Díli, 04 mar (Lusa)
- O governo timorense afirmou hoje que respeita a decisão do Tribunal
Internacional de Justiça, que impede a Austrália de utilizar documentos
apreendidos em buscas ao escritório do advogado que representa Timor-Leste nas
acusações de alegada espionagem.
"Este primeiro
passo foi extremamente importante e respeitamos e louvamos a decisão do
Tribunal Internacional pelo facto de ter decidido de uma forma que achamos
plenamente justa", afirmou à agência Lusa o chefe da diplomacia timorense,
José Luís Guterres.
"A decisão é
uma decisão que nós saudamos e vem ao encontro de alguns dos pedidos que
fizemos de fazer os possíveis para que a Austrália não tivesse acesso aos
documentos que foram apreendidos", salientou José Luís Guterres.
Segundo o ministro
dos Negócios Estrangeiros timorense, a decisão faz com que a "comunidade
internacional tenha maior confiança nas instituições que protegem o direito
internacional e o direito dos Estados nas suas relações internacionais".
O Tribunal
Internacional de Justiça decidiu segunda-feira impedir a Austrália de utilizar
os documentos apreendidos nas buscas ao escritório do advogado que representa
Timor-Leste nas acusações de alegada espionagem que opõem os dois países.
Na decisão, o TIJ,
o principal órgão judicial das Nações Unidas, decidiu que a Austrália
"deve assegurar que o conteúdo do material apreendido não é, em momento
algum, utilizado por alguma pessoa ou pessoas, até que o caso presente seja
encerrado".
O TIJ exige que a
Austrália mantenha selados os documentos e informação eletrónica e quaisquer
cópias até "futuras decisões do Tribunal".
O tribunal decidiu
também que Camberra não pode "interferir de forma nenhuma nas comunicações
entre Timor-Leste e os seus advogados" relacionadas com a arbitragem pendente
do tratado do mar de Timor, com quaisquer futuras negociações relativas à
delimitação marítima ou com qualquer outro procedimento que envolva os dois
países, incluindo o atual caso presente a tribunal.
O TIJ realizou as
audiências ao caso em janeiro, com Timor-Leste a pedir respeito pela soberania
do país e a restituição dos documentos confidenciais, enquanto a Austrália se
comprometia a não ler ou estudar os materiais apreendidos até à existência de uma
decisão.
Timor-Leste pedia
ainda que o TIJ ordenasse à Austrália a restituição dos documentos apreendidos
e que apresentasse desculpas oficiais e garantias do pagamento das custas
judiciais.
As rusgas ao
escritório e residência do advogado timorense ocorreram após Timor-Leste ter
acusado formalmente, junto do tribunal arbitral de Haia, a Austrália de
espionagem quando estava a ser negociado o Tratado sobre Certos Ajustes
Marítimos no Mar de Timor (CMATS), em 2004.
O processo de
espionagem também está a ser tratado em Haia, mas pelo Tribunal Permanente de
Arbitragem.
Com a arbitragem
internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado anulado, podendo assim
negociar a limitação das fronteiras marítimas e tirar todos os proveitos da
exploração do campo de gás de Greater Sunrise, que vale milhares de milhões de
dólares.
Em comunicado
divulgado à imprensa australiana, o procurador-geral australiano, senador
George Brandis, afirmou que a deliberação do Tribunal Internacional de Justiça
vai ser cumprida e que o governo australiano ficou satisfeito com a decisão.
MSE (JH) // SO - Lusa
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