Luís Fonseca (texto
e vídeo) e Tiago Petinga (foto)
Buruntuma,
Guiné-Bissau, 08 abr (Lusa) - Bidões de água com lixívia e muita
"sorte" separam a Guiné-Bissau do vírus Ébola, afirmou à agência Lusa
a enfermeira Egídia Almeida na fronteira leste com a Guiné-Conacri, onde todos
estão assustados com a ameaça.
Quem chega do país
vizinho tem que passar pelos bidões para "lavar as mãos e o rosto",
uma medida que a própria enfermeira reconhece como insuficiente e cuja
obrigatoriedade depende da boa vontade e disponibilidade dos guardas
fronteiriços para vigiarem a passagem a toda a hora.
Desta forma, manter
o território lusófono sem Ébola "é uma questão de sorte", diz Egídia.
"A fronteira com a Guiné-Conacri devia ser fechada" tal como já fez o
vizinho Senegal, refere a enfermeira colocada na localidade de Buruntuma.
De acordo com dados
dos serviços de alfândegas, Buruntuma é uma das entradas mais movimentadas ao
longo da fronteira leste/sul com ligação à capital Conacri (onde já foi
detetado o vírus) a cerca de 500 quilómetros de distância.
Quem vigia a
entrada na Guiné-Bissau está instruído para levar até ao centro de saúde de
Buruntuma os casos de febre ou indisposição, caso os identifique, mas nada
disto chega, reafirma Egídia, que conta apenas com a ajuda de mais um colega.
Queixa-se de não
terem recebido preparação adicional, nem luvas, nem máscaras - é a terra do
"nem, nem", porque também nem têm ambulância, nem há estradas, nem
veem televisão e só ouvem rádio a muito custo.
A missão de prevenir
uma doença é ainda mais complicada aos fins de semana com os mercados raianos
(chamados "lumo") que não dão sinais de abrandar: dezenas de pessoas
passam "de um lado para o outro", descreve Malam Camará, um dos
responsáveis pela Alfândega de Buruntuma.
Tcherno Embaló,
guarda-fiscal, foi parar a Buruntuma há poucos dias e não esperava ter que
enfrentar um novo inimigo.
"É uma coisa
de que só ouvíamos falar na rádio e que agora parece estar perto. Estou muito
preocupado porque trabalho aqui e não posso fugir".
Desde que o Senegal
fechou a fronteira foi registado "um aumento de movimento", explica
Saído Djaló, chefe do posto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras da
Guiné-Bissau em Buruntuma.
Nos dias mais
agitados, o número de pessoas registadas no posto quase que duplicou e
"chega agora às 150", refere.
A tarefa de
proteção contra o surto torna-se ainda mais difícil devido à falta de
vigilância da linha de fronteira, ao longo da qual existem "muitos
caminhos clandestinos".
Para cobrir tudo
"precisamos de mais meios e recursos humanos", desabafa Saído Djaló.
Na segunda-feira o
Governo da Guiné-Conacri elevou para 95 o número de mortes causadas pelo surto
de Ébola que está a atingir as florestas do sul do país e a capital.
O representante das
Nações Unidas em Bissau, José Ramos-Horta, aconselhou na última semana as
autoridades a encerrarem as fronteiras, mas o governo de transição optou por
mantê-las abertas e o ministro da Saúde anunciou um reforço de pessoal para
fazer triagem nas fronteiras.
Apesar das
tentativas, a agência Lusa não conseguiu obter esclarecimentos junto da
delegação da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Bissau.
APN - Lusa
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