segunda-feira, 3 de março de 2014

Portugal: A MENTIRA DE MACHETE



Henrique Monteiro – Expresso, opinião

A Procuradoria-Geral da República entendeu - por um processo jurídico que não sei comentar com justeza - que o facto de Rui Machete ter escrito ao Parlamento a dizer que nunca fora acionista da SLN (quando na verdade o foi entre 2000 e 2007 - sete anos) não constitui "falsidade de depoimento", que seria punível, mas uma omissão da verdade que não é relevante para o que estava em causa na altura.

Vamos imaginar que uma omissão da verdade não é uma mentira, mesmo quando a omissão da verdade é expressa. Quer dizer, eu posso omitir a verdade não falando de um facto, é a primeira vez que sei que posso omitir a verdade dizendo algo que é objetivamente mentira.

Mas suponhamos - porque a lei o manda - que a PGR tem razão. O facto em si não é punível. Não é punível criminalmente, mas a minha pergunta direta, que eu penso ter de ser a pergunta dos deputados - de todos e não só da oposição - é esta: e politicamente, não é condenável?

A ideia de que um ministro, deputado, líder, dirigente só fica impedido de exercer um cargo se cometer um crime é indigna de uma democracia. Uma mentira é uma mentira, é uma mentira. Não se pode escrever numa carta ao Parlamento, que representa o povo português, que não se foi acionista de algo que se foi acionista, sem que isso tenha consequências políticas. Desde logo, porque com crime ou sem ele, é um enorme desrespeito; depois, porque sem crime ou com ele, é tentar fazer dos outros parvos.

Ora, eu além de episódios como os das desculpas a Angola, declarações toscas sobre a Guiné Equatorial e coisas assim, não quero um ministro que faça de mim parvo. Sinto-me até autorizado a chamar-lhe mentiroso, uma vez que o despacho da Procuradoria confirma que existiu mentira. A política não tem de ser justicializada para ser ética; quer dizer a ética política não se guia pelo que é ou deixa de ser crime, mas por parâmetros estritos de deveres acrescidos por parte de quem tem responsabildadades. É dever de quem defende a democracia e a dignidade que lhe deve está inerente, pôr este homem a andar.

Pô-lo na rua. Acho que não posso ser mais claro!

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