quarta-feira, 16 de abril de 2014

A DETERMINAÇÃO DA ARGÉLIA



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

Com enormes manifestações populares de júbilo e um elevado sentimento de patriotismo, milhares de argelinos festejaram nas ruas o seu contentamento pelo facto do Presidente Abdelaziz Bouteflika ter recuado na sua decisão de não se candidatar a um novo mandato de cinco anos à frente dos destinos daquele país do Norte de África.

Desgastado por uma saúde cada vez mais debilitada, Bouteflika havia dito que não se candidataria a um novo mandato, anunciando, ao mesmo tempo, a retirada da vida política activa, como forma de poder descansar e recuperar de problemas cardíacos.

Porém, a vontade popular do povo argelino, que foi recusando de forma sistemática todos aqueles que se iram perfilando para suceder ao Presidente Bouteflika, falou mais alto e, em finais de Fevereiro deste ano, ele anunciou que aceita liderar um novo processo de candidatura se for apoiado por todas as forças políticas.

Este anúncio foi prontamente ampliado na comunicação social e, a partir de então, sucederam-se as manifestações de apoio por parte das forças políticas activas no país. Da parte da comunidade ocidental, sobretudo de França, que tem uma forte influência na Argélia, a reacção foi de um completo silêncio, que está a ser interpretado como uma aceitação tácita daquilo que está a ser entendido como uma “inevitabilidade democrática” resultante da vontade do povo.

Desde que chegou ao poder que a grande prioridade de Abdelaziz Bouteflika foi o combate ao terrorismo e acabar com a nostalgia reinante nos tempos que se seguiram à proclamação da independência.

Aproveitando o facto de ter desempenhado as funções de ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1963 e 1979, Bouteflika capitalizou todos os contactos internacionais estabelecidos nessa altura para congregar uma série de apoios internacionais, que se revelaram fundamentais para depois ter êxito na luta contra o islamismo na sua forma mais radical.

Tendo atrás da sua a poderosa máquina politica da Frente Nacional de Libertação (FLN), que liderou a luta que conduziu à independência do poder colonial da França, Bouteflika foi conseguindo um crescente apoio popular, que se traduziu em triunfos esmagadores de 85 e 90 por cento nas eleições de 2004 e 2009, respectivamente.

Esse nível de popularidade foi aumentando, de tal forma que, para as eleições deste ano, para as quais foi pressionado a concorrer, espera-se uma ainda mais dilatada expressão de triunfo, o que acabará por ser um prémio para um homem que dedicou a sua vida inteira à causa do seu país e que vê agora o próprio povo elegê-lo como único político que aceita ver à frente dos seus destinos. O Ocidente, sempre muito apressado em criticar opções tomadas nas democracias africanas, desta vez cobriu com o manto diáfano do silêncio uma decisão que acaba, também, por servir os seus próprios interesses, uma vez que Bouteflika tem sido, ao nível dos líderes do Norte de Africa, um verdadeiro líder na luta contra o terrorismo e por um relacionamento intercontinental assente no respeito mútuo pelas respectivas soberanias, sejam elas políticas ou económicas.

Ainda não passou muito tempo desde que o exército argelino repeliu, de forma precisa e bastante expressiva, um ataque terrorista contra um campo petrolífero que causou dezenas de vítimas mortais, entre as quais muitos trabalhadores expatriados. Quando se temia que, em virtude disso, os governos dos países desses cidadãos reagissem contra a forma de intervenção das forças armadas argelinas, mais uma vez o silêncio foi a forma encontrada para reconhecer todo o esforço que o Presidente Abdelaziz Bouteflika tem vindo a fazer para livrar a Argélia dos perigos resultantes do radicalismo islâmico na sua forma mais violenta.

A reeleição do Presidente argelino representa, pois, para o mundo ocidental, a garantia de ter neste país uma frente firme, forte e determinada na luta contra aquele que é um dos grandes flagelos dos tempos que correm.

É também a certeza de que o relacionamento económico com este importante produtor de petróleo e gás continua a ser pautado pela reciprocidade de interesses, em contraste com o perigo resultante de poderes mantidos de forma instável e à custa da aplicação de medidas draconianas contra as populações, como sucede noutros países.

A determinação com que o povo argelino pressionou o seu Presidente da República para um novo mandato revela também o seu elevado sentido político, o que reforça o lugar que a Argélia sempre teve na liderança da luta pela emancipação dos povos africanos, sendo conhecido e elogiado o apoio que o país prestou aos principais movimentos de libertação do continente africano na sua luta pelas respectivas independências.

Este reconhecimento coloca ainda hoje a Argélia num lugar muito especial no coração dos povos africanos e contribuiu, igualmente, para a forma altamente respeitada como é encarada no contexto dos outros continentes.

O exemplo do que está a acontecer na Argélia, com a garantida reeleição do Presidente Abdelaziz Bouteflika, deve merecer a atenção de outros países africanos que, infelizmente, ainda se deixam influenciar pelas pressões internacionais injustas e ilegítimas, quando se trata de definir as suas próprias lideranças, obedecendo a ditames que nada têm a ver com os seus reais interesses, e que são, muitas das vezes, geradores de profundas e prolongadas crises.

As lideranças, tanto em África como noutros continentes, são assuntos de tanta importância que devem ser exclusivamente tratadas pelos próprios países interessados sem a obrigação, mais ou menos compulsiva, de respeitar leis que na sua maioria foram importadas e são castradoras da defesa das suas próprias soberanias.

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