quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A LARANJA (FL)ÁCIDA



Rui Peralta, Luanda

I - Quando o assunto é a Nova Ordem Mundial os USA têm um reflexo condicionado: esquecem-se de todos aqueles princípios que os fundadores deixaram para a posteridade na Constituição e escondem a democracia na gaveta. Os cachorros utilizados por Pavlov babavam-se quando ouviam a campainha enquanto os USA abrem imediatamente a gaveta.

Em relação á Ucrânia o comportamento dos USA obedeceu aos mesmos tiques. Quando em 2010 Viktor Yanukovych venceu as eleições - vitória corroborada por todos os observadores, que consideraram as eleições como livres e justas – a administração norte-americana congratulou-se com o resultado eleitoral. O mandato de Yanukovych apenas terminaria em 2015, mas quando em Novembro os protestos ocuparam a Praça Central de Kiev, os USA aparecem com a U.E. a criticarem o governo ucraniano e o presidente Yanukovych, que a partir do momento em que optou por uma eventual União Euroasiática com a Federação da Rússia – abandonando o projecto de adesão á U.E. - deixou de ser democrata e passou a ser um “governante suspeito”.

O senador McCain voou para Kiev e declarou-se solidário com os manifestantes. Kerry juntou-se a McCain e declarou, em Munique, com aquele ar hollywoodesco que caracteriza as suas intervenções em momentos de crise: “Nowhere is the fight for a democratic European future more important than today in Ukraine. (…) We stand with the people of Ukraine”. Como reagiriam os europeus da U.E. se Putin fosse a Atenas e apoiasse os manifestantes gregos que exigiam a saída do país da zona Euro? Ou como reagiriam os europeus da U.E. se Putin fosse a Londres apoiar o United Kingdom Independence Party, que pretende a saída do Reino Unido da U.E?

Yanukovych foi apresentado, na indústria mediática e nas palavras dos líderes europeus e norte-americanos como sendo um ditador, mas o que se observou não foi uma atitude totalitária, bem pelo contrário. O presidente ucraniano demitiu o governo e ofereceu o cargo de primeiro-ministro á oposição, aguardando durante quatro dias que os sectores oposicionistas se entendessem. Os norte-americanos e os europeus da Eurolândia ignoram que os laços históricos, culturais, étnicos e religiosos entre a Rússia e a Ucrânia são centenários. Oito milhões de ucranianos são de origem russa. Na Ucrânia Oriental e na Crimeia a maioria da população fala russo. Quanto á Ucrânia Ocidental, a maioria apoia nitidamente a ingressão na U.E., é certo, mas é bom não esquecer que foi aí que o National Endowment for Democracy desenvolveu o seu papel clandestinamente durante a “revolução laranja” na década passada.

Sergei Lavrov o ministro russo das Relações Exteriores referiu que “uma escolha foi imposta” e que a U.E e os USA estão a fomentar protestos e motins apoiando grupos que “ocupam e destroem edifícios governamentais, atacam a polícia e proclamam slogans racistas e antissemitas á maneira dos Nazis”. As palavras de Lavrov descrevem a campanha de desestabilização montada pela NATO na Ucrânia e que levou á queda de um governo democraticamente eleito, enquanto as ruas foram tomadas pelos grupos nacionalistas e xenófobos de extrema-direita.

Fracassadas as negociações com a oposição o presidente ucraniano ficou politicamente paralisado. O exército pediu a proclamação do estado de excepção, enquanto a Rússia e a NATO discutem a “questão ucraniana”. Após a demissão do primeiro-ministro, em 28 de Janeiro, o presidente Yanukovych, pressionado pela oligarquia – cujos negócios não são compatíveis com um estado de excepção – procurou novos compromissos com a oposição e anulou as leis votadas em 16 de Janeiro, para além de ter amnistiado os manifestantes detidos. A condição era que os manifestantes desocupassem, em duas semanas, os edifícios públicos, sendo ainda oferecidos cargos governamentais aos oposicionistas.

Nada disso demoveu os agentes internos da NATO, Arseni Yatseniuk e Vitali Klichko, que exigem uma amnistia incondicional e recusaram os cargos oferecidos, de chefiar o novo executivo.

II - Em Kiev, assim como nas outras regiões do oeste e do cento do país, a ocupação dos edifícios públicos foi efectuada pelo SVOBODA (Liberdade) e outros grupos da extrema-direita, bem estruturados (o SVOBODA comemora anualmente os batalhões das SS, de triste memória, quando estes ocuparam a Ucrania) e que demonstram uma excelente saúde financeira, se atendermos aos meios com que se movem pelo país e á forma como organizam as suas campanhas de agitação e propaganda. O SVOBODA consegue rivalizar com os dois partidos “pró-europeus” (apoiados pelas fontes de financiamento do Partido Popular Europeu e pelo Partido Socialista Europeu) no que respeita á capacidade de mobilização e ao tratamento de imagem que a indústria mediática europeia e norte-americana lhe concede e conseguiu, em algumas regiões, impedir as acções do Partido Comunista, que lançou uma campanha a favor de um referendo e de alterações constitucionais. Propagam ideias neonazis, antissemitas e dominadas por uma intensa homofobia, para além de terem penetrado nas forças de segurança e nas forças especiais.

Neste contexto os dirigentes “pró-europeus” da Ucrânia, que participaram nos encontros de Munique, receberam “promessas de ajuda” por parte dos USA e da U.E. e tomaram conhecimento da existência de um programa conjunto, euro-americano, de assistência financeira. Ora, já antes da cimeira de Vilnius, em Novembro de 2013, o presidente ucraniano solicitou aos USA e á U.E. 20 mil milhões de euros, para colmatar a divida e compensar o aumento da tarifa energética. A resposta da U.E e dos USA, em Novembro, foi que “para atenuar as exigências do FMI”, a Ucrânia deveria adaptar-se aos critérios da Zona Livre de Comércio. Dos 20 mil milhões de euros, nada. A “ajuda” europeia e norte-americana não passou de um conjunto de obrigações e recomendações.

Esta atitude está nas antípodas do auxílio prestado em Dezembro pela Federação da Rússia, que baixou o preço da energia fornecida aos ucranianos e adiantou uma primeira transferência de 3 mil milhões de euros, dos 15 mil milhões previstos. Perante as negociações de Munique o governo russo anunciou que o resto do empréstimo dependerá do governo que instalar-se em Kiev e incita a oposição russa a retomar o diálogo com o presidente ucraniano e a respeitar os procedimentos constitucionais.

Mas o respeito pela Constituição, pela soberania nacional e popular, ou o respeita pelos cidadãos ucranianos é algo que não passa pela cabeça dos agentes da NATO: dos “moderados” e europeizados liberais aos “nacionalistas” e enraivecidos fascistas, a Constituição é outra: para os primeiros é a constituição de empresas (estão com os olhos postos nos “subsídios” de Bruxelas e das perspectivas de uma vasto mercado como o da U.E.) e para outros é constituição da “raça” na perspectiva do velho pesadelo nazi.

III - A questão ucraniana provoca suores frios às elites europeias. Durão Barroso, o ainda presidente da Comissão Europeia difundiu um breve comunicado onde expressava as suas condolências às famílias dos que foram, supostamente, mortos nos confrontos com a Policia e aconselhava as autoridades de Kiev a “refrearem a escalada da crise e a comprometerem-se no diálogo com a oposição e a sociedade civil”. Expressou, também, a preocupação da Comissão Europeia pelas “restrições de direitos fundamentais, como a liberdade expressão e a liberdade de imprensa”. Por fim, Durão Barroso tentou colocar uma expressão grave no rosto, mas que termina sempre por ser uma reprimenda bonacheirona (Durão Barroso não é actor para grandes dramas, mas mais para novelas leves e superficiais) e advertiu que a U.E. “seguirá de muito perto os acontecimentos e analisará as possíveis consequências (…) ”.

A U.E. aposta em dois cavalos: no partido de Júlia Timochenko (na prisão, a cumprir pena por comportamentos menos claros para com o erário público) cujo chefe de fila, Arseni Yatseniuk recusou o cargo de primeiro-ministro e no partido de Vitali Klichko, que depois de, também ele ter recusado um cargo no governo, reclama eleições antecipadas. Ambos exigem a revisão da Constituição e o fim do regime presidencialista, propondo um regime parlamentar. E correm, como cavalos de corrida espumando o cansaço pela boca, pela integração do país na U.E. E para que não restem dúvidas até já são assalariados da dita cuja…

A vontade dos peões, bispos, cavalos e torres da U.E. e dos USA é que os seus amos coloquem-nos no tabuleiro em posição de darem o xeque-mate. Enquanto o momento não chega os agentes ucranianos a soldo da NATO exercitam-se nas ruas, onde os protestos assumem cada vez maior violência (é visível nos últimos dias a utilização de armas de fogo por parte dos manifestantes). Presume-se que o número de feridos, desde o início da crise, é de cerca de mil e trezentos. Os detidos são em em número desconhecido, embora as autoridades apenas refiram entre 70 a 100 pessoas detidas em consequência dos protestos e o semanário alemão “Die Zeit” anunciou que o executivo ucraniano estudava a possibilidade de bloquear o Facebook e o Twitter.

O ex-presidente da Polónia, o social-democrata Alexander Kwasniewski, enviado especial do Parlamento Europeu, afirmou estar “alarmado” e referiu que a prioridade da U.E. era deter a violência. Kwasniewski sublinhou que a U.E. tem em aberto todas as opções, incluindo o agravamento das sanções. Mas um facto é que os pró-europeus não controlam as ruas, são nitidamente minoritários e perderam o controlo da situação para os grupos nacionalistas da extrema-direita.

Uma questão fica pendente: Será que os programas utilizados pela NATO no final da guerra fria (e que servem, actualmente, de exemplo para as agressões ao continente africano e ao Médio Oriente, depois de terem sido utilizadas em larga escala na América Latina e na Ásia e optimizadas no Afeganistão) de utilização de forças da extrema-direita no combate “á ameaça comunista”, transformada agora em “ameaça expansionista russa”, estão a ser reabilitados para a nova realidade europeia e para uma eventual ofensiva na Eurásia? Tudo isto numa perspectiva geoeconómica, claro, na perspectiva dos mercados globais.

A Ucrânia encontra-se á beira da ruptura e a falência das instituições políticas é evidente. Tal como a Síria, o Afeganistão, a Líbia, o Iraque, o Mali, a Republica Centro-Africana, a ex-Jugoslávia…

IV  - Na actual perspectiva geoeconómica, um sistema financeiro “predatório” é a arma de ofensiva final. As armas de conquista são a investigação e o desenvolvimento, mas se estas não se revelam eficientes dão o seu lugar ao sistema financeiro. Por exemplo: a superioridade tecnológica do país X revelou-se insuficiente para dominar o mercado Z. Então X oferece empréstimos com taxas de juro abaixo do preço de mercado. Vejamos o caso dos USA: existe um banco que proporciona garantias de empréstimos para as exportações de financiamentos. Desta forma os estrangeiros pagam taxas de juro inferiores às pagas pelos locais, cujas taxas pagam as próprias concessões auferidas pelos estrangeiros. Isto é uma operação de “caça” de exportações, utilizando a arma da redução da taxa de juros. Este sistema poderá atingir a sua forma “predatória” quando as taxas de juro são subitamente reduzidas no decurso de uma operação difícil (seja uma venda de equipamento, ou transferência de tecnologia, etc.). Claro que a forma “predatória” é recusada por todos os Estados, mas um facto é que acaba por ser de uso corrente, sempre que a competitividade é muito intensa (Um exemplo usual é o da Boeing versus Airbus na venda de aviões ás “companhias de bandeira” dos países africanos).

O objectivo geoeconómico não é o da geopolítica (domínio territorial, influencia diplomática, etc.) mas antes o de conquistar espaços no mercado, manter posições e papéis de força e de domínio na economia mundial. Os que desenvolverem a próxima geração de aviões comerciais ou militares, de computadores, processadores, biotecnologias, etc., terão grandes compensações e papéis de controlo dos mercados mundiais. Os outros ficarão com os restos e quanto muito com linhas de montagem, se os seus mercados internos forem suficientes.

Também aqui o sistema financeiro actua de forma inteligente e “predatória”: quando os “transplantes” (as fábricas de propriedade estrangeira, por exemplo), substituem a produção doméstica (“nacional”) a mão-de-obra semiqualificada e de grande qualificação mantém-se (e na maioria dos casos a não-qualificada, em serviços de apoio) mas as finanças e todas as funções superiores de gestão são transferidas para a base do proprietário ou para um terceiro país. Claro está que as lutas geoeconómicas não são para todos os Estados. A estratégia geoeconómica é para Estados desburocratizados, ou que atingiram baixos índices de burocratização (mesmo que tenham máquinas administrativas enormes - como a China - mas desde que os seus procedimentos de mercado sejam desburocratizados: a atribuição de nacionalidade, a facilidade de residência, a facilidade de locomoção, a facilidade de criar empresa, etc.).

Os meios geoeconómicos são a investigação e desenvolvimento de alto risco; os investimentos de penetração nos mercados; o excesso de produção como investimento e um sistema financeiro de grande mobilidade e muito flexível. Estes meios implicam por parte dos Estados uma política tarifária modular e flexível (facilmente transformável, segundo as necessidades); uma regulamentação discreta quanto às importações, de forma a constituir obstáculos incontornáveis, mas nunca apresentados sob a forma visível de obstáculo; descontos no financiamento às exportações; programas tecnológicos nacionais e informações económicas e técnicas.

As implicações são de ordem económica e politica. Nas de primeira ordem é observada uma desvantagem comparativa para empresas em sectores-alvo, caso não estejam devidamente protegidas (estarem bem protegidas não da concorrência interna ou externa, mas sim na concorrência) ou estejam protegidas pela burocracia estatal ou governos pouco cooperativos e ineficientes. É frequente um excesso crónico de capacidade em sectores cujas empresas são auxiliadas pelos Estados (caso da industria aeroespacial ou novas tecnologias), concorrendo por parcelas de mercado, muito além dos limites naturais impostos pelo lucro. Existe um risco de desperdício crónico de recursos genéricos devido ao excesso de investimento e de políticas de investigação e desenvolvimento e nos planos tecnológicos nacionais (este desperdício reflecte-se nos recursos humanos).

As implicações políticas iniciam-se com o facto de a geoeconomia aumentar o poder das elites governamentais, de obrigar a uma constante luta pelo poder politico (com sérios riscos destas lutas fragmentarem a coesão nacional) e ainda pelo facto de as novas elites de mercado geradas nas dinâmicas geoeconómicas assumirem posições de contrapoder, desafiando abertamente as elites governamentais.

V  - Todos estes factores encontram-se na realidade económica, política e social ucraniana. A U.E., os USA e a Federação da Rússia disputam não o território, mas o mercado Ucraniano. As disputas em torno deste mercado não são devidas ao seu potencial consumidor, ou aos seus recursos, mas ao seu posicionamento geográfico. Este factor assume particular importância quando um mercado está localizado entre duas áreas de mercados federados (Federação da Rússia) ou integrados (União Europeia). O papel dos USA é, aqui, marginal, mas não secundário. Os USA aparecem como aliados da U.E. nesta questão, o que não quer dizer que não possam surgir como os mediadores principais, em caso de impasse negocial entre russos e europeus, ou que as elites ucranianas perante a ameaça da integração a Ocidente ou na Eurásia, não avancem para a perspectiva nacionalista, dependendo neste caso a sua sobrevivência da sua ligação aos interesses norte-americanos (os grupos nacionalistas da direita ucraniana, que defendem a não-integração, estão a fazer eco destes interesses).

A Rússia utiliza o arsenal económico e financeiro com uma mestria impar. Foi com este arsenal geoeconómico (e não com o arsenal geopolítico) que os russos reconstruiram o vazio deixado pela ex-URSS. Uma das suas opções estratégicas prioritárias é o sector energético. Sendo um dos países com mais recursos energéticos da economia mundial, é natural que o sector energético tenha sido uma vanguarda no crescimento económico russo e tenha tido um papel preponderante na reconstrução política do Estado. Por outro lado a subida abrupta dos preços do barril de petróleo, ocorrida durante o primeiro decénio do seculo, a instabilidade vivida na Ásia Ocidental e as preocupações internacionais com a segurança energética, foram factores muito bem explorados pela estratégia económica russa, assumida em 2000 e que proporcionaram às suas companhias petrolíferas capitais próprios, que permitiriam melhorar a produção e que estão na origem do incremento produtivo verificado entre 2000 e 2005, período em que a produção subiu de 6 milhões de barris por dia (bpd) para 9,5 milhões de bpd, crescimento que continua a ser registado actualmente, com a produção a rondar os 11 milhões de bpd.

Petróleo e gás são, assim, elementos preponderantes da fortaleza económica russa, mas apenas porque foram utilizados como instrumentos de poder nos mercados internacionais, principalmente nos mercados limítrofes, como os da Ucrânia e da Bielorrússia. Mas se o sector energético é um factor fundamental na geoeconomia russa, é bom não esquecer que as novas tecnologias e a indústria aeroespacial russa avançam de forma surpreendente, tanto nas aplicações civis como militares. A economia russa é hoje um factor de expansão do mercado na Eurásia, de aumento dos consumidores e que comporta milhões de imigrantes da região.

VI - Se na Rússia actual Putin pode parafrasear Benjamin Disraeli, primeiro-ministro britânico que no século XIX afirmou: “A Inglaterra não tem amigos permanentes ou inimigos permanentes, só interesses permanentes”, substituindo “ A Inglaterra” por “A Federação da Rússia”, já na U.E. as dinâmicas de interconexão dos interesses nacionais tornam-se um obstáculo á criação de uma nova dinâmica europeia. A Inglaterra continua na senda de Disraeli e a geoeconomia inglesa entra em contradição com uma eventual geoeconomia continental. Mas o problema é que a geoeconomia da U.E. não é efectuada em função de uma perspectiva de mercado europeu, mas sim em função de interesses cartelizados e isto por um motivo: em décadas de construção da integração europeia, os europeus ainda não conseguiram criar uma “identidade europeia”, continuando a prevalecer “as identidades europeias” ou seja, quanto muito, um cartel.

As elites económicas europeias não são europeias, são nacionais e não podem prevalecer sem o espaço nacional. Temem (e com razão, porque desaparecerão no dia em que isso acontecer) a sua diluição no amplo espaço europeu. Por sua vez os sectores onde a integração foi efectuada, ou aqueles que são consequência ou produto da integração, não são factores suficientemente fortes para a implementação de dinâmicas federativas e as únicas elites que o processo europeu integrado criou até agora foram as administrativas - os eurocratas - um bando de irresponsáveis, misto de playboys com tiques de recém-licenciados, malformados e facilmente corrompidos, que pavoneiam-se nos corredores, quaisquer que eles sejam (os corredores de Bruxelas ou de Estrasburgo, ou os corredores dos metros, o que interessa é que haja corredores para se passearem). Quanto a elites de mercado integrado, a U.E.: não as têm!

Portanto, com elites administrativas e sem elites de mercado não se pode definir uma geoeconomia europeia, apenas uma manta de retalhos ou quanto muito um cartel de interesses (melhor, vários carteis que se cartelizam entre si, em função da ocasião que faz o ladrão). Por isso as elites ucranianas e os sectores de topo da “classe média” (a sopa dos hipotecados) preferirem a U.E e colocarem os seus peões, cavalos, bispos e torres em frenéticos movimentos no tabuleiro.

Quanto aos ucranianos…deixemos correr as dinâmicas internas (a luta de classes e as lutas entre as elites, sendo aqui importante as “cotoveladas” entre as diversas fracções de oligarcas laranja e os oligarcas “intermediários do gás”). Entre a perspectiva da sustentabilidade apresentada pela perspectiva eurasiática (cativante para as amplas camadas assalariadas da população e oferecendo melhores perspectivas aos desempregados) e o “eldorado” da U.E. é uma decisão que apenas pode ser tomada pela soberania popular.

Mas será que o Ocidente e os oligarcas considerarão a soberania popular da periférica Ucrânia, se esta for no sentido oposto? Que corram as águas - ora serenas, ora agitadas – pelos rios, para que sejam férteis os campos…

Fontes
Flamm, Keneth Targeting the Computer: Government Support and International Competition The Brookings Institution, Washington DC, 1987
Luttwak, Edward Strategy: The Logic of War and Peace Harvard University Press, 1987.
Anders, Aslund How Russia Became a Market Economy The Brookings Institution, Washington DC, 1995
Herman, Michael Intelligence Power in Peace and War Cambridge University Press, 1996
Robert Ferris, John Intelligence and Strategy. Selected Works Routledge, New York, 2005

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