Pedro Tadeu – Diário
de Notícias, opinião
Lembrei-me que o 25
de Abril de 1974 vai fazer 40 anos e de como Portugal era diferente: guerra nas
colónias, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura
prévia na imprensa, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto
limitado, licença para poder usar isqueiro... Penso nos dias de hoje, no
quanto, apesar de tudo, avançámos. Tenho esperança que um meu neto, daqui a 40
anos, vá um dia enumerar, com espanto:
"Imaginem que
no tempo do meu avô os estudantes universitários eram praxados, obrigados a
cacarejar como galinhas ou a simular atos sexuais em público; as crianças
abandonadas em instituições não podiam ser adotadas por casais homossexuais;
ninguém participava na gestão do seu bairro; os pais achavam que quem devia
educar os filhos eram os professores; os adultos nunca mais estudavam quando
começavam a trabalhar; Fernando Pessoa, José Saramago e Gonçalo M. Tavares
quase não eram lidos no ensino obrigatório; a Matemática, a certa altura, era
facultativa e, vejam lá, não existia a disciplina de Descodificação da
Comunicação Social e das Tecnologias de Informação."
"Nesse tempo
os automóveis queimavam gasolina, custavam uma fortuna e, mesmo assim, todas as
pessoas os queriam. Fumava-se tabaco. Havia gente a dormir na rua e peditórios
nacionais para lhes arranjar comida; os serviços de saúde eram pagos e
diferentes para quem fosse rico ou pobre."
"Mais de
metade da população não votava; os políticos saíam diretamente do Governo para
empresas que negociavam com o Estado; os jornalistas nunca assumiam
publicamente os erros que cometiam; os tribunais demoravam 10 anos a sentenciar
a simples disputa de uma herança; o Estado podia penhorar os nossos bens antes
de decidir se tinha razão para isso; as prisões somavam mais condenados do que
lotação; um polícia arriscava a vida por pouco mais do que o salário mínimo,
mas podia fazer gratificados."
"Portugal
estava a ser governado por uma comissão estrangeira; os trabalhadores nas
empresas privadas tinham medo de fazer greve; os patrões não podiam despedir
preguiçosos ou incompetentes; um desempregado, ao fim de 18 meses, era
abandonado pelo Estado à sua sorte e deixava de constar nas estatísticas."
"As origens
das fortunas pessoais não faziam parte da informação pública; as declarações de
impostos eram secretas; os donos das empresas nunca dividiam lucros com os
empregados; um quinto da população ganhava 5,8 vezes mais do que o quinto mais
pobre e as 25 pessoas mais ricas de Portugal valiam 10% do PIB... Ah! E só para
se rirem: as notícias eram lidas em jornais!"
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