José Ribeiro –
Jornal de Angola, opinião
Na campanha
descabelada contra a adesão da Guiné Equatorial à CPLP, os críticos do costume
chamaram “canibal” ao Presidente Teodoro Obiang Nguema.
Os argumentos dos
bem-falantes políticos e intelectuais portugueses são de um racismo chocante. E
até já começam a revelar uma tendência inquietante para o “apartheid”. Quando
as forças democráticas daquele país se preparam para comemorar o seu 25 de
Abril é, no mínimo, doloroso, ouvir e ver esses exercícios de racismo. Mas os
povos sobrevivem sempre à intolerância ideológica, ao obscurantismo e à
indignidade.
Na reunião de Maputo, os ministros dos Negócios Estrangeiros da comunidade dos
países que têm o português como sua língua oficial, aprovaram por unanimidade a
entrada de mais um Estado membro que nos tempos idos até foi colónia de
Portugal. O passado pesou muito para que as autoridades da Guiné Equatorial
tomassem a sábia decisão de adoptar o português como língua oficial. Tal como
pesou o facto de não existir a pena de morte em nenhum Estado membro da CPLP
para o Governo de Malabo suspender a lei que condena à pena capital, até ser
aprovada legislação que vai abolir para sempre essa prática, mais própria da
barbárie do que de gente civilizada.
Quando o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, disse aos
seus pares em Maputo, que Portugal se sente confortável com a decisão do
Governo do Presidente Obiang Nguema e, por isso, votou a favor da adesão da
Guiné Equatorial à CPLP, estava a repor a racionalidade que se exige em
questões de Estado.
Actualmente a diplomacia é usada demasiadas vezes para manipular as opiniões
públicas ao sabor de interesses egoístas e quase sempre ilegítimos de alguns
países. Largos sectores em Portugal fizeram o mesmo em relação à adesão da
Guiné Equatorial à CPLP. Figuras da cultura e da política, que apenas atingiram
esse estatuto por distracção do acaso, atacaram o Presidente Obiang,
chamaram-lhe todos os nomes, mas pelos vistos não deram argumentos que fossem
validados pelos sensatos ministros da CPLP.
A CPLP é um espaço de encontro de povos e culturas. Quanto mais forte for, mais
êxito tem na defesa dos direitos humanos, no aprofundar da democracia, no
desenvolvimento da economia. É evidente que a adesão da Guiné Equatorial
fortalece a comunidade em todos os aspectos. E é ainda mais evidente que nesse
espaço, o novo Estado membro vai convergir com as políticas que visam promover
a democracia e o Estado de Direito e Democrático. Uma prova disso foi a
alteração legislativa que suspende a pena de morte. Mas outros progressos podem
vir da sua adesão à CPLP.
A diplomacia não pode estar ao serviço da guerra, da agressão, da exclusão e
muito menos da asfixia de países e povos. Angola está empenhada na diplomacia
da paz e os resultados na África Austral estão à vista. Todos desejamos que o
mesmo êxito se repita nos Grandes Lagos. Se Angola e a comunidade internacional
conseguirem influenciar todos os Governos para adoptarem políticas de
tolerância e de defesa dos direitos humanos, então os esforços actuais valem a
pena. Os problemas sociais e as divergências políticas não se resolvem com
exclusões nem com guerras. É apenas a diplomacia da paz que cria terreno fértil
ao desenvolvimento social e económico.
A CPLP, a partir da reunião de Díli, fica muito mais forte com a inclusão da
Guiné Equatorial. E este país vai seguramente registar mais avanços na via
democrática ao emparceirar com países como o Brasil, peça fundamental do grupo
BRICS, com Angola, uma potência emergente e um Estado cada vez mais influente
em África, com Portugal, um Estado membro da União Europeia que nenhum parceiro
da comunidade quer ver em crise, quanto mais não seja pela sua rica História e
Cultura, Moçambique, com a sua posição estratégica nas rotas marítimas,
autêntica ponte entre o Atlântico e o Índico, a Guiné-Bissau, um pilar
importante na África Central, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, as ilhas da
comunidade, que alargam a zona económica exclusiva, e Timor-Leste, a fortaleza
que guarda a Língua Portuguesa do outro lado do mundo. A Guiné Equatorial
dá-nos ainda mais força. Que seja bem-vinda!
Os hipócritas que desrespeitaram o Presidente Obiang e o povo da Guiné
Equatorial são os mesmos que atacam Mugabe por se recusar a ceder a pressões
externas extremamente violentas e injustas. Quem não está com eles, é ditador,
canibal, corrupto ou coisa pior. Estamos a chegar a um ponto em que se repetem
todos os tiques da corrente herdeira do regime do “apartheid” que se espalhou
pelo mundo e influencia hoje a política em relação a África. Alguns não
conseguem perceber a dimensão do ridículo em que caem.
Ao aceitarem a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, os ministros dos
Negócios Estrangeiros sinalizam uma atitude positiva, que não é muito usual na
linha de ruptura, alta pressão e confronto aberto que marca a diplomacia de
muitos países e organizações ocidentais nos nossos dias. O Presidente da
Ucrânia, eleito em eleições democráticas tão legítimas como as que ocorrem em
Portugal e em todos os países da União Europeia, passou a ser mais um ditador
porque não assinou um acordo com a União Europeia. Se o tivesse feito, era um
intocável e recebia uma choruda ajuda financeira.
Esta maneira de usar e abusar da democracia para pressionar governos eleitos,
obter supremacia estratégica e militar e vantagens económicas e comerciais, não
me parece própria de gente civilizada.
Os verdadeiros regimes democráticos não fecham a porta ao diálogo e à inclusão.
A diplomacia é a arte de criar amigos e tem de ser usada a favor da compreensão.
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