sábado, 22 de fevereiro de 2014

CPLP: O PORTUGUÊS DA TRETA E OS OBIANGUEZINHOS



Mário Motta, Lisboa

Por acaso (ou talvez não) deparei com dois textos aqui pegadinhos no Página Global que versam sobre a Guiné Equatorial, novel país que integra a CPLP – como ontem foi sobejamente anunciado. Um texto, dos referidos, aborda a negociata Banif. Outro, é a contestação lírica de João Soares sobre a admissão da Guiné Equatorial na CPLP, solicitando a Xanana Gusmão para que Timor-Leste vete a entrada daquele país na CPLP – Timor-Leste receberá em breve a presidência rotativa da organização.

Diz João Soares, segundo a Lusa, “que a Guiné Equatorial é "a mais longa ditadura no poder no mundo e uma das mais corruptas e torcionárias" e considerou que a sua adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, "além de ser absurda em termos de ligação com a língua portuguesa, violaria um dos princípios básicos essenciais" da organização.” Tudo isto é verdade. Acrescente-se que o rol de crimes do ditador Obiang está juncado de cadáveres de gente do povo, de intelectuais, de opositores que o rejeitavam, e rejeitam, assim como ao seu reinado imposto. Acrescente-se o enriquecimento ilícito do ditador e da sua família próxima, assim como da distante e ainda de colaboradores e empresários amigos nacionais e estrangeiros. Quase todos eles cúmplices de assassinatos e roubos. E é este Obiang e sua trupe de criminosos que ingressam na CPLP por concordância e satisfação de falsos democratas espezinhantes da justiça, dos direitos humanos, da liberdade e dignidade devida aos povos. Os ministros da CPLP que aceitaram com “satisfação” (disse-o Rui Machete) o ingresso da Guiné Equatorial na CPLP não são nada menos que uns Obianguezinhos que só devido e meras circunstâncias não conseguem fazer o mesmo que o tal sanguinário ditador agora recebido em passadeira vermelha, com pompa e circunstância. Uma vergonha, um escândalo, um descrédito imenso para a CPLP.

O que espanta em toda esta dança da admissão da Guiné Equatorial na CPLP é haver quem na boa-fé ainda veja “mãos limpas” nos países da CPLP e, principalmente, nos políticos que põem e dispõem nos seus países – os tais que são somente serventes impregnados de petróleo e uma mão cheia de cifrões para proveito próprio, de alguns dos seus familiares e amigos (onde foi que já vimos isto?). Na boa-fé João Soares. Lírico, escreve ao primeiro-ministro de Timor-Leste: “Afirmando-se admirador da "firmeza de convicções democráticas" de Xanana Gusmão, o deputado português concluiu que "uma entrada dessa ditadura sanguinária na CPLP", durante a presidência do histórico da resistência timorense, lhe causaria "profunda tristeza".” Pois é, companheiro João. Essa “profunda tristeza” vai invadir muita gente. Que o diga Ana Gomes e muitos mais. Mas nem por isso Xanana se importará. É que ele também já está todo salpicado do chamado ouro negro e a mão-cheia de cifrões também não lhe falta. Temos assim que a dança vai terminar em beleza, com a Guiné Equatorial a entrar na CPLP pela porta grande com os Obianguezinhos a aplaudir.

Como podemos ver na imagem acima é descrito “O mundo da língua portuguesa” da CPLP. A Guiné Equatorial fala português europeu? Não. Nem um bocadinho. Fala português brasileiro? Não. Nem um bocadinho. Então que português fala? Português da treta. Um novo estilo de língua portuguesa, exclusivo de gananciosos, de indivíduos sem princípios democráticos e de humanidade dúbia. E esses são os atuais dirigentes dos países da CPLP em que Portugal ocupa lugar cimeiro junto com o Brasil do aparteide. A evolução da língua portuguesa que não se esperava aí está: o português da treta. Muito devendo à Guiné Equatorial e aos Obianguezinhos.

E aqui nem se fala da pena de morte na equatorial Guiné. É que em Portugal também já existe (à socapa). Quase todos os pobres têm sido condenados por este governo de Cavaco, Passos e Paulo Portas. Mais país, menos país... Que diferença faz?

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