As empresas
responsabilizam o Governo pela necessidade de despedir trabalhadores, o Governo
considera que a culpa é das empresas em reestruturação e a sociedade civil põe
em causa as aptidões da administração.
No Niassa,
província no norte de Moçambique, centenas de trabalhadores de empresas
florestais correm o risco de perder o emprego, por falta de terras para novas
plantações, dizem os representantes da indústria.
O Governo parece
não conseguir cumprir a promessa de disponibilizar os 166 mil hectares para as
plantações, segundo a empresa Chikweti Forests, por exemplo, que previa ocupar
uma área de setenta mil hectares. Mas até agora só lhe foram disponibilizados
vinte mil, facto que está a obrigar à redução da mão de obra.
Até março próximo,
prevê-se que mais de oitocentos trabalhadores fiquem desempregados, diz Carlos
de Almeida, gestor da Chilweti Forests: “Como nós não queremos fechar a
empresa, temos que, ao final de março, avisar várias pessoas, ou bastantes
pessoas, que o contrato poderá ser terminado. Mas tudo isto é reversível se,
entretanto, de hoje para amanhã, aparecer um investidor interessado”. O
responsável acrescenta que os meios disponíveis permitem manter 200 contratados
até ao final do ano, o que permitirá continuar os trabalhos no terreno.
A culpa é das
empresas?
O Governo
Provincial do Niassa nega a falta de espaço para novas plantações e justifica a
demora com a complexidade do processo de atribuição do direito de uso e
aproveitamento de terra para investimentos desta natureza: “Não é de um dia
para o outro”, diz o diretor provincial de Agricultura, Eusébio Tumuitiquile.
“Vamos ter que seguir todas as regras conducentes. Mas como resposta imediata,
o Governo Provincial concedeu mais de oito mil hectares para poderem plantar
nesta presente campanha”.
Eusébio
Tumuitiquile aponta outros fatores para justificar a redução do pessoal nestas
empresas: “Grande parte das empresas está em processo de reestruturação”,
lembra, concluindo que o facto torna impossível discernir as razões profundas
para os possíveis despedimentos.
A culpa é da
administração?
Por seu lado, a
empresa Chilweti Forests critica a cedência faseada de terra pelo Governo, uma
vez que dificulta a planificação a médio e longo prazos, como sublinha Carlos
de Almeida: “Moçambique tem condições fantásticas para progredir imenso”, diz,
salientando que o facto se aplica especialmente ao Niassa: “Mas há aqui uma
rigidez que nós sentimos”.
A empresa Florestas
do Planalto, anunciou recentemente a sua retirada da província pela mesma
razão: falta de terras para as suas plantações. A Fundação Malonda, que
desempenhou um papel importante na angariação de investimentos para o setor
florestal, aponta como principal causa para estes problemas o fraco domínio de
gestão dos principais atores dos projetos.
É o que defende
Tito Gouveia, diretor de promoção dos Serviços Financeiros e Legais da Fundação
Malonda: “Nós não podemos ter no Governo provincial com esta mais-valia de
indústria florestal, governantes que não tenham conhecimento profundo dessa
área, ou que não tenham assessores que possam conduzir para o desenvolvimento
dessa área. Isso ajuda bastante”.
Mais
profissionalismo
Para Tito Gouveia
não se trata de uma questão de falta de formação adequada: “Faltaram pessoas
indicadas aqui, no Niassa, para lidar com essa problemática, quer de florestas,
quer de lideranças comunitárias, para, em conjunto, se desenvolver esta
projeto” Porque para haver um diálogo “em pé de igualdade” entre empresas e
Governo, e a administração e as comunidades, são necessários conhecimentos
aprofundados da matéria, remata.
Tito Gouveia sugere
uma postura mais profissional do Governo nas suas relações com os investidores
florestais, principalmente na gestão da terra. Neste momento, explica, as
consultas comunitárias e a negociação com as comunidades ficam ao cargo das
empresas, dificultando o entendimento entre os envolvidos.
Deutsche Welle – Autoria: Ernesto
Saúl (Lichinga) - Edição Cristina Krippahl/Madalena Sampaio
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