Baptista-Bastos –
Diário de Notícias, opinião
Consta por aí, e eu
propendo a acreditar, que o Dr. Pedro Passos Coelho foi reconduzido no lugar de
presidente do PSD. O número de seus apoiantes é menor do que na votação anterior.
Mesmo assim obteve 15 524 votos nos 17 662 mil votantes, num universo de 46 430
potenciais eleitores. Temos, pois, que mais de 15 mil militantes do PSD apoiam
a política do Dr. Passos contra os velhos, os reformados, os pensionistas, os
jovens, os desempregados, os estudantes, os funcionários públicos, os
investigadores. Não se pode fugir a esta aritmética. Sendo a conclusão de que o
PSD de Passos é mais, muito mais liberal do que "social-democrata",
se, de facto, alguma vez o foi, no sentido adjudicado por Olof Palme ou Willy
Brandt verbi gratia.
A vitória de Passos
é a derrota de quem? Não, apenas, do grupo, aliás já numeroso que se lhe opõe.
Quem foi vencido nos valores e nos padrões, e que padrões e valores defendem
Passos e os seus? Temos de nos entender quanto ao significado das palavras, e,
sobretudo, dos conceitos nela incluídos e que o poder no-lo tem escamoteado. Há
uma identidade, e uma procura de outra, que se perdeu com a ascensão da
insignificância e da coacção, consubstanciadas pela prática deste PSD.
"Nada será como dantes", ameaçou o recém-reeleito presidente do
partido. A escassa margem da sua vantagem não o impediu de reiterar que a
"austeridade" vai continuar, sem, sequer, alvitrar uma política mais
amena e uma descompressão mais calma na sociedade portuguesa. Quando os seus
prosélitos dizem ser ele "muito determinado", essa eloquência básica
oculta, por conveniência política do momento, o carácter autoritário e, amiúde,
antidemocrático do sujeito. E essa prepotência não tem sido analisada
pelaesquerda, que até a menospreza com negligente desdém.
Salvo as devidas
proporções e as obrigatórias distâncias históricas, este desprezo faz lembrar a
imprevidência do grupo da Seara Nova, que, nos anos 1920, não tomou a sério o
conteúdo de três artigos de Salazar, no jornal Novidades, nos quais o candidato
a ditador expunha, claramente, as suas ideias políticas para Portugal.
Claro que as coisas
são outras, mas os perigos, mascarados ou não de "legalidade", são
reais, e o que este Executivo tem praticado, para depredar os testamentos
legados, atinge, por vezes, os níveis da afronta.
Não vi, não li nada
que se ocupasse, seriamente, da "vitória" de Passos, embora tenhamos
em consideração que se trata de uma vitória de Pirro. Mesmo assim, não
descansou em considerar o Marcelo fora da corrida presidencial, sob a alegação
de que é um cata-vento, sem perfil para as funções. A atmosfera, no PSD, é
irrespirável, diz quem sabe. E os grupos subdividem-se, porém com as prudências
determinadas pelos perigos decorrentes de um ambiente de receio. Fala-se, em
surdina, de retaliações a Pacheco Pereira e a Manuela Ferreira Leite. Esperemos
pelos próximos parágrafos.
(Por decisão
pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)
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