O Dubai funcionou
nos anos 1990 como um centro de “branqueamento” da origem dos diamantes
angolanos, que pagaram o esforço de guerra que derrotou a UNITA, segundo
investigação publicada no jornalistas Khadija Sharife e John Grobler afirmam
que no processo colaboraram o presidente e membros da elite angolana, que
lucraram muitos milhões de dólares, tal como os negociantes de armas.
A investigação de
Sharife e Grobler baseia-se em grande parte em dados recolhidos pelas
autoridades europeias e norte-americanas, e algumas denúncias junto destas. O
foco foi a comercializadora de diamantes Omega Diamonds, baseada na Bélgica,
multada em quase 200 milhões pela União Europeia em 2013.
Cerca de 3,5 mil
milhões de dólares de lucros do comércio de diamantes “simplesmente
desapareceram” entre 2001 e 2008, segundo os investigadores belgas. Os
jornalistas afirmam que as autoridades do Dubai “deliberadamente fecharam os
olhos a práticas empresariais de evasão fiscal e sub-facturação – preferindo o
termo optimização fiscal”. Mais ainda, a liderança do Dubai Multi-Commodities
Center “parece ter ativamente bloqueado” o trabalho judicial.
Os lucros
resultavam de um esquema simples, mas eficaz: a Omega comprava diamantes por
“pouco ou nenhum dinheiro” em Angola e outros países africanos. Enviava-os para
o Dubai, onde o sigilo legal e financeiro é garantido. Aqui eram misturados com
pedras de outra origem e certificados como sendo de “origem mista”, segundo as
regras do processo de Kimberley, que visava impedir diamantes de países em
conflito de entrar no mercado.
Entrando no
“sistema”, o seu valor multiplicava-se. O destino final das pedras era
Antuérpia, onde eram vendidas. “O dinheiro arrecadado com estas vendas
financiaria as contas bancárias pessoais da Omega e de muitas personagens
corruptas que usavam no seu esquema tri-continental”, refere o artigo no World
Policy Journal.
A “colaboração”
ativa da elite angolana
A ascensão do Dubai
ao grupo das capitais dos diamantes está diretamente relacionado com a guerra
civil angolana. Segundo a investigação, em 1992, quando grande parte do país
estava sob controlo da UNITA, o presidente José Eduardo dos Santos lançou um
esforço de rearmamento.
Recorreu aos
serviços dos mercenários sul-africanos da Executive Outcomes e também a
armamento pesado – helicópteros de ataque e tecnologia de localização. Para
isso, ligou-se a negociantes de armas e diamantes russo-israelitas, como
Sylvain Goldberg, Pierre Falcone, Arkadi Gaydamak e Lev Leviev.
Para um país pobre
como Angola na década de 1990, pagamentos de centenas de milhões de dólares em
divisas seriam difíceis de fazer . Com o dinheiro dos diamantes, tudo era mais
fácil.
Quando as forças do
MPLA expulsam a UNITA da Lunda Norte e seus extensos campos diamantíferos, o
presidente decreta que apenas a ASCORP, subsidiária da Omega em Angola, podia
comprar e exportar diamantes. Aos baixos preços de compra pela Omega, o regime
de Luanda “promoveu ativamente um sistema que roubaria ao próprio país de
milhares de milhões dólares de receitas”, a favor da intermediária, referem.
As exportações
diamantíferas de Angola ascendiam a 100 milhões de dólares por mês, entre 2001
e 2008. David Renous, antigo negociador de diamantes da Omega no Congo, afirmou
às autoridades europeias e norte-americanas que as pedras estavam sub-avaliadas
e que não eram declaradas nem em Angola nem na República Democrática do Congo,
outra origem preferencial.
Segundo Renous, o
esquema tinha a “cooperação de membros chave da elite angolana”, incluindo o
presidente José Eduardo dos Santos. Servia ainda para compensar pelo menos um
dos negociantes de armas, Gaydamak, pelo rearmamento das forças do MPLA entre
1992 e 1998, em violação de sanções da ONU, refere o relatório.
Gaydamak remeteu-se
à posição de “parceiro silencioso no monopólio da Omega com o governo
angolano”. Renous afirma que o sistema permitia ao negociante de armas, através
do comércio de diamantes, “lavar” fora de Angola os seus lucros do tráfico de
armas, enquanto gerava receitas substanciais para as suas subsidiárias.
Ironicamente, o
processo de Kimberley foi criado para impedir que movimentos como a UNITA
financiassem as suas atividades militares através dos diamantes. Mas foram
estas pedras, e nalguns casos os mesmos mercenários e negociantes de armas, que
contornaram o sistema para armar o MPLA e derrotar o movimento oposicionista.
Segundo o trabalho
no World Policy Journal, a “ascensão meteórica” de Isabel dos Santos, filha do
presidente angolano e recentemente considerada a primeira bilionária africana,
está ligada a este sistema. Em particular, a uma empresa sua, TAIS, criada em 1997
na Suíça para comercializar diamantes.
Desde 2011, a Omega
e o regime angolano, incluindo o presidente, militares e elite empresarial,
contornaram potenciais obstáculos operando a partir de outros paraísos fiscais.
Em Genebra conseguiram continuar operações comprando outras empresas como a De
Grisogono, fundada pelo rei dos diamantes negros, Fawaz Gruosi.
Lusomonitor, em
Angola 24 Horas
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