entre Lisboa e
Bissau, suspensas no final de dezembro pela TAP após o embarque de 74
passageiros sírios, forçado pelo ministro do Interior do governo de transição
guineense, Murargy disse esperar que a companhia aérea portuguesa encontre uma
solução.
"Espero que a
TAP e que Portugal e a Guiné-Bissau encontrem uma solução definitiva para o
problema, que está a prejudicar muita gente. Espero que a TAP também analise
bem a situação e encontre uma saída de forma a retomar os voos".
JH // JMR - Lusa
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