Eurodeputada
critica Luís Amado e diz que reguladores devem impedir entrada da Guiné
Equatorial no Banif.
A eurodeputada
socialista Ana Gomes disse hoje à Lusa que o Banco de Portugal e a CMVM devem
cumprir "o seu papel" e impedir a entrada de capital da Guiné
Equatorial no Banif e que vai pedir a intervenção da Comissão Europeia.
"Este é mais
um caso em que tenho de intervir no sentido de pedir a intervenção da Comissão
Europeia para não deixar que se concretize uma intervenção num banco que está a
ser resgatado com fundos emprestados no quadro do resgate a Portugal - e que
vão ser pagos pelos contribuintes portugueses - e ainda por cima quando é um
esquema de lavagem de dinheiro de um regime corrupto e criminoso", disse à
Lusa a eurodeputada socialista.
Ana Gomes explicou
que tem tomado várias iniciativas em relação à Guiné Equatorial, mas o caso
Banif "diz directamente respeito a Portugal e ao dinheiro dos
contribuintes portugueses", tendo sublinhado que a Comissão Europeia tem a
obrigação de ser a "guardiã dos tratados" por fazer parte da 'troika'
(Fundo Monetário Internacional; Banco Central Europeu e Comissão Europeia).
Neste sentido,
lamentou que a Comissão Europeia tenha poder para intervir "num caso
concreto como Portugal e exigir reformas ao Estado", mas não tenha
"mexido um dedo" em relação ao acordo entre o Banif e a Guiné
Equatorial.
"Acho
inacreditável que isto possa acontecer e espero que o Banco de Portugal e a
Comissão de Marcado de Valores Mobiliários (CMVM) cumpram o seu papel e não
permitam que isto aconteça porque é extremamente perigoso para o BANIF e, desde
já, alerto os próprios depositantes e accionistas do BANIF como é perigosíssimo
aceitar a entrada de financiamento vindo da Guiné Equatorial, um regime sinistro
que está em todos os índex de regimes ditatoriais e miserável no empobrecimento
da população enquanto a família presidencial enrique cada vez mais",
acrescentou.
Ana Gomes criticou
ainda o papel do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do anterior Governo
socialista, Luís Amado, e que é actualmente administrador do Banif.
"A passagem do
Governo para a administração de um banco - infelizmente esse é um comportamento
demasiado frequente em Portugal - não deixa de ser menos indecoroso por parte
de responsáveis políticos, infelizmente do meu próprio partido, e incomoda-me
ainda mais sendo ele um militante do Partido Socialista e tendo tido
responsabilidades na direcção do PS", disse a eurodeputada.
Banif e Guiné
Equatorial
O Banif revelou na
quarta-feira que estabeleceu um memorando de entendimento com a Guiné
Equatorial visando a colaboração entre as partes no sector bancário e que
poderá levar à entrada de uma empresa daquele país africano no capital do
banco.
"O Banif --
Banco Internacional do Funchal, SA (Banif) informa que celebrou um Memorando de
Entendimento (MdE) não vinculativo com a República da Guiné Equatorial, tendo
em vista iniciativas de colaboração no sector bancário em condições que venham
a ser acordadas entre as partes", lê-se num comunicado enviado à CMVM.
Segundo o
documento, "no âmbito das referidas iniciativas está prevista a possível
tomada de uma participação qualificada no capital social do Banif por empresa
da Guiné Equatorial, se possível, no montante remanescente para a conclusão da
segunda fase do processo de recapitalização do Banif, destinado a investidores
internacionais (de cerca de 133,5 milhões de euros).
Sobre o processo de
entrada da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), Ana Gomes disse que fica chocada mas não surpreendida porque se trata
de uma questão que "já vem de trás" e que é patrocinada por governos
que "não têm escrúpulos" em relação aos interesses económicos, como
por exemplo o Governo angolano e, neste caso, também com o patrocínio do
Governo brasileiro e de empresas brasileiras.
Económico com Lusa
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