Roger Godwin –
Jornal de Angola, opinião
Com enormes
manifestações populares de júbilo e um elevado sentimento de patriotismo,
milhares de argelinos festejaram nas ruas o seu contentamento pelo facto do
Presidente Abdelaziz Bouteflika ter recuado na sua decisão de não se candidatar
a um novo mandato de cinco anos à frente dos destinos daquele país do Norte de
África.
Desgastado por uma
saúde cada vez mais debilitada, Bouteflika havia dito que não se candidataria a
um novo mandato, anunciando, ao mesmo tempo, a retirada da vida política
activa, como forma de poder descansar e recuperar de problemas cardíacos.
Porém, a vontade popular do povo argelino, que foi recusando de forma
sistemática todos aqueles que se iram perfilando para suceder ao Presidente
Bouteflika, falou mais alto e, em finais de Fevereiro deste ano, ele anunciou
que aceita liderar um novo processo de candidatura se for apoiado por todas as
forças políticas.
Este anúncio foi prontamente ampliado na comunicação social e, a partir de
então, sucederam-se as manifestações de apoio por parte das forças políticas
activas no país. Da parte da comunidade ocidental, sobretudo de França, que tem
uma forte influência na Argélia, a reacção foi de um completo silêncio, que
está a ser interpretado como uma aceitação tácita daquilo que está a ser
entendido como uma “inevitabilidade democrática” resultante da vontade do povo.
Desde que chegou ao poder que a grande prioridade de Abdelaziz Bouteflika foi o
combate ao terrorismo e acabar com a nostalgia reinante nos tempos que se
seguiram à proclamação da independência.
Aproveitando o facto de ter desempenhado as funções de ministro dos Negócios
Estrangeiros entre 1963 e 1979, Bouteflika capitalizou todos os contactos
internacionais estabelecidos nessa altura para congregar uma série de apoios
internacionais, que se revelaram fundamentais para depois ter êxito na luta
contra o islamismo na sua forma mais radical.
Tendo atrás da sua a poderosa máquina politica da Frente Nacional de Libertação
(FLN), que liderou a luta que conduziu à independência do poder colonial da
França, Bouteflika foi conseguindo um crescente apoio popular, que se traduziu
em triunfos esmagadores de 85 e 90 por cento nas eleições de 2004 e 2009,
respectivamente.
Esse nível de popularidade foi aumentando, de tal forma que, para as eleições
deste ano, para as quais foi pressionado a concorrer, espera-se uma ainda mais
dilatada expressão de triunfo, o que acabará por ser um prémio para um homem
que dedicou a sua vida inteira à causa do seu país e que vê agora o próprio
povo elegê-lo como único político que aceita ver à frente dos seus destinos. O
Ocidente, sempre muito apressado em criticar opções tomadas nas democracias
africanas, desta vez cobriu com o manto diáfano do silêncio uma decisão que
acaba, também, por servir os seus próprios interesses, uma vez que Bouteflika
tem sido, ao nível dos líderes do Norte de Africa, um verdadeiro líder na luta
contra o terrorismo e por um relacionamento intercontinental assente no
respeito mútuo pelas respectivas soberanias, sejam elas políticas ou
económicas.
Ainda não passou muito tempo desde que o exército argelino repeliu, de forma
precisa e bastante expressiva, um ataque terrorista contra um campo petrolífero
que causou dezenas de vítimas mortais, entre as quais muitos trabalhadores
expatriados. Quando se temia que, em virtude disso, os governos dos países
desses cidadãos reagissem contra a forma de intervenção das forças armadas
argelinas, mais uma vez o silêncio foi a forma encontrada para reconhecer todo
o esforço que o Presidente Abdelaziz Bouteflika tem vindo a fazer para livrar a
Argélia dos perigos resultantes do radicalismo islâmico na sua forma mais
violenta.
A reeleição do Presidente argelino representa, pois, para o mundo ocidental, a
garantia de ter neste país uma frente firme, forte e determinada na luta contra
aquele que é um dos grandes flagelos dos tempos que correm.
É também a certeza de que o relacionamento económico com este importante
produtor de petróleo e gás continua a ser pautado pela reciprocidade de
interesses, em contraste com o perigo resultante de poderes mantidos de forma
instável e à custa da aplicação de medidas draconianas contra as populações,
como sucede noutros países.
A determinação com que o povo argelino pressionou o seu Presidente da República
para um novo mandato revela também o seu elevado sentido político, o que
reforça o lugar que a Argélia sempre teve na liderança da luta pela emancipação
dos povos africanos, sendo conhecido e elogiado o apoio que o país prestou aos
principais movimentos de libertação do continente africano na sua luta pelas
respectivas independências.
Este reconhecimento coloca ainda hoje a Argélia num lugar muito especial no
coração dos povos africanos e contribuiu, igualmente, para a forma altamente
respeitada como é encarada no contexto dos outros continentes.
O exemplo do que está a acontecer na Argélia, com a garantida reeleição do
Presidente Abdelaziz Bouteflika, deve merecer a atenção de outros países
africanos que, infelizmente, ainda se deixam influenciar pelas pressões
internacionais injustas e ilegítimas, quando se trata de definir as suas
próprias lideranças, obedecendo a ditames que nada têm a ver com os seus reais
interesses, e que são, muitas das vezes, geradores de profundas e prolongadas
crises.
As lideranças, tanto em África como noutros continentes, são assuntos de tanta
importância que devem ser exclusivamente tratadas pelos próprios países
interessados sem a obrigação, mais ou menos compulsiva, de respeitar leis que
na sua maioria foram importadas e são castradoras da defesa das suas próprias
soberanias.
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