sábado, 11 de janeiro de 2014

Portugal: CORTES EM ESCADA MATAM

 

Pedro d’Anunciação – Sol, opinião
 
Há dias soube-se que uma senhora tinha deixado adiantar um cancro até um ponto improvável, por os serviços de saúde demorarem 2 anos a concluírem o diagnóstico, que era grave desde o início. Os hospitais fazem o que podem para se safarem com os cortes impostos pelo Governo. Já se viu que um do Norte se recusou a tratar uma doente de artrite reumatóide, porque os remédios eram caríssimos. E os jornais têm descrito a dificuldade que tem sido para o SNS aceitar novos medicamentos do cancro, pelo seu preço, preferindo deixar os doentes morrerem.
 
Mas neste caso, com a morte da doente à vista e a possibilidade de um processo se arrastar nos tribunais, o ministro da Saúde fez um ar compungido, e disse que ia mandar abrir um inquérito.
 
Mais pragmático, o novo responsável da estrutura do Sul da Ordem dos Médicos disse ser um problema pôr em cobrador de impostos em ministro da Saúde.
 
A verdade é que mesmo a cobrar impostos ele abusou dos cidadãos (enviaram-se cartas a eito, incomodando por igual pagadores e não pagadores, para aumentar a cobrança), mas como não era caso de morte de homem, e as receitas subiram, ele passou por competente.
 
O problema é agora com a Saúde – que, para quem não tem dinheiro, acabou, num processo que se iniciara com Sócrates.
 
Há dias, André Macedo, do DN, comentava com graça como os cortes em escada, ou cascata, desfazem os cidadãos, e ficam sem investigação que incomode – podendo o ministro divulgar à vontade uma encenada indignação pela imprensa. Repare-se: os cortes na Saúde provocam mortes e doenças irreparáveis; pede-se depois a investigação, mas com os cortes, Ministério Público e Judiciária têm cada vez menos gente e cada vez menos meios, pelo que não podem concluir inquérito nenhum. Finalmente, as estatísticas poderiam acabar por embaraçar: mas como os cortes também foram drásticos no Instituto Nacional de Estatísticas, é pouco provável que alguma coisa venha a surgir daí.
 
Entretanto, onde não se corta, é na mordomia dos políticos, a começar pelos do Governo – com os seus gabinetes de 3º Mundo, em que um simples ministro pode chegar a ter 11 secretárias e outros tantos chauffeurs, fora os adjuntos e assessores. Pena não se começar a cortar por aí, até para nos aproximarmos da Europa. Mas nisso suponho que Maioria e Oposição não terão demasiados desacordos, porque as mordomias acabam por servir a todos (como já se viu com os carros dos grupos parlamentares, quando os Parlamentos ocidentais não costumam sequer ter carros para vice-presidentes).
 

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