terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O DIA SEGUINTE NA UCRÂNIA



João Goulão – Jornal de Angola, opinião

A maioria dos deputados do Parlamento da Ucrânia evitou, por ora, uma guerra civil mas tornou-se parte de um golpe de Estado.

Todos os acordos políticos estabelecidos entre o presidente Ianukovitch, agora demitido, e as oposições, com envolvimento de países da União Europeia como a Polónia e a França, foram efémeros e valeram no curto tempo que teriam de durar até à vitória da facção dita “pró-europeia”.

 O golpe consumou-se e suspende, em princípio, os confrontos, mas deixa em aberto todos os problemas de fundo.

Foram marcadas eleições antecipadas para 25 de Maio. No Parlamento, depois da demissão do presidente, Volodymyr Rybak, na sequência de ameaças de morte, foi decidida a libertação de Tymochenko, a pessoa mais rica de um país de pobres, mulher de actividades empresariais muito bem sucedidas nos Estados Unidos, até agora a cumprir uma pena de sete anos por corrupção em negócios de gás com a Rússia.

 O “jogo”, a palavra escolhida pelo embaixador dos Estados Unidos em Kiev para os acontecimentos na Ucrânia, vai continuar. Os peões das grandes potências irão mover-se segundo as coordenadas internacionais e os ucranianos, de Leste ou Oeste, de Norte ou Sul, têm o destino traçado: votarão sem ter voto na matéria.

Quem ganhará? Klitschko, o candidato de Merkel e da União Europeia, o boxeur  democrata cristão que apropriadamente chefia o partido Udar (Golpe) mas que Washington olha de esguelha? Timochenko, que deu com a “revolução laranja” em pantanas e que agora manobrava da prisão através do seu alter ego Arseni Iatseniouk, que os americanos escolheram como “o gajo”, segundo a palavra da subscretária de Estado Nuland, que tem a pasta da desestabilização da Ucrânia? Os fascistas de Tyahnibok, do partido Svoboda (Liberdade), cujas milícias dirigidas por grupos treinados pela OTAN fizeram das manifestações ditas pacíficas arruaças provocatórias? O Partido das Regiões, dominante no leste russófono, mesmo que Viktor Ianukovitch tenha agora caído em desgraça, abrindo as portas a uma guerra interna no seio da oligarquia regional?

Muita coisa se vai escrever sobre a “batalha política” supostamente ucraniana, como se ela pudesse funcionar à margem dos campos de batalha da nova guerra fria, que não tarda a alastrar à Bielorrússia.

A mente maniqueísta da comunicação social neoliberal vai explicar que tudo se decidirá entre entendimento que vier a ser formatado por  “europeístas” e “americanistas” e as “gentes de Moscovo”. 

Por momentos os ucranianos acreditarão que alguma coisa mudou, mas não tardarão a perceber que ao seu dispor vão ter mais da mesma miséria. No entanto há um dado imprevisível e inquietante  a ter em conta: as eleições ucranianas vão coincidir com as europeias, nas quais se prevê uma afirmação sinistra do retorno fascista. Atenção pois à prestação das hordas de Tyahnibok, aliado da senhora Le Pen, dos neonazis holandeses, húngaros e de países do Báltico. 

Elas foram as grandes vencedoras desta crise, pelo que alento e apoio não lhes falta. E o seu hipotético êxito inflamará os renovados nacionalismos do Centro e Leste da Europa, que ardem já em fogo nada brando.

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