MINISTRO DE ESTADO
E CHEFE DA CASA MILITAR PARTIDÁRIO
Folha 8 – 22 fevereiro
2014
O general das
Forças Armadas, no activo, ministro de Estado e chefe da Casa Militar da
Presidência da República, Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, é acusado
de ser membro “sombra” do comité central do MPLA, razão pelo qual participou,
na VII reunião ordinária deste órgão, no passado 07 de Fevereiro, em Luanda. A
sua presença levantou em surdina, comentários nada abonatórios por
comprometer o carácter republicano e partidário das forças armadas, bem como a
isenção requerida aos oficiais superiores, num regime democrático.
“Não é a primeira
vez que o camarada general Kopelipa participa nas reuniões do comité central
ou mesmo do bureau político do partido. Ele trabalha directamente com o
camarada Presidente e, muitas vezes, tem intervenções como se fosse membro de
pleno directo, pois algumas chegam a ser adoptadas, se aprovadas pelo
presidente do partido”, justificou ao F8, um membro do CC do MPLA, que preferiu
o anonimato, por razões óbvias, “pois hoje ser membro das estruturas é só para
continuarmos a garantir o nosso pão e a educação dos filhos, tal a
militarização e a presença de generais e militares da Presidência, constituindo
um elemento de intimidação, para muitos membros eleitos pelos militantes em
congresso”.
Useiro e vezeiro
nesta prática, por ser repetitiva, a justificativa prende-se ao facto do mesmo
ser ministro de Estado e um dos assessores principais do PR. É frágil o
argumento, pois a condição de ministro deriva do facto de ser Chefe da Casa
Militar da Presidência da República e não do presidente do MPLA.
A não ser que este
defeito derive do facto da maioria dos oficiais generais, provenientes das
FAPLA, não conseguirem desligar-se do cordão umbilical do MPLA. Tanto é assim,
que este órgão sempre foi o braço armado do MPLA, nunca se tendo transformado
em forças republicanas, como atesta o art.º 6.º da Lei Constitucional da
República Popular de Angola, de 11 de Novembro de 1975, publicada no Diário da
República, I série-n.º1: “As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola
- FAPLA- braço armado do Povo, sob a direcção do MPLA e tendo como Comandante
em Chefe o seu Presidente, são institucionalizadas como exército nacional da República
Popular de Angola, cabendo-lhes a defesa da integridade territorial da Pátria e
a participação ao lado do Povo na produção e, consequentemente, na Reconstrução
Nacional. O Comandante em Chefe das Forças Armadas Populares de Libertação de
Angola - FAPLA - nomeia e demite os responsáveis militares no escalão superior,”
rezando ainda ter sido a Lei Constitucional, “aprovada por aclamação pelo
Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola, aos 10 de
Novembro de 1975.
Como se pode
verificar existem vícios insanáveis e difíceis de enterrar, por serem cultura
do actual regime, logo determinando o comportamento da maioria dos oficiais
policiais e militares, mesmo depois do fim do regime de partido único, que
vigorou até 1991, a Lei n.º 23/92 de 16 de Setembro, Lei de Revisão
Constitucional, no número 2, do art.º 151.º, diz: “As Forças Armadas Angolanas,
como instituição do Estado são permanentes, regulares e apartidárias”, não alterou
a mentalidade destes actores, apenas branqueou os reais propósitos.
Porquanto este
articulado nascido com o advento da adopção do multipartidarismo em Angola,
sempre foi uma letra morta, para os principais oficiais generais da
Presidência da República ou próximos dela. Estes sendo funcionários públicos
não podem ter negócios particulares, mas passam por cima da lei e negoceiam
consigo próprios usando as suas funções no aparelho do Estado.
O general Kopelipa,
com uma carteira de negócios invejável, por ser braço directo do Presidente da
República, pois detém, desde terminais portuários - 5M -, representação de
automóveis -FIAT-, hipermercados Kero, empresa de distribuição de combustíveis
- PUMANGOL-, Telecomunicações, minas de diamantes, imobiliários e outros,
colocam-no como sendo dos generais mais ricos no mundo, aliás, não existe
nenhum país que tenha um chefe da Casa Militar com tamanha fortuna.
Por esta razão ele
manda bugiar, também a norma da Constituição de 2010, no art.º 207.º “As Forças
Armadas Angolanas são a instituição militar nacional permanente, regular e
apartidária (…)”.
O texto não poderia
ser mais perfeito, mas a prática é completamente ao contrário e se dúvidas
houvesse, basta que todos, sem muito esforço de memória, recordemos o
posicionamento musculado dos órgãos castrenses, sempre que está em causa a
necessidade de afirmação dos pergaminhos da Paz e da Democracia, por parte da
oposição e da sociedade civil.
A forma brutal e
partidariamente comprometida, como as Forças Armadas e a Polícia Nacional actuam
nas manifestações da sociedade civil, usando de violência extrema e os
assassinatos selectivos, são uma clara demonstração do texto constitucional,
constituir apenas um alibi, para iludir a comunidade internacional, sobre
alegados propósitos democráticos de um regime, que não sabe viver longe dos
pergaminhos da ditadura.
Por esta razão, o
general Kopelipa é acusado de ser um dos mais activos promotores, visando a
alteração ou revogação do art.º 47.º, da CRA (Constituição da República de
Angola), sobre manifestações, passando após revogação a ter a seguinte
redacção: “1. É garantida a todos os cidadãos a liberdade de reunião e de
manifestação pacifica e sem armas, com necessidade de uma autorização expressa
de autoridade administrativa e nos termos da lei”, portanto contrariando em
muito a actual redacção que diz: “1. É garantida a todos os cidadãos a
liberdade de reunião e de manifestação pacifica e sem armas, sem necessidade de
qualquer autorização e nos termos da lei”.
Como se poderá
verificar a pretensão “turca”, sendo aprovada, devido a maioria parlamentar,
virá consagrar, constitucionalmente, a lei do bastão e calcar ainda mais as
débeis vozes da sociedade civil que clamam por uma verdadeira democracia e
consolidação da paz.
Reconheçamos, a
actual Constituição, apelidada “Jessiana”, é um cobertor discriminatório, pois
não cobre todos cidadãos angolanos da mesma forma. Os ligados a superestrutura
presidencial e afins, podem fazer tudo, inclusive violar as leis, com a maior
impunidade, que nada lhes acontece, os demais são presos, agredidos e
assassinados, como se fossem insectos sem lugar nas estatísticas humanas.
Finalmente, quando
o cidadão comum não vê exemplos no Presidente da República nem no seu staff,
deixa de acreditar no sistema democrático e com isso a estabilidade do país,
pode estar suspensa num fio muito frágil. Se cada um, face a descrença chamar
a si a responsabilidade e a autoridade para resolver as suas questões e
discricionariamente fizer a interpretação da norma, teremos muitos e mais
problemas no futuro. Seria prudente maior discrição e contenção, para se evitar
convulsões sociais imprevisíveis, face ao aumento vertiginoso das violações as
leis, da arrogância, da discriminação e da corrupção ao mais alto nível.
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