A ESTRANHA FÓRMULA
DO MINISTRO DA AGRICULTURA
Folha 8 – 22 fevereiro
2014
Angola continuará
a executar o seu programa de produção alimentar, diversificação da economia
e a garantir a segurança alimentar, declarou há dias o ministro da
Agricultura. O discurso é o mesmo de sempre. Não é de admirar. A realidade
também não sofreu alterações.
Afonso Pedro Canga
comentava a institucionalização pela União Africana de “2014 como o ano
africano da agricultura e da segurança alimentar”, durante a XXII Cimeira de
Chefes de Estado da organização realizada em Janeiro, na capital etíope, Addis
Abeba.
O ministro
reafirmou que estão a ser criadas condições para que os produtores (sejam
pequenos ou médios) possam explorar as potencialidades do país no domínio
agrícola, considerando oportuna a iniciativa, uma vez que em África ainda
muitas pessoas padecem de fome, bem como da necessidade de unir sinergia para
acabar com a fome no continente.
Segundo o ministro,
“Angola está num bom caminho na medida em que no ano passado foi um dos
países que reduziu o número de pessoas afectadas pela fome, tendo inclusive
sido premiado pela FAO por este feito”.
“Nós vamos
continuar o trabalho com mais determinação até, naturalmente, acabar com a
fome”, declarou o ministro, certamente depois de um lauto almoço que, como se
sabe, é obrigatório para depois se falar da fome… dos outros.
Pedro Canga
salienta que o facto de a União Africana consagrar “2014 ano africano da
agricultura e segurança alimentar, é reconhecimento de que é necessário
investir na agricultura para combater a fome, a pobreza e para diversificar a
economia africana”.
O mesmo ministro
anunciou em Agosto de…. 2008 a criação dos pólos de desenvolvimento agrícola,
nos municípios do Kuito Kuanavale, Kuchi, Mavinga e outras áreas, na pro víncia
do Kuando-Kubango, a partir de 2009.
Em declarações à
imprensa, o ministro afirmou então que haverá produção de cereais em grande
escala, crescimento da pecuária, bem como de indústrias açucareira e oleaginosa,
com vista ao maior desenvolvimento económico na província.
Afonso Pedro Canga
disse, sem avançar ainda os valores monetários a empregar nestes “megas projectos”,
que estará resolvido apenas para um estudo pormenorizado dos mesmos, com
vista a arrancar com as empreitadas do ramo de agricultura, no Kuando Kubango,
no próximo ano, 2009.
Durante a sua
permanência de dois dias ao Menongue, o ministro que chefiava uma delegação
do seu Ministério, visitou na altura os projectos em curso, nomeadamente o
Canal de Irrigação do Missombo, com três quilómetros da primeira fase já
finalizados.
Acompanhado pelo governador
da província, João Baptista Tchindandi, visitou a segunda fase do referido
canal, com três quilómetros, com previsões de beneficiar mais de 1.500
camponeses, já com término previsto em Dezembro de 2008.
A empreitada, a
cargo da empresa de construção civil portuguesa, ConstruMenongue, contemplava
a construção de um reservatório de água com a capacidade de dois mil trezentos
metros cúbicos.
Canga disse na
altura que ss factores agrícolas para a campanha 2008/2009 já estavam no Kuando
Kubango, para serem distribuídos aos camponeses locais, onde constam 50
toneladas de sementes de milho, 15 de adubo, 22 de amónio, 20 de ureia, 315
charruas e 315 correntes, a par de outros imputes.
Quando em Junho do
ano passado a FAO homenageou Angola pelos supostos êxitos no combate à fome,
o titular da Agricultura recordou que, logo após o fim do conflito, em 2002, o
Governo implementou com êxito um vasto e complexo programa de reassentamento
das pessoas deslocadas e refugiadas, por causa da guerra, e um programa de
reinserção social, económica e produtiva de milhares de ex-militares.
Neste âmbito, disse
o ministro, regressaram para as zonas de origem ou de preferência mais de quatro
milhões de pessoas que começaram a produzir os seus alimentos e deixaram de
depender da ajuda alimentar.
Do mesmo modo, a
agricultura familiar foi redinamizada e apoiada técnica e financeiramente,
pro duzindo alimentos para o consumo e para a renda da família. E as crianças
e jovens nas escolas recebem uma merenda, acrescentou.
Para Afonso Canga,
o reconhecimento da FAO encoraja (como se isso fosse preciso) o Governo angolano
a prosseguir com mais dinamismo e determinação nos esforços de reconstrução nacional,
visando satisfazer as necessidades e as aspirações justas dos angolanos, em
particular, o direito à alimentação.
“O Executivo
angolano, liderado pelo engenheiro José Eduardo dos Santos, vem aumentando,
anualmente, os orçamentos destinados à segurança alimentar e nutrição, à
saúde, à educação, à assistência social e ao combate à pobreza”, disse o
ministro, sublinhando que a produção alimentar tem conhecido aumentos, os
níveis de emprego têm subido, os índices de pobreza estão a reduzir e a esperança
de vida dos angolanos está a aumentar.
O ministro da
Agricultura lembrou, entretanto, o longo caminho por percorrer para
erradicação da fome e da pobreza, no mundo. Por esta razão, sublinhou, todos
os meios e esforços devem ser mobilizados para a erradicação deste flagelo,
que insistentemente persegue a humanidade, há séculos.
Ora, dando azo à
filantrópica vontade de pôr o mundo em ordem, o ministro de Eduardo dos Santos
reafirmou o compromisso de Angola e do seu Governo de estar na linha da frente
neste combate, ao lado de outros países e organizações, para que ao nível
nacional, regional e internacional se possa alcançar níveis de segurança
alimentar aceitáveis.
O ministro foi
muito aplaudido quando rendeu uma especial homenagem às mulheres que “são as
principais produtoras de alimentos para a família no meu país e no mundo. Sem a
sua participação e entrega os resultados seriam diferentes”.
Nem mais. Aliás,
por todo o mundo ocidental se sabe que, citando o ministro Afonso Pedro Canga,
são “as mulheres as principais produtoras de alimentos”. A agricultura é, de
facto, uma actividade feminina, como é fácil de constatar na Alemanha, nos EUA,
no Reino Unidos etc.
Entretanto, a
África sub-saariana deverá registar até 2017 um aumento de mais de 50% do
actual défice alimentar, e nenhum país lusófono evitará a tendência, segundo
dados da agência governamental norte-americana para a Agricultura. Nada de
novo, dirão os que têm fartura como é, no nosso caso, o principal responsável
pela política agricola.
Os dados do
Departamento dos Estados Unidos para a Agricultura (USAD), indicam que Cabo
Verde e Angola eram em 2007 os países lusófonos africanos que apresentavam uma
mais baixa diferença entre a quantidade de alimentos disponíveis (produzidos e
importados) e as suas necessidades - respectivamente, sete mil de toneladas e
47 mil toneladas.
Mas, segundo os
dados da USAD, o défice cabo-verdiano aumentará seis vezes até 2017, para 41
mil toneladas, enquanto o angolano crescerá cerca de um terço, para 66 mil
toneladas.
Pior é a situação
nos outros dois países lusófonos incluídos no estudo - Guiné-Bissau (de 219
mil toneladas para 362 mil) e Moçambique (de 154 mil toneladas para 211 mil).
“Até 2017, a África
Sub-Saariana terá mais pessoas em situação de insegurança alimentar do que a
Ásia - 645 milhões, em comparação com 487 milhões. Por outras palavras, dada a
actual tendência, a região albergará mais de metade das pessoas mal-nutridas
abrangidas por este relatório”, apesar de ter menos população, refere a USAD.
Angola e Cabo Verde
incluem-se no grupo de países que importam mais de 50% dos cereais que
consomem, enquanto em Moçambique e em Cabo Verde esta percentagem situou-se
entre os 30% e os 50% nos últimos anos.
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