Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
Como se tornou
habitual desde que os dois principais partidos instituíram as eleições diretas,
não se vai passar nada no congresso do PSD. O único momento em que se pode
decidir realmente alguma coisa acontece antes, com as eleição dos líderes. Que
passou a fazer-se, de forma ainda mais descarada, através de sindicatos de
voto, que o Estado pagará através de favores e nomeações. Já os congressos,
onde antes podia haver algum debate e alteração de posições, passaram a ser
comícios longo e chatos que a comunicação social só acompanha por hábito.
O Congresso que
hoje começa será especialmente sintomático do grau de degradação do debate
político interno nos dois principais partidos. Nunca um líder partidário
português se afastou de forma tão radical da matriz ideológica original do seu
partido. Nunca houve tantos autarcas a desobedecer às ordens centrais. Poucas
vezes tantos dirigentes históricos desafiaram de forma tão evidente o seu
presidente e o criticaram com tanta violência e acinte. Nunca foi tão difícil
ouvir uma voz credível, dentro do PSD, em defesa de um governo por si liderado.
E, no entanto, Pedro Passos Coelho foi reeleito sem oposição e com 88% dos
votos.
Hoje e neste fim de
semana talvez se venham a ouvir algumas vozes isoladas, de militantes mais ou
menos anónimos, a fazerem algumas críticas. Mas nem uma figura de peso
aparecerá no Coliseu dos Recreios para criticar o líder. Nem uma surgirá em
defesa das posições do PSD tradicional. Nem uma repetirá ali as críticas que
faz na televisão, nas rádios e nos jornais. Não estarão lá Manuela Ferreira
Leite ou Pacheco Pereira.
Para quem, como eu,
tem uma vida de militância partidária e participou em congressos, fosse eleito
por listas maioritárias ou de oposição, com o sentido de dever repetir em
frente aos militantes o que diz publicamente, esta cultura de cobardia é
muitíssimo perturbante. E uma forma muitíssimo mais grave de desrespeito pelo
colectivo partidário do que concorrer em listas independentes contra o seu
próprio partido.
Nos PSD, como no
PS, cada um espera pelo seu momento para governar o partido sem oposição e
considera desprestigiante ir a um congresso para perder. Todos são
"senadores" e todos são demasiado importantes para subirem a um
palanque e não sairem de lá ovacionados. É uma cultura que molda um tipo de
partido que forma um tipo de político que ajuda a construir um tipo de País. Um
país que não compreende o papel fundamental da oposição (sem ser para
abrilhantar pactos de regime) e do confronto entre alternativas. Mas, acima de
tudo, um país que respeita mais o cálculo do sonso do que o risco do corajoso.
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