quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Portugal: STOP THE PRESS. CAVACO CRITICA GOVERNO

 

Ana Sá Lopes – jornal I, opinião
 
O discurso do sucesso é uma inacreditável manipulação do poder
 
Na quarta-feira, o ministro Crato foi recebido no Palácio de Belém. Ontem o Presidente da República fez um violento discurso contra a falta de investimento em ciência. É raro, mas acontece: no mesmo dia em que Pedro Passos Coelho se congratulou (novamente) por graças à troika estarmos a viver "mais de acordo com as nossas possibilidades" (a miséria, o desemprego e os cortes), Cavaco Silva disse que a política centrada em exclusivo na queda a pique dos salários só nos vai conduzir a um buraco cada vez mais fundo e que o investimento em ciência é decisivo para um futuro minimamente aceitável. O discurso chumba, indirectamente, toda a política governamental para a investigação científica, sujeita a grande contestação nas últimas semanas.
 
Na intervenção que fez na reunião da COTEC, o Presidente da República disse expressamente que "a necessidade de estabilização macroeconómica e consolidação orçamental tem feito pesar sobre os nossos países sacrifícios de diversa ordem" e que "em matéria do desempenho na inovação, a convergência que se verificava há mais de uma década foi, segundo os dados da Comissão Europeia, interrompida pela primeira vez em 2012".
 
Por muito apoio contínuo que Cavaco Silva tenha dado a este governo, ontem enviou uma mensagem directa a Crato (e a Passos, evidentemente, que está muito satisfeito com os resultados do "ajustamento"). "Há que evitar o enfraquecimento das políticas de investigação e desenvolvimento, porque tal significaria, a médio prazo, reduzir a eficiência dos sistemas de inovação e alargar o fosso que nos separa dos países mais competitivos da União Europeia".
 
Mais, vindo de onde menos se espera: "Menos investimento em inovação conduziria ao agravamento do défice tecnológico das empresas nas economias do Sul, que se situa em cerca de 20 por cento face à média da União Europeia. Se ambicionamos ser nações inovadoras e se queremos competir com países que têm vindo a intensificar a aposta em áreas tecnológicas de elevado potencial de crescimento, não podemos continuar a reduzir o investimento na produção de conhecimento e desenvolvimento tecnológico."
 
Traduzido por miúdos: até Belém percebe que assim não vamos a lado nenhum. A implosão do país em curso não está a servir para nada: o caminho da queda a pique dos salários aumentou a dívida, que continua com juros insustentáveis. O discurso do sucesso é uma inacreditável manipulação do poder.
 

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