Benjamim Formigo – Jornal de Angola, opinião
Os refugiados são
um problema que nem sequer tira um minuto de sono aos líderes mundiais,
políticos ou económicos.
Andam por aí, de
Herodes para Pilatos por esse Mundo fora até serem instalados em campos que
ninguém assume serem definitivos. Campos sem condições mínimas de higiene ou de
dignidade mantidos com os recursos, cada vez mais escassos do Alto Comissariado
da ONU para os Refugiados. A protecção que encontram nestes campos é muitas
vezes precária e dependente dos países que os autorizam e/ou de forças de
manutenção de paz que se encontrem na região.
Contudo será bom não esquecer uma desprotegida categoria de refugiados, os que não atravessarem as fronteiras do seu país e são considerados IDP – deslocados internos – que muitos Governos recusam ajudar ou permitir o apoio ou a fiscalização do ACNUR cuja jurisdição se limita aos refugiados fora das fronteiras dos seus países de origem.
Em 2012, segundo os números oficiais das Nações Unidas, havia em todo o Mundo 35.826.203 refugiados, dos quais 17.670.368 eram deslocados internos (IDP) e 1.329.595 pessoas em risco. Um aumento de cerca de 400 mil pessoas relativamente ao ano anterior. Paralelamente o financiamento do ACNUR tem vindo a descer em termos reais e relativos quando comparamos os custos dos alimentos, a redução das doações, a multiplicação de conflitos e sua complexidade, a subida de combustíveis e a redução de doadores. A situação criada na Síria não é da responsabilidade dos sírios, como no Afeganistão não é da responsabilidade dos afegãos, e por aí fora. Contudo as portas dos países, designadamente europeus, envolvidos directa e/ou indirectamente nos conflitos, fecham-se. Os refugiados económicos e políticos recebem o mesmo tratamento na “fortaleza Europa” cujas políticas de asilo estão reduzidas a zero ou quase, os financiamentos de ONG’s e do ACNUR limitados aos mínimos. Na Grã-Bretanha recentemente o próprio Alto Comissário foi criticado pessoalmente porque os escritórios locais do Alto Comissariado para os Refugiados fizeram publicamente uma constatação de facto sobre a política britânica relativa aos refugiados. Não que Londres alguma vez fosse um exemplo pela positiva quanto a refugiados. Abundam ali os imigrantes da Commonwealth que afinal garantem o pequeno comércio e o trabalho que os ingleses não gostam, como sucede com os alemães e os turcos mas não os refugiados.
Porém a Europa que recebia famílias desalojadas por conflitos, como os países nórdicos, onde no inicio da década de 90 do século passado consegui encontrar parte de uma família de refugiados do Cambodja que se encontravam num campo de IDP na fronteira com a Tailândia, hoje fecharam as portas e usam o Tratado de Schengen como um álibi para o encerramento de apoio humanitário.
Só na República Centro Africana existem 935 mil pessoas em risco, desalojadas, a maioria dos quais IDP (500 mil) assistidos em campos perto de Bangui. E os números vão crescendo em África à medida que se agrava a situação do Sudão do Sul.
Ninguém ganha com estes confrontos diz-se, é falso. Os confrontos que desertificam largas zonas, ditas pobres, do planeta trazem imensos dividendos a médio e longo prazo. Basta olhar para os números, as verbas emprestadas aos Governos de países como o Cambodja, Vietname, Etiópia e por aí fora para perceber quem ganha.
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