Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião
Desempregados,
reformados grisalhos e agora crianças integram este novo grupo
Embora seja
objectivo que há uma ligeira melhoria em alguns indicadores económicos,
verifica-se que o excesso de austeridade teve efeitos devastadores nas pessoas
em concreto e os métodos para os conseguir deixam muito a desejar.
Como foi lembrado
atempadamente, por cada quatro euros de corte que se fizesse só um tinha efeito
no défice orçamental, ou seja, três iriam degradar as condições de vida.
E assim foi de
facto. Os resultados estão à vista. Chegou- -se a um estado lamentável, que
pode agravar-se em 2014.
Comece-se pelo
desemprego. Aparentemente desceu, mas houve uma perda líquida de 120 mil postos
de trabalho, há cada vez mais gente a emigrar (veja-se a fuga dos enfermeiros,
para lembrar só um caso), cresceu o número de desencorajados que já não
procuram actividade e aumentou o dos que deixaram de receber qualquer apoio
social. Um triste quadro real que está a ser mitigado por arranjos estatísticos.
Além disso, tem ligação a outro elemento altamente preocupante mas pouco
comentado: os indicadores de investimento desceram, o que prenuncia algo de mau
e tende a demonstrar que os esforços de Pires de Lima não estão a render,
apesar de virem de um homem da privada apresentado como modelo de eficácia.
Relativamente aos
reformados já se sabe do que a casa gasta. Foi sobre eles que se abateu o maior
peso dos cortes, depois de uma vida de trabalho e descontos que podem nalguns
casos de classe média e média alta ultrapassar os 50%, entre confisco directo e
aumento de IRS. Falta ainda ver o que lhes vai suceder com as medidas que se
seguem no quadro do Orçamento Rectificativo, que aliás vai ser rectificado.
Tudo isto embrulhado num discurso político agressivo para os mais velhos e
manipulador dos mais novos, que cria uma grave clivagem geracional.
Como se não
bastasse, surgiram agora dados reveladores de que as crianças portuguesas estão
a ver as suas circunstâncias de vida ainda mais agravadas, ficando expostas à
pobreza e pondo em causa direitos defendidos pela convenção mundial que as
protege. A própria ONU censurou Portugal por causa dos cortes nos abonos e na
educação, através do Comité dos Direitos das Crianças, propondo o reforço de
ambas as coisas, ou seja, convidando a uma política inversa à que foi feita.
Na saúde, apesar de
um ministro competente, há factos que apontam para a deterioração de condições
e uma desorganização jamais vista, uma vez que os cortes afectam o
funcionamento e não resultam do combate ao desperdício. As doenças oncológicas,
por via da falta de diagnóstico ou de acesso a certa medicação de último
recurso, as doenças crónicas e raras, a degradação da saúde pulmonar dos mais
velhos e a demora em aprovar medicamentos que quando chegam podem estar
ultrapassados são objecto de tantas notícias que é impossível que um destes
dias não nos confrontemos com a circunstância de que se morre mais cedo que há
cinco ou dez anos.
Estes factos
traduzem uma degradação de fundo da vida de quase todos os cidadãos, mas que
atinge especialmente certos grupos, criando novas categorias de párias que
engrossam as que existiam mesmo quando alguns proclamavam que éramos um país de
sucesso.
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