Rui Peralta, Luanda
I - Que diversos
grupos e associações pró-Israel gozam da oportunidade de utilizar fundos
ilimitados para executarem os seus lobbys e as suas influencias nos corredores
do Congresso, do Senado e da Casa Branca para influenciar a politica dos USA na
região da Ásia Ocidental (conforme, aliás, referiu o ex-ministro britânico das
Relações Exteriores e deputado trabalhista, Jack Straw) é algo que é conhecido
da opinião publica mundial, mas quando se chega ao ponto de um dos
testa-de-ferro dos sionistas no Partido Republicano, Sheldon Adelson,
financiador do Great Old Party e angariador de fundos para as campanhas
republicanas, afirmar que “os USA devem deixar cair uma bomba nuclear sobre o
Irão para impulsionar o país e interromper o seu programa nuclear” (estas
palavras foram ditas durante um discurso na Universidade Yeshiva, New York, em
finais de outubro de 2013) já estamos no domínio da esquizofrenia e do delírio
absoluto.
A política de
diálogo encetada pelo Irão após a eleição do actual presidente Rohani foi bem
recebida por quase todo o mundo, sendo Israel a única excepção. O recente
acordo em torno da questão nuclear iraniana não agradou aos sionistas, que
intensificaram a guerra de propaganda anti-iraniana na indústria mediática e
nos corredores do poder nos USA. O que os sionistas pretendiam era que os USA e
a OTAN atacassem o Irão, destruindo a sua economia e que na resposta, o Irão
atacasse as bases militares norte-americanas na região e afectasse as instalações
petrolíferas no Golfo, o que representaria uma crise mundial.
Se examinarmos o
contexto da supremacia militar israelita no Medio-Oriente concluiremos que
desde a sua proclamação como Estado, Israel bombardeou, invadiu e ocupou mais
países na região, que o poder colonial britânico ou francês. A lista das
vítimas de Israel inclui a Palestina, a Síria, o Líbano, o Iraque, a Jordânia,
na região, o Iémen, o Sudão, a Etiópia, o Uganda e o Egipto, em África, mais
uma boa dezena de países da Europa, da América e da Ásia se considerarmos as
operações clandestinas da MOSSAD.
A supremacia
militar sionista corresponde á imunidade quase total que é garantida pelo
chapéu-de-chuva norte-americano e baseia-se nas transferências de tecnologia
nuclear, química e biológica com os USA, para além das novas tecnologias
aplicadas á guerra e á espionagem e ao desenvolvimento da indústria da
segurança (liderada por Israel, principalmente nos equipamentos eletrónicos de
vigilância e deteccção). A transferência de tecnologia entre os USA e Israel
ronda os 100 mil milhões de dólares durante os últimos cinquenta anos. Este
pilar da supremacia militar israelita converteu alguns países da região (Egipto
e Jordânia) em clientes do consórcio Israel/USA e em seus aliados de facto, conjuntamente
com as monarquias do Golfo.
Mas o factor mais
decisivo na consolidação do poder bélico sionista foi a utilização dos seus
agentes no interior dos USA. Esta influência não se limita a ser meramente
política, ou um lobby de influência económica e diplomática. Tem muito maior
extensão e está por detrás do comportamento dos USA após o 11 de Setembro de
2001. As guerras movidas ao Iraque, á Líbia e á Síria tiveram como objectivo a
destruição de três grandes oponentes históricos às políticas hegemónicas
sionistas.
A acumulação do
poder militar israelita na região permite-lhe estender a colonização dos
territórios palestinianos para Este. Mas para concretizar esta política
colonial, a elite sionista necessita de remover um último obstáculo. Agora que
a crise foi implementada na Síria, deixando este país incapaz de exercer
qualquer influência na região (a não ser pelo desenrolar da sua própria crise
interna e pela forma como o processo sírio afecta toda a área limítrofe). Aliás
é bom não esquecer que a agressão á Síria foi desencadeada com o objectivo de
atingir o almejado obstáculo às pretensões colonialistas sionistas: o Irão
II - A campanha de
Israel contra o Irão iniciou-se logo nos primeiros momentos da Revolução
Iraniana. Campanhas mediáticas de desestabilização, assassinatos, guerra
informática, ataques a laboratórios iranianos e estrangulamento económico,
foram armas do vasto arsenal sionista, utilizadas neste processo longo, de duas
décadas, contra o Irão.
O mapa sionista de
cerco ao Irão foi meticulosamente desenhado e cada passo, fase e etapa,
cuidadosamente analisados. Em 2003 a guerra contra o Iraque iniciou a primeira
fase da operação de cerco e aniquilamento da nação iraniana. A segunda fase foi
precedida de uma campanha terrorista de desestabilização no Líbano (em 2006),
com o objectivo de destruir o Hezbollah. Veio depois a agressão á Síria, como
forma de isolar o Irão, com o fim de prepara-se a “ofensiva final” contra este
país.
A campanha de 2006
contra o Hezbollah no Líbano foi um fracasso, que para ser colmatado terminou
com a destruição de grande parte de Gaza, em 2008 e 2009, transformando-a na
maior prisão ao ar livre do mundo. Mas este procedimento de Israel revelou, em
simultâneo, um erro de leitura (o mesmo fora anteriormente cometido pela CIA no
seu trabalho com os grupos islâmicos): ao atacar Gaza e o Hamas, perante o
falhanço da ofensiva contra o Hezbollah, Israel perdeu uma oportunidade de
explorar as divisões ideológicas profundas entre os dois movimentos,
desperdiçando as células sunitas, que seriam aliadas fundamentais no combate ao
Hezbollah (aliás essa leitura parece ter sido rectificada, se atendermos á
campanha terrorista que decorre actualmente no Líbano, nas praças fortes do
Hezbollah).
Evidente que Israel
não tem capacidade militar para levar a cabo uma guerra contra o Irão. A aposta
das elites sionistas reside no trabalho de bastidores em Washington,
manipulando e influenciando sectores das facções democratas e republicanas
instalados no Congresso, Senado e Casa Branca e financiando uma campanha
mediática que coloque a opinião pública internacional de acordo com uma
eventual operação militar contra o Irão. Nesta vertente a estratégia israelita
foi desenhada em função de uma confrontação militar que envolvesse os USA e a
OTAN. Na administração Bush (2001 a 2008) os
principais agentes sionistas no seio da administração norte-americana foram: no
Pentágono, Paul Wolfowitz e Douglas Feith (ideólogos da “luta contra o
terrorismo”, sendo Wolfowitz, um ex-trotskista, um dos ideólogos do
neo-conservadorismo norte-americano e ideólogo do Partido Republicano); nos
Assuntos de Segurança para o Medio Oriente, Martin Indyk e Dennis Ross); no
gabinete do vice-presidente, Scooter Libby; no Tesouro, Levey e no Departamento
de Segurança Nacional, Michael Chertoff.
Na administração
Obama algumas figuras das cartas foram alteradas, sendo actualmente: Dennis
Ross (que mantem-se nos Assunto de Segurança para o Medio Oriente), acompanhado
por Rahm Emanuel e David Cohen; no Tesouro Jake Lew e no Comércio, Penny
Pritzke (Secretário do Comércio) e Michael Froman (representante dos assuntos
comerciais externos). A estes há que juntar congressistas e senadores.
Só assim se
compreende que a Secretaria de Estado do Tesouro dos USA tenha imposto sanções
contra o comércio lucrativo no Irão, Iraque e Síria, privando os agricultores e
exportadores norte-americanos de mais de 500 mil milhões de USD de facturação
(devendo aqui ser incluídos os sectores industriais ligeiros, os sectores das novas
tecnologias e comunicação e as próprias companhias petrolíferas). Os lobbys
israelitas nos USA impediram que o Departamento de Estado tenha efectuado
relações estratégicas, comerciais e politicas, com mais de um milhão e meio de
islâmicos, muitas vezes sacrificados em apoio á colonização de Jerusalém e da
Cisjordânia e do isolamento da Faixa de Gaza.
Estes dados obrigam
a uma pergunta: Porque suporta a elite norte-americana esta relação unilateral
com Israel, sendo Israel um pais que ultrapassa em muito o âmbito de país
aliado ou de estado-cliente e ultrapassando as relações de subserviência
própria de um estado-satélite?
III - O governo
iraniano, pelas vozes do seu presidente e do ministro das Relações Exteriores,
está disposto a negociar o fim das hostilidades com os USA e fez grandes
concessões, estabelecendo garantias para o uso pacífico da energia nuclear,
declarando-se abertos á redução da produção de uranio enriquecido e a
inspecções. Lady Ashton, a secretária das Relações Exteriores da União Europeia
mostrou-se favorável á proposta iraniana, enquanto dos USA chegavam sinais
contraditórios.
Enquanto algumas
vozes da administração norte-americana apoiavam, mais ou menos moderadamente o
acordo, Jack Lew, o secretário do Tesouro defendia que as sanções deveriam
permanecer até o Irão ter cumprido as exigências dos USA. Por sua vez o
Congresso rechaçava as propostas do Irão, insistindo nas “opções militares”,
que implicavam o total desmantelamento do programa nuclear iraniano e aprovou
um novo pacote de sanções contra o Irão.
Esta posição do
Congresso era transversal aos congressistas democratas e republicanos e é
consequência do PAC (Comité de Acção Politica), um comité pró-sionista,
autorizado pelo Supremo Tribunal em 2010, a apoiar candidatos pró-israelitas e
a financiar as suas campanhas eleitorais. Dos 435 membros da Camara dos
Representantes dos USA, 219 foram apoiados pelo PAC. Os números são muito mais
drásticos no Senado: dos 100 senadores que o compõem, 94 viram as suas
campanhas financiadas pelo PAC.
O senador Mark Kirk
(conhecido pela seu slogan: “Bombas sobre Teerão!”) encabeça a lista de
financiamentos do PAC, com 925 mil USD recebidos, seguido de John McCain (que
defende “Bombas sobre Damasco!”), com cerca de 770mil USD. Outros senadores,
que a coberto pela legislação que regula os lobbys, tem recebido avultadas
quantias do PAC são: Mitch McConnel, Carl Levin, Robert Menéndez e Richard
Durban.
Na Casa dos
Representantes a congressista da Flórida, Ileana Ros-Lehtinen – republicana conhecida
pelas suas posições de “falcão”, belicistas, que fazem Netanyahu parecer uma “pomba” - lidera a lista dos “amigos de Israel”.
Acompanham-na Eris Cantor (republicano), Whip Steny Hoyer (democrata) e John
Boehner, líder dos republicanos no congresso.
Segundo Grant
Smith, que conduziu uma investigação às actividades da PAC e da Anti-Defamation
League (ADL), o Departamento de Justiça nega-se, desde 1963, a fazer cumprir as
leis federais que recaiam sobre cidadãos norte-americanos que estejam a trabalhar
no próprio pais para um país estrangeiro, registados como representantes
estrangeiros. Por sua vez a ADL pressionou e pressiona o Departamento de
Justiça, o FBI e a NSA para investigar cidadãos norte-americanos críticos da
colonização sionista e da situação vivida nos territórios ocupados.
O norte-americano
Steve Lendman investigou a indústria mediática e as suas ligações com Israel.
Importantes personalidades da comunicação social norte-americana (jornalistas,
redactores, repórteres, etc.), geralmente considerados “profissionais
imparciais” têm fortes laços a Israel, sejam familiares, financeiros, políticos
ou outros, acabando por realizar intensas campanhas de propaganda e de imagem a
favor do colonial-sionismo.
Através da
investigação de Lendman ficamos a saber que, por exemplo, a conceituada
repórter do Times, Isabel Kershner (cujas reportagens parecem ser produções do
Gabinete das Relações Exteriores de Israel), é casada com Hirsh Goodman,
assessor para assuntos de segurança, do gabinete de Netanyahu. O chefe do
escritório da Times em Jerusalém, Jodi Rudoren, vive numa casa de uma família
palestiniana desalojada, nessa cidade histórica. Talvez fique assim
parcialmente explicado a postura da Times a favor de Israel. Nas exemplos
destes podem ser encontrados no New York Times e no Washington Post, o que
explica a preocupação demonstrada por estes dois jornais perante o acordo com o
Irão.
Quando o ex-chefe
da Inteligência militar israelita, Amos Yadlin, refere que o seu país tem de
escolher entre “a bomba e o bombardeamento”, acrescentando que “os nossos
amigos nos USA têm um papel decisivo nessa decisão” ou o ministro da Defesa,
Moshe Yaalon, assume publicamente que “Israel não aceitará que o Irão enriqueça
mais uranio”, e apela á “opinião pública norte-americana e aos seus
legisladores”, que “tragam a Casa Branca á razão” definem a posição que querem
ver assumida pela indústria mediática e pelos congressistas, senadores e outros
políticos financiados pela PAC.
Mas existem também
outras preocupações para Israel. Para contrabalançar a operação de
estrangulamento da sua economia, o Irão ofereceu generosos contratos às
petrolíferas ocidentais, removeu anteriores disposições legais sobre
investimento estrangeiro e permitiu que as companhias ocidentais passem a ter
participação nos projectos iranianos, ao mesmo tempo que lhes abriu a
exploração nas áreas de reserva petrolífera e de gás natural. Desta forma os
iranianos esperam atrair cerca de 100 mil milhões de USD em investimento
estrangeiro nos próximos três anos.
O Irão conta com a
maior reserva de gás do mundo e com a quarta maior reserva de petróleo, mas
devido às sanções impostas pelos USA a produção caiu de 3mil e 500 milhões de
barris por dia (2011), para 2 mil e 500 milhões (2013). Com a abertura aos
capitais externos o Irão tenta repor os seus níveis anteriores de produção e
reposicionar-se na economia-mundo. É evidente que estas medidas, por si só, não
serão suficientes para uma alteração estratégica dos USA, mas é preciso
entender que a actual situação económica e financeira dos USA obriga a
administração Obama a negociar.
Os sionistas têm o
seu mapa desenhado e para a elite sionistas um Irão economicamente estável a
prosseguir uma adequada política de desenvolvimento afasta-se dos seus objectivos
e não se encontra nos seus planos para a região. Além do mais um Irão
democrático e independente representará um duro golpe para a imagem sionista de
Israel, que ambiciona ser (em exclusivo) a única grande “potência democrática”
do Médio Oriente. Senão como ficaria o “Povo Eleito” e os seus aliados
antissemitas da indústria petrolífera norte-americana, aqueles que estabelecem
a ponte entre a “democracia do Povo Eleito” a “democracia do Tio Sam” e as “monarquias
do Golfo”?
E como ficarão os
importantes investimentos (realizados a partir da transferências de capitais do
sector petrolífero) nas “tecnologias da segurança”?
Decididamente, para
os sionistas, os seus agentes nos USA e os seus aliados do Golfo, um Irão
reposicionado na economia-mundo não serve para nada…a não ser para “estragar o
negócio!”
IV - Contrariamente
a Israel, o Paquistão (que é um aliado de peso na região) não tem grande
influência nos corredores da administração norte-americana. E pode-se, até,
considerar que as relações entre ambos os Estados encontram-se numa fase de
degradação, se atendermos á forma como os USA se livraram de Bin Laden, no
território paquistanês, sem consultar (pelo menos oficialmente) as autoridades
paquistanesas. Este resfriar de relações entre dois estados que outrora
praticaram de forma exímia os papéis de amo e lacaio é pressentido num
comunicado do Ministério da Defesa do Paquistão, onde se refere mais de 300
ataques dos USA em território paquistanês, efectuados por drones (os aviões não
tripulados), desde 2008. Segundo o mesmo comunicado estes ataques eliminaram
cerca de 2 mil combatentes islâmicos e perto de 70 civis.
Apesar das palavras
ressentidas deste lacónico comunicado, os habitantes das áreas mais afectadas
pelas operações norte-americanas (nas regiões fronteiriças com o Afeganistão, a
norte) consideram que o Ministério da Defesa Paquistanês está muito longe da
realidade e acusam os seus governantes de estarem a escamotear os factos,
exigindo que os meios de comunicação passem as imagens e divulguem os nomes das
vítimas. Os residentes das Administrações Federais das Áreas Tribais (FATA),
fronteiriças com o Afeganistão (a área mais afectada pelos bombardeamentos
norte-americanos), iniciaram um movimento de protesto divulgando os nomes das
baixas civis, vitimadas pelos drones.
Embora alguns dos
líderes dos combatentes islâmicos talibãs e da Al-Qaeda tenham sido eliminados
pelos drones (Nek Mohammad Wazir, Baitullah Meshud e Hakeemullah Meshud), os
ataques não tês surtido efeito noas movimentações dos Talibã e da Al-Qaeda na
região. Depois de 2001 muitos combatentes Talibã estabeleceram bases no
território paquistanês, principalmente no Wazirstão, região que actualmente
palco de ataques norte-americanos, utilizando os drones. O problema é que quem
mais sofre com estes ataques são as populações, sendo rara a família que já não
tenha perdido um ente querido, vitima das operações norte-americanas.
Um dos partidos
políticos paquistaneses que aderiu a este movimento contra os bombardeamentos
norte-americanos na região é o Pakistan Tehreek Insaf (PTI) liderado pelo
jogador de cricket Imran Jan. Segundo o PTI mais de mil e quinhentos civis
paquistaneses foram mortos pelos drones. O PTI governa a provincia de Jyber
Pajtunjwa (de maioria tribal Patjun) e implementou uma acção de bloqueio às
vias que servem de passagem para a rede logística das bases da NATO instaladas
no Paquistão. O PTI acusa o governo central de aceitar os argumentos de
Washington e exige que os governantes paquistaneses devem suspender as relações
com os USA, até estes pararem os bombardeamentos.
Esta questão
agravou-se quando em finais de Novembro do ano passado, um ataque com um drone,
no distrito de Hangu, na provincia de Jyber Patjunjwa provocou a morte a quatro
estudantes de um seminário islâmico. A população acusa os norte-americanos de
estarem a levar uma campanha de genocídio. Muitas comunidades são obrigadas a
mudarem de local de residência e acusam o governo central de nada fazer em
relação aos combatentes islâmicos, que percorrem livremente toda a região,
perturbando as comunidades que aí residem e de não impedirem a actuação dos
norte-americanos. As comunidades acusam também o Afeganistão, país de onde os
drones deslocam, a partir da base aérea de Bagram.
São aliados pobres,
os paquistaneses, que não conseguem exercer lobbys que agraciem senadores,
congressistas e funcionários da Casa Branca, nem pagar almoços, jantares e
arranjar bons casamentos com os jornalistas.
V - Um terceiro
aliado dos USA é a Arábia Saudita. Este é um aliado rico, que tem os seus
corredores específicos dentro da administração, embora não tão cuidado como
Israel. Pode não influenciar jornalistas, mas é parceira de ex-presidentes em
diversas sociedades comerciais e no sector petrolífero.
A Arábia Saudita jogou um papel crucial na
criação e sustentabilidade dos grupos terroristas sunitas, durante os últimos
30 anos. Os USA e a NATO podem desenvolver as suas concepções de “guerra ao
terrorismo”, que os sauditas e as monarquias do Golfo continuam a assumir o seu
papel de financiador aos grupos terroristas sem qualquer restrição.
Num documento da
Comissão do 11 de Setembro, ficou estabelecido que Bin Laden não financiou a
Al-Qaeda desde 1994 (parece que o homem deixou de ter dinheiro para essas
aventuras) passando esse papel para os seus familiares da casa real saudita.
Uma análise efectuada pela CIA, em Novembro de 2002, concluía que as monarquias
do Golfo e em particular a Arábia Saudita financiavam todas as estruturas da
Al-Qaeda.
Os USA podem levar a
“guerra contra o terrorismo” ao Afeganistão, ao Iraque, á Líbia, á Síria e a
outros países, que os seus aliados sauditas continuam a financiar aqueles que
os norte-americanos pretendem eliminar. Os drones dos USA podem bombardear em
grande escala o Paquistão, o Afeganistão e as aldeias do Iémen, que os sauditas
estão lá para financiar os aparentes inimigos dos seus amigos ocidentais. Este
facto foi oficialmente reconhecido pela administração norte-americana, em 2009,
quando Hillary Clinton enviou às embaixadas norte-americanas um telegrama sobre
“finanças terroristas”, onde é referido o suporte financeiro saudita á Al-Qaeda
e aos talibãs do Lashkar-e-Taliba, no Paquistão.
Os sauditas não
estão sós nestas operações de financiamento, sendo secundadas pelo Koweit
(aquele pequeno país que os iraquianos ocuparam, durante o regime de Saddam e
que os norte-americanos e a NATO fez questão de “libertar”. A máquina
propagandista esforça-se por fazer crer que o Irão dos aiatola e o Iraque de
Saddam financiavam os terroristas islâmicos, mas não conseguiram esconder o
óbvio.
As evidências eram
apenas a ponta visível do icebergue. Criada nos laboratórios da CIA,
inicialmente para combater os soviéticos no Afeganistão, a Al-Qaeda assumiu,
com o tempo, dois objectivos centrais: A desestabilização (realizando ataques
terroristas indiscriminados, em diversas regiões do globo, para permitir as
intervenções dos USA e da NATO, ou acções no Ocidente com o intuito de fazer
aprovar comportamentos de controlo e de aumentar a capacidade de domínio das
elites sobre as relações democráticas históricas instaladas nas sociedades
capitalistas mais avançadas, de forma a restringir as liberdades civis e a
evitar que a democracia ultrapasse o plano politico e se instale a nível
económico e social) e o combate aos xiitas no mundo islâmico. Nesse sentido a
Al-Qaeda comporta dois tipos de operacionalidade, uma representada por Bin
Laden e pelas cúpulas da rede, que se preocupa essencialmente com o Ocidente e
a outra representada pelas suas filiais no Iraque, no Paquistão e na Síria,
localmente centradas no combate aos xiitas, para alem das acções de
desestabilização.
São os xiitas que
morrem, anualmente, aos milhares, se contabilizarmos as acções terroristas nos
três países acima mencionados e no Líbano (cada vez mais arrastado para o
turbilhão sírio). Mesmo no Egipto, onde os xiitas não são mais do que uma
pequena comunidade histórica, minoritária, registam-se atentados contra as
comunidades xiitas. No Paquistão os jornais já nem prestam a devida atenção às
centenas de xiitas massacrados. No Iraque, em 2013, foram assassinados cerca de
5 mil xiitas nos atentados efectuados pelo braço local da Al-Qaeda, o ISIL
(Califado do Iraque e Levante, que também inclui a Síria, fazendo-se
representar neste país pela Frente al-Nusra), Na Líbia, predominantemente
sunita, existem diversos casos de execução sumária de xiitas, principalmente na
cidade de Derna. Na Síria as milícias da extrema-direita sunita procederam a
centenas de execuções de xiitas, decapitando-os, conforme se pode observar nos
vídeos filmados pelos “combatentes da liberdade”. Por detrás destas
decapitações e execuções sumárias na Síria, estão os financiamentos do Qatar Em
primeiro na lista) e da Arábia Saudita.
Neste momento os
sauditas pretendem realizar uma operação de camuflagem, secundarizando a
Al-Qaeda na Síria (ISIL e a al-Nusra) e unificá-las com os diversos bandos
sunitas espalhados pelo país, criando um forte exército sunita de 40 a 50 mil
elementos, para derrubar o governo sírio. Esta operação foi planificada pelo
ministro saudita dos Assuntos Externos, o príncipe Saud al-Faisal, o chefe dos
serviços sauditas de inteligência, o príncipe Bandar bin Sultan e pelo
vice-ministro da Defesa, o príncipe Salman bin Sultan e implica um financiamento
de milhares de milhões de USD.
A iniciativa
saudita é também (e aqui junta a sua voz á de Israel) uma resposta de desagrado
para com o acordo entre os USA e o Irão. Mas os sauditas esquecem-se que o seu
dinheiro tem um alcance limitado. A unidade artificial dos grupos sunitas de
extrema-direita (e dos mercenários islâmicos que os financiamentos sauditas
atraem) em torno do dinheiro saudita não vai durar. Os sauditas já cometeram
este erro no Afeganistão, onde criaram grupos de combatentes islâmicos que
careciam de um marco político unificador (eram criados com financiamento
saudita e giravam em torno do dinheiro saudita, mas nunca chegaram a consensos
políticos). Essas forças tomaram Cabul, mas foram incapazes de a governar,
sendo, por isso, derrotadas pelos Talibã.
No panorama sírio a
unificação dos bandos sunitas e dos mercenários da Al-Qaeda não permitirá a
entrada em Damasco. A Síria não é o Afeganistão. Na época em que os sauditas
executaram o seu plano afegão, a URSS tinha abandonado a Revolução Afegã á sua
sorte e o Partido Democrático do Povo Afegão mais parecia uma manta de
retalhos, o que não é o caso do BAAS Sírio, que continua a ser uma maquina
politica que funciona em função de Bashar e que continua com peso politico
suficiente para se impor às elites burocráticas sírias, evitando a sua deriva
para o campo oposicionista.
Será, pois,
dinheiro deitado ao vento…e com o vento regressará às areias do deserto. As
monarquias do Golfo deslumbraram-se com as riquezas proporcionadas pelo
Ocidente e deslumbram o Ocidente com as suas riquezas, transformadas em ilhas
artificiais, aeroportos considerados exemplares e hotéis luxuosos. Dinheiro é,
pois, coisa que não falta aos príncipes, emires e outros marialvas do Golfo.
Deve ser para compensar a ausência de dignidade.
Fontes
Financial Times, October,
29, 2013
Financial Times, October,
18, 2013,
Daily Alert,
October, 24, 2013
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