Eduardo Oliveira
Silva – jornal i, opinião
O tempo de fazer
alguma coisa passou e a hora é de campanhas eleitorais
Durante mais ou
menos o tempo de uma gestação humana ouvimos falar semanalmente do guião da
reforma do Estado, até que vai para quatro meses Paulo Portas apresentou um
pálido documento que mais não era que um remake de outros em que
atabalhoadamente se falava de umas coisas sem grande consistência.
Desde então, e fora
umas tiradas pontuais, não aconteceu rigorosamente nada, apesar de estarmos na
fase de discussão pública do documento-base que o vice-primeiro-ministro
apresentou, em nome do governo e não pessoalmente, sendo até de recordar que
durante um tempo só o primeiro-ministro o conheceu e para ele contribuiu.
Como demonstrou um
trabalho publicado recentemente neste jornal, basicamente a única coisa que se
sabe é que Portas voltou ao assunto numas tiradas produzidas em terras de
“nuestros hermanos”, depois de ter sido apresentado como “o vice-presidente de
Portugal Pedro Passos Coelho” e antes de acusar os socialistas de terem gasto o
que não havia para agora a direita ter de reconstruir a economia.
Tirando isso, “no
passa nada” em termos de reformas, salvo bem ou mal na justiça e na saúde.
Existe também, é certo, a obrigação de convocar o Conselho de Concertação
Social para trocar impressões, recolher opiniões e avançar na citada reforma do
Estado. Mas nem mesmo quanto ao dia a coisa é clara. É até de apostar singelo
contra dobrado que a data proposta para a ronda de negociações não andará muito
longe de qualquer coisa que permita fazer uma flor eleitoral antes das
europeias, a juntar ao foguetório que se fará sobre a forma como sairmos do
programa de ajustamento com a troika.
Estando já
praticamente assegurado que não haverá um programa cautelar em termos
concretos, o que se irá passar deverá ser algo parecido com uma saída à
irlandesa, mas com algumas protecções específicas, que deverão ser definidas
durante o mês de Abril (uma saída à BCE, digamos, ou uma espécie de liberdade
com pulseira electrónica).
Na realidade,
estamos excessivamente próximos de dois períodos eleitorais para se poderem
sequer discutir assuntos como a reforma do Estado, quanto mais proceder no
terreno à sua aplicação. Depois do congresso do PSD deste fim-de-semana, em que
deverá ser revelado o cabeça-de-lista às europeias, faltará o PS indicar o seu.
E a partir daí entraremos verdadeiramente num ciclo eleitoral, em que o combate
político irá em crescendo e ficará totalmente contaminado pela propaganda e
pela demagogia à direita e à esquerda.
É um ciclo que só
termina nas presidenciais, mas que terá o seu epicentro nas legislativas de 2015,
embora as europeias sejam um barómetro fundamental, que poderá provocar enormes
ondas de choque internas ou até tsunamis nos partidos do arco da governação. Em
Portugal não há movimentos populistas à direita, e como a extrema-esquerda está
em cacos, o beneficiário líquido pode ser a CDU, e obviamente a abstenção.
Para os
portugueses, no período que aí vem cada um terá de fazer o seu balanço pessoal
e ponderar o que pretende do ponto de vista colectivo antes de decidir. Uma
coisa é certa, não vai ser fácil.
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