segunda-feira, 14 de abril de 2014

Portugal: A TRISTE FIGURA DOS POLÍTICOS DE HOJE



Eduardo Oliveira Silva – jornal i, opinião

Não pode ser forte uma democracia cujos políticos são considerados piores que os da ditadura

Um secretário de Estado faz à socapa afirmações sobre o corte permanente de pensões, que mais tarde são desmentidas por um primeiro- -ministro. Dias depois vem a confirmar-se através de Bruxelas que o secretário de Estado estava certo. É certamente pelo somatório de situações como esta que os portugueses consideram melhores os políticos "do antigamente".

Quando há uns anos Salazar apareceu num concurso da RTP como o português mais importante, percebeu-se que essa votação tinha sido o resultado de uma espécie de movimento de contestação nacional à moda anarquista, ao qual só o PCP reagiu promovendo uma contra-ofensiva que pôs Cunhal no segundo lugar.

Os resultados da sondagem que a Pitagórica fez para o i com um rigor técnico que não se questiona são porém mais graves. Revelam que 46,5% dos portugueses consideram que os políticos da ditadura eram mais honestos que os actuais, enquanto só 17,7% pensam o contrário. E como se não bastasse, 43,2% acham, ainda por cima, que os políticos de antes do 25 de Abril eram mais bem preparados.

Estes resultados indicam também que 36,9% dos inquiridos ainda pensam que não há em Portugal liberdade para dizer o que se pensa politicamente sem sofrer consequências.

São dados eloquentes, tristes e lamentáveis, mas que em bom rigor não surpreendem. Ao longo das quatro décadas de democracia que vivemos desde o 25 de Abril, a verdade é que a classe política deu múltiplos e sucessivos exemplos negativos que explicam resultados desta natureza.

Para não falar da corrupção e da promiscuidade entre o poder político e os negócios, que também existiu antes da democracia, há agora a juntar a forma espalhafatosa como alguns enriqueceram e a circunstância de os políticos se fazerem eleger com um programa fazendo a seguir exactamente o contrário com o maior dos desplantes.

De forma lamentável, joga-se com as palavras para iludir e distorcer a realidade, utilizando técnicas de manipulação mediática para testar ideias e cenários e ver como é que a opinião pública reage.

Cria-se assim um clima de insegurança económica e de medo social que evidentemente deixa de rastos a classe política actual contra o pano de fundo da estabilidade fictícia com que as coisas eram apresentadas há 40 anos.

O que está em causa não é propriamente o governo actual, porque os anteriores tiveram procedimentos exactamente iguais e nenhum esteve a salvo de situações mais ou menos escandalosas no campo económico.

Em boa parte, a imagem negativa da classe política resulta do escrutínio a que está sujeita pelos media, o que não acontecia na ditadura. Apesar disso, estes dados justificam uma reflexão séria. Impõem mesmo uma revisão de certo tipo de comportamentos e a renúncia à utilização sistemática de discursos enganadores, a fim de evitar que se faça da República de hoje uma avaliação tão negativa como a que permitiu a queda da primeira, às mãos do Estado Novo de Salazar. É certo que os tempos são outros, mas que mudam depressa também é uma verdade, como se viu com a queda do comunismo e com a Ucrânia.

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