Lisboa, 09 jan
(Lusa) - O investigador português Rui Feijó, que tem estudado a construção
democrática timorense, afirmou hoje que a decisão de Xanana Gusmão de abandonar
o cargo de primeiro-ministro demonstra confiança no sistema político de
Timor-Leste, mas comporta riscos.
"Esta é uma
atitude de confiança demonstrada por Xanana no sistema político timorense. De
quem acha que a sua saída (...) não vai provocar nenhum colapso, nenhum rombo
na democracia timorense", disse o especialista do Centro de Estudos
Sociais da Universidade de Coimbra em declarações à Lusa por telefone.
Depois de em
novembro ter indicado que pretendia deixar o cargo até 2015, Xanana Gusmão, 67
anos, despediu-se hoje do Parlamento Nacional durante a discussão do Orçamento
do Estado.
"É com todo o
respeito que me dirijo, e pela última vez na qualidade de primeiro-ministro, a
esta que é por excelência a casa mãe da nossa democracia", disse Xanana
Gusmão aos deputados.
Rui Feijó, que foi
assessor da presidência de Timor-Leste entre 2005 e 2006, quando Xanana Gusmão
era Presidente, mostrou-se confiante num futuro sem Xanana na chefia do
governo, mas alertou que existem riscos.
O investigador
recordou que, além de ser um líder carismático, que tem "uma ligação
afetiva poderosíssima com o povo timorense", o atual primeiro-ministro
"foi um elemento crucial na escolha de uma via democrática" em
Timor-Leste.
"Desaparecendo
de cena, a questão é saber se as forças políticas timorenses mantêm essa adesão
plena aos valores da democracia ou se, pelo contrário, podem ser tentadas a
outras vias políticas que têm expressão significativa na região", disse
Rui Feijó, lembrando que entre os 10 Estados-membros da Associação de Nações do
Sudeste Asiático (ASEAN), a que Timor-Leste pretende aderir, "muito poucos
são democracias".
Também a China, que
"não é propriamente um farol de democracia e de liberdades no mundo",
tem uma "presença fortíssima em Timor-Leste" e também tem um poder de
influência cultural no país, alertou.
"Acho que
Timor tem condições para resistir aos cantos de sereia de autoritarismos mais
ou menos fortes, mais ou menos disfarçados, mas é um risco que Timor corre se
Xanana, ao deixar de ser primeiro-ministro, também se apagar", disse o
especialista, que foi observador nas eleições nacionais realizadas em
Timor-Leste em 2012.
Rui Feijó
mostrou-se no entanto confiante de que a ideia do primeiro-ministro "não é
desaparecer completamente de cena, mas sim permanecer numa posição de senador
da república, não havendo um senado formal, de um pai da pátria respeitado, mas
tendo uma intervenção quotidiana apenas balizando as grandes opções".
FPA // JMR - Lusa
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