Pedro d’Anunciação –
Sol, opinião
Há dias soube-se
que uma senhora tinha deixado adiantar um cancro até um ponto improvável, por
os serviços de saúde demorarem 2 anos a concluírem o diagnóstico, que era grave
desde o início. Os hospitais fazem o que podem para se safarem com os cortes
impostos pelo Governo. Já se viu que um do Norte se recusou a tratar uma doente
de artrite reumatóide, porque os remédios eram caríssimos. E os jornais têm
descrito a dificuldade que tem sido para o SNS aceitar novos medicamentos do
cancro, pelo seu preço, preferindo deixar os doentes morrerem.
Mas neste caso, com
a morte da doente à vista e a possibilidade de um processo se arrastar nos
tribunais, o ministro da Saúde fez um ar compungido, e disse que ia mandar
abrir um inquérito.
Mais pragmático, o
novo responsável da estrutura do Sul da Ordem dos Médicos disse ser um problema
pôr em cobrador de impostos em ministro da Saúde.
A verdade é que
mesmo a cobrar impostos ele abusou dos cidadãos (enviaram-se cartas a eito,
incomodando por igual pagadores e não pagadores, para aumentar a cobrança), mas
como não era caso de morte de homem, e as receitas subiram, ele passou por
competente.
O problema é agora
com a Saúde – que, para quem não tem dinheiro, acabou, num processo que se
iniciara com Sócrates.
Há dias, André
Macedo, do DN, comentava com graça como os cortes em escada, ou cascata,
desfazem os cidadãos, e ficam sem investigação que incomode – podendo o
ministro divulgar à vontade uma encenada indignação pela imprensa. Repare-se:
os cortes na Saúde provocam mortes e doenças irreparáveis; pede-se depois a
investigação, mas com os cortes, Ministério Público e Judiciária têm cada vez
menos gente e cada vez menos meios, pelo que não podem concluir inquérito
nenhum. Finalmente, as estatísticas poderiam acabar por embaraçar: mas como os
cortes também foram drásticos no Instituto Nacional de Estatísticas, é pouco
provável que alguma coisa venha a surgir daí.
Entretanto, onde
não se corta, é na mordomia dos políticos, a começar pelos do Governo – com os
seus gabinetes de 3º Mundo, em que um simples ministro pode chegar a ter 11
secretárias e outros tantos chauffeurs, fora os adjuntos e assessores. Pena não
se começar a cortar por aí, até para nos aproximarmos da Europa. Mas nisso
suponho que Maioria e Oposição não terão demasiados desacordos, porque as
mordomias acabam por servir a todos (como já se viu com os carros dos grupos
parlamentares, quando os Parlamentos ocidentais não costumam sequer ter carros
para vice-presidentes).
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